

Historiadora com mais de 30 livros publicados, entre eles 'A carne e o sangue e História das mulheres do Brasil', em seu novo trabalho, Mary del Priore, além de abordar as questões políticas, mostra também como era o dia a dia do casal, no então provinciano Rio de Janeiro do século 19. “Foi um casamento aparentemente feliz. O conde e a princesa se adoravam e levavam uma vida burguesa, a ponto de Gastão confessar que, a cada dia, agradecia a Deus por tudo o que havia encontrado no seu casamento”, conta Mary.
A jovem Isabel, por sua vez, também se derretia de amores pelo príncipe. Chamava-o de “meu querido, meu bem-amado, meu amigo, meu tudo”. Bordava pantufas para ele, mandava bilhetinhos apaixonados, num romantismo sem limites, bem ao estilo da época. Mary del Priore, numa linguagem das mais saborosas, conta também que, quando dom Pedro II, em fevereiro de 1869, resolveu enviar o genro para o campo de batalha no Paraguai, em substituição ao duque de Caxias, que havia deixado o comando das tropas, o mundo pareceu cair para Isabel. Acusou o pai de querer matar o marido, pois Gastão estava debilitado e o médico recomendara que ele não pegasse chuva nem sereno. “Ela não queria seu bem-amado fazendo papel de capitão do mato, caçando López. E, ameaçava, iria segui-lo até o inferno”, diz a historiadora.
Embora tenha voltado vitorioso do Paraguai e sido recebido em triunfo no Rio de Janeiro, a relação entre o conde d’Eu e o sogro não era das melhores. O imperador não deixava que o genro e a princesa participassem de questões políticas e os mantinha a distância das decisões ministeriais. Várias cartas de Gastão ao seu pai, conde de Namours, revelam o mutismo e o total alheamento em que Pedro II os deixava. Era constrangedor. “ Isabel chegou a esfriar as relações com o pai depois da morte de sua primeira filha, Luíza Vitória. Ela queria fazer o parto na Europa, onde o casal se encontrava, e dom Pedro II os obrigou a voltar ao Brasil. Um parto malfeito fez perder a filha”, diz Mary.

A monarquia, aos poucos, começa a desmoronar. Foi nesse ambiente que a princesa Isabel (seus pais estavam de viagem para a Europa) assinou a Lei Aúrea, em 13 de maio de 1888, acabando com a escravidão no Brasil, pelo menos oficialmente. Consta que, ao perguntar ao barão de Cotegipe o que ele teria achado do gesto, ele teria respondido: “Redimiste, sim, alteza, uma raça; mas perdeste vosso trono”. E estava certo, pois no ano seguinte, em 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República.
Em seguida, a família imperial teve de deixar o Brasil e foi para a França, onde Isabel e o amado conde d’Eu viveram até o fim de suas vidas. Isabel, que passaria a assinar simplesmente condessa d’Eu, morreu em 14 de novembro de 1921, e o seu amado no ano seguinte, em 28 de agosto, ano do centenário da Independência. Em abril de 1971, com toda as honras, os restos mortais do casal foram trasladados para o Brasil.
O CASTELO DE PAPEL
Lançamento do livro de Mary del Priore, com bate-papo com a autora, nesta terça-feira, às 20h, no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, Avenida Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras, dentro do projeto Sempre um Papo. Informações: (31) 3261-1501.