Mostra 'Coleção Itaú de Fotografia Brasileira' será aberta nesta sexta-feira, no Palácio das Artes

Exposição mescla pioneiros da fotografia experimental com trabalhos de novos artistas

por Walter Sebastião 20/06/2013 06:00

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João Castilho/Divulgação
Fotografia de João Castilho da série 'Redemunho', de 2006 (foto: João Castilho/Divulgação)
Coleções dedicadas à arte brasileira começam a incorporar a fotografia. Um exemplo poderá ser visto a partir desta sexta-feira, às 21h, no Palácio das Artes, com a mostra 'Coleção Itaú de Fotografia Brasileira'. Apresenta cerca de 90 obras de coleção com 350 imagens de acervo, que, somando as várias linguagens, tem 12 mil peças. Processo, conta Eder Chiodetto, curador da exposição, que não é só brasileiro, já que importantes instituições europeias, como a Tate Modern, em Londres, vêm destacando curadores específicos de fotografia. “Hoje, é impossível falar de arte sem passar pela fotografia”, afirma Chiodetto.

A exposição no Palácio das Artes é dedicada à fotografia experimental moderna e contemporânea. De um lado, trabalhos de autores ligados a fotoclubes, que existiram entre 1947 e 1960, organizados para discutir a arte da fotografia. De outro, criações de novos e novíssimos, que se afirmaram a partir da metade dos anos 1980, que retomaram e extrapolaram as experiência expressivas dos pioneiros. “Embaralho duas gerações para mostrar grande liberdade diante do código fotográfico, herança conceitual e formal que os contemporâneos ganharam dos modernos brasileiros”, conta o curador.

Cris Bierrenbach/Divulgação
'Cilios', imagem de Cris Bierrenbach, 2011 (foto: Cris Bierrenbach/Divulgação)
Comum às duas gerações, aponta Eder Chiodetto, é “espírito livre”, experimentação de suportes e técnicas “sem pudor de alterar a foto até conseguir que ela se tornasse expressão do que o artista quer”. A herança dos modernos, avisa, não é só formal. “O olhar sobre a paisagem urbana e a arquitetura e o interesse pela discussão sobre identidade e subjetividade, estão tanto em modernos como em contemporâneos. É observar, tentando compreender, o fora e o dentro, a paisagem e o ser humano que vive nela”, analisa. A mistura radical de obras de duas gerações tem objetivo: ruptura com a linearidade. “Gostaria de pensar a história mais com elipses do que com linhas retas”, sugere o curador.

 

Cao Guimarães/Divulgação
'Gambiarras 13', trabalho de Cao Guimarães, 2005 (foto: Cao Guimarães/Divulgação)
A mostra da Coleção Itau estreou em janeiro de 2012 na Maison Europeénne de la Photographie, em Paris. Esteve no Paço Imperial (RJ), no Instituto Tomie Ohtake (SP) antes de chegar a Belo Horizonte. Vai ser apresentada em outubro em Belém e Fortaleza. Eder Chiodetto é professor, jornalista, fotógrafo, professor curador independente e crítico de fotografia. Coordena a coleção Foto Portátil (Cosac Naify). É o curador do Clube de Colecionadores de Fotografia do MAM-SP. Promete para 2013 três livros: um sobre curadoria e fotografia; outro sobre o fotógrafo Germano Lorca; e um sobre a “geração 00”, voltado para a nova fotografia brasileira, volume decorrente de exposição sobre a fotografia na primeira década do século 21.

Coleção Itaú de Fotografia Brasileira
Nesta sexta-feira, às 19h, para convidados. Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Terça a sábado, das 9h30 às 21h; domingo, das 16 às 21h. Entrada franca.


Acervo Geraldo Barros
Autorretrato do fotógrafo Geraldo Barros (foto: Acervo Geraldo Barros)
Por um outro olhar


“Geraldo Barros é o número zero, um e dois da fotografia experimental brasileira”, brinca Eder Chiodetto. Ele se refere ao fotógrafo paulista que morreu em 1988, aos 65 anos. E que, desde então vem, cada vez mais sendo reverenciado. O artista, ao longo da vida, desenvolveu extensa e intensa pesquisa (superposições, colagens, abstrações e grafismos) estética a partir dos meios fotográficos. Está na mostra do Palácio das Artes, por exemplo, três 'Fotoformas' (uma delas tendo com tema a Pampulha), realizadas entre 1950 e 1951 – a palavra foi, ainda, título da primeira exposição do artista no Museu de Arte Moderna, de São Paulo.

Os trabalhos de Geraldo Barros têm como marca o diálogo com as novas estéticas da época, entre elas o nascente concretismo. Movimento cuja seção brasileira – como o grupo Ruptura, de 1952 – teve o fotógrafo entre os fundadores. Geraldo Barros participou da 1ª, 2ª, 9ª, 15ª e 21ª edições da Bienal Internacional de São Paulo, além da Bienal de Veneza, em 1986. A mostra retrospectiva 'Sobras e fotoformas' foi apresentada em 1999 no Ludwig Museum, Colônia (Alemanha), uma das mais importantes coleções de arte contemporânea do mundo.

Três perguntas para...
Eder Chiodetto, curador

O que você admira na obra de Geraldo Barros?
Meu respeito pela obra de Geraldo Barros só tem crescido. Admiro a capacidade de levar o tema da fotografia ao limite da abstração, mantendo apenas a estrutura. O resultado é grande vertigem da foto poética.

Qual é a maior qualidade da fotografia contemporânea brasileira?
Como a produção surge com a redemocratização e pega o período pós-ditadura militar, não tem necessidade de discutir quem somos, a identidade nacional, como ocorria anteriormente. E isso permite grande universalidade de temas e abordagens. Hoje, o Brasil faz fotografia que está par a par com o melhor feito no mundo. Não por acaso, a Coleção Itaú, que está em expansão, começou itinerância em Paris.

Como você vê a fotografia contemporânea feita em Minas Gerais?
A exposição que estamos apresentando tem muitos mineiros: Cao Guimarães, Eustáquio Neves, Paulo Nazareth, Pedro Motta, Rosangella Rennó e João Castilho. Acompanho o trabalho de Pedro David, Rodrigo Zeferino e Rodrigo Albert, entre outros. São todos nomes de primeira linha. O que observo é que, além do talento, eles têm formação sólida na universidade, encontraram um núcleo bom de professores e cursos, o que faz a diferença.

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