Não fosse o desprendimento do escritor mineiro Carlos Herculano Lopes, de 56 anos, certamente o livro 'O estilingue – Histórias de um menino' (Editora UFMG) não estaria sendo lançado nesta terça-feira, às 20h, na Casa dos Contos, em Belo Horizonte. Provavelmente, demoraria um bom tempo para ser “descoberto”. Tudo começou quando, numa conversa com Wander Melo Miranda, na época diretor do acervo dos escritores mineiros da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Herculano decidiu doar todo o seu material literário para a universidade, cerca de 4 mil obras. Rico acervo acumulado ao longo de 30 anos de trabalho em redações de jornais, publicações tanto da literatura mineira como brasileira.
“Num primeiro momento, doei obras para a Coleção Mineiriana da Biblioteca Pública Luiz de Bessa, cerca de 1,7 mil livros. Há dois anos, conversando com Wander Melo, tivemos a ideia de que eu entregaria o grosso do meu acervo à UFMG. São livros e fotografias, além de correspondências trocadas com autores como Carlos Drumond de Andrade, Jorge Amado, Inácio de Loyola Brandão, Antônio Torres e até uma carta do argentino Ernesto Sábato. E ainda algumas muito afetivas que troquei com meu pai e minha mãe no início dos anos 1970, quando me mudei de Coluna, no Vale do Rio Doce, para Belo Horizonte”.
Sem qualquer arrependimento, Herculano constata: “Foi a melhor coisa que fiz, porque todo o cuidado que está sendo dispensado ao material, eu não poderia ter.” O único impasse que surgiu, ele conta, “foi quando percebemos que todo o acervo reunia apenas autores mortos.” Todos, diga-se de passagem, amigos dele. Gente como Murilo Rubião, Oswaldo França Júnior, Wander Piroli, Fernando Sabino, José Maria Cançado e Lúcia Machado de Almeida. “Assim, já fico com o pé lá dentro e não corro o risco de me sentir estranho (risos)”.
O achado
Na mesma conversa, Wander Melo perguntou a Herculano se ele tinha algum material antigo de sua autoria que não havia sido publicado. O escritor lembrou-se de textos que escreveu dos 11 aos 14 anos, alguns datilografados (a mãe o incentivou a fazer curso de datilografia bem jovem), outros manuscritos. Mas pensou que os tivesse perdido, até que foi surpreendido por uma pasta amarela, “bem comida pelo tempo, com originais intactos, 40 anos depois”. E, confessa: “Há muito tempo não chorava. Quando encontrei 'O estilingue'..., chorei”. Ele copiou tudo, seguiu a sequência e editou com “a maior originalidade possível”. Teve a boa ideia de convidar Marcelo Lelis para fazer as ilustrações. “Deu tudo muito certo, pois Lelis me disse que teve infância parecida, em Montes Claros, no Norte de Minas.” O autor confessa que não se lembrava da maior parte das histórias; assim, o livro o ajudou a reviver suas memórias.
Para o leitor, o resultado não poderia ser melhor. O texto leve e fluente nos leva de volta ao tempo em que as brincadeiras inocentes exigiam muito da imaginação das crianças, como a do dia em que ele e a irmãzinha Denise “viajaram” para Diamantina a bordo de uma máquina de costura Singer. A poesia já se revelava na escrita do menino, que registrava tudo o que vivia com espontaneidade e vivacidade, mostrando desde cedo sua veia de escritor. As ilustrações de Marcelo Lelis são complemento indispensável para a obra, que tem o poder de levar o leitor, depois de conhecer a infância de Herculano, a buscar memórias de sua própria infância.
TRECHO
“Denise viajava realmente, na inocência de seus quatro anos./ E estava fazendo um passeio maravilhoso./ Eu também me deixava levar por aquele sonho gostoso./ A velha Singer corria com nunca, e eu passava todas as marchas, como se guiasse um carro de verdade./ Seguia a mesma rota do papai nos seus tempos de garoto, quando ia com vovô, só que montado a cavalo e não de carro como nós...”
O estilingue, histórias de um menino
Lançamento, nesta terça-feira, às 20h do livro de Carlos Herculano Lopes, com ilustrações de Marcelo Lelis (Editora UFMG, 133 páginas, R$ 35). Casa dos Contos, Rua Rio Grande do Norte, 1.065, Bairro Funcionários, (31) 3261-1501.
“Num primeiro momento, doei obras para a Coleção Mineiriana da Biblioteca Pública Luiz de Bessa, cerca de 1,7 mil livros. Há dois anos, conversando com Wander Melo, tivemos a ideia de que eu entregaria o grosso do meu acervo à UFMG. São livros e fotografias, além de correspondências trocadas com autores como Carlos Drumond de Andrade, Jorge Amado, Inácio de Loyola Brandão, Antônio Torres e até uma carta do argentino Ernesto Sábato. E ainda algumas muito afetivas que troquei com meu pai e minha mãe no início dos anos 1970, quando me mudei de Coluna, no Vale do Rio Doce, para Belo Horizonte”.
Sem qualquer arrependimento, Herculano constata: “Foi a melhor coisa que fiz, porque todo o cuidado que está sendo dispensado ao material, eu não poderia ter.” O único impasse que surgiu, ele conta, “foi quando percebemos que todo o acervo reunia apenas autores mortos.” Todos, diga-se de passagem, amigos dele. Gente como Murilo Rubião, Oswaldo França Júnior, Wander Piroli, Fernando Sabino, José Maria Cançado e Lúcia Machado de Almeida. “Assim, já fico com o pé lá dentro e não corro o risco de me sentir estranho (risos)”.
O achado
Na mesma conversa, Wander Melo perguntou a Herculano se ele tinha algum material antigo de sua autoria que não havia sido publicado. O escritor lembrou-se de textos que escreveu dos 11 aos 14 anos, alguns datilografados (a mãe o incentivou a fazer curso de datilografia bem jovem), outros manuscritos. Mas pensou que os tivesse perdido, até que foi surpreendido por uma pasta amarela, “bem comida pelo tempo, com originais intactos, 40 anos depois”. E, confessa: “Há muito tempo não chorava. Quando encontrei 'O estilingue'..., chorei”. Ele copiou tudo, seguiu a sequência e editou com “a maior originalidade possível”. Teve a boa ideia de convidar Marcelo Lelis para fazer as ilustrações. “Deu tudo muito certo, pois Lelis me disse que teve infância parecida, em Montes Claros, no Norte de Minas.” O autor confessa que não se lembrava da maior parte das histórias; assim, o livro o ajudou a reviver suas memórias.
Para o leitor, o resultado não poderia ser melhor. O texto leve e fluente nos leva de volta ao tempo em que as brincadeiras inocentes exigiam muito da imaginação das crianças, como a do dia em que ele e a irmãzinha Denise “viajaram” para Diamantina a bordo de uma máquina de costura Singer. A poesia já se revelava na escrita do menino, que registrava tudo o que vivia com espontaneidade e vivacidade, mostrando desde cedo sua veia de escritor. As ilustrações de Marcelo Lelis são complemento indispensável para a obra, que tem o poder de levar o leitor, depois de conhecer a infância de Herculano, a buscar memórias de sua própria infância.
TRECHO
“Denise viajava realmente, na inocência de seus quatro anos./ E estava fazendo um passeio maravilhoso./ Eu também me deixava levar por aquele sonho gostoso./ A velha Singer corria com nunca, e eu passava todas as marchas, como se guiasse um carro de verdade./ Seguia a mesma rota do papai nos seus tempos de garoto, quando ia com vovô, só que montado a cavalo e não de carro como nós...”
O estilingue, histórias de um menino
Lançamento, nesta terça-feira, às 20h do livro de Carlos Herculano Lopes, com ilustrações de Marcelo Lelis (Editora UFMG, 133 páginas, R$ 35). Casa dos Contos, Rua Rio Grande do Norte, 1.065, Bairro Funcionários, (31) 3261-1501.