

Um ano depois, após julgamento em que foi alegado que o trio havia praticado ritual satânico, eles foram condenados. Somente Echols foi condenado à morte. Em agosto de 2011, sem nunca terem sido ouvidos pelo Estado, foram soltos (Echols se tornou o primeiro homem a deixar o corredor da morte no Arkansas). O caso acabou sendo revisto graças à extrema pressão da opinião pública. O caso de West Memphis teve como porta-vozes nomes como o do ator Johnny Depp, o músico Eddie Vedder e o cineasta Peter Jackson.
Eles só tomaram conhecimento dos abusos sofridos por Echols e seus companheiros graças a um documentário. Executiva da HBO, Sheila Nevins, ao saber do julgamento mais longo da história do sistema penal do estado sulista, resolveu fazer um filme sobre o ocorrido. Chegando ao local, sua equipe deparou-se com indícios de que havia muita coisa errada na história. Dessa maneira, surgiu Paradise lost, dirigido por Joe Berlinger e Bruce Sinofsky. Não um, mas três documentários (lançados em 1996, 2000 e 2011, este último indicado ao Oscar e ao Emmy).

A verdade é que o pesadelo de Echols não começou na prisão. Vindo de um ambiente miserável (sim, miserável, mesmo sendo nos EUA, é tão miserável quanto em qualquer outro lugar do mundo), sofreu com família disfuncional (sua única irmã era abusada constantemente pelo padrasto, um fanático religioso, casado com uma mãe ausente e imprestável), viveu de maneira sórdida (barracos fétidos empestados de ratos e baratas), passou fome e um monte de etcéteras, todos negativos.
Daí para a acusação injusta e os anos de privação de liberdade convivendo com os piores tipos possíveis (durante o período em que esteve preso, houve quase três dezenas de execuções) foi um pulo. A narrativa é cronológica, porém entremeada por flashbacks. Em meio à descrição de seus primeiros companheiros de cela, por exemplo, Nichols fala de seu interesse pelo budismo, e de como a prática obsessiva de meditação se tornou companheira nos tempos de privação.
Há algum respiro na narrativa, como nos escritos sobre a vida comum de um adolescente que descobre a música e o sexo, até o relacionamento com sua mulher (uma arquiteta de Nova York que começou a se corresponder com ele, ainda nos anos 1990). Afora tudo isso, ainda há o lado denúncia do livro, em que o autor expõe todas as irregularidades do sistema judiciário. Em Vida após a morte Nichols consegue emocionar – indignação ou choque são os sentimentos mais comuns que ele desperta. Mas pena, definitivamente, não. Não há como não admirar um homem que conseguiu voltar do mundo dos mortos.