Arnaldo Niskier era pouco mais que um garoto quando foi contratado, em 1955, pelo que viria a ser um conglomerado de comunicação liderado por Adolpho Bloch nos 40 anos seguintes. A partir de então, o escritor que mais tarde se tornaria membro da Academia Brasileira de Letras começou uma relação de 37 anos com as revistas, rádios e rede de TV sob a chancela da Manchete.
Agora, aos 77 anos, o intelectual revisita experiências pessoais e grandes passagens da história do Brasil sob a perspectiva do jornalismo em 'Memórias de um sobrevivente - A ascensão e queda da Manchete'.
saiba mais
"Sempre tive a ideia de que em algum momento eu deveria colocar no papel as memórias desses tempos", diagnostica o autor sobre sua necessidade de um livro de reminiscências do período. "Escrevi sem mágoa, sem rancor. Ao contrário, com uma disposição muito boa de fazer justiça ao trabalho do Adolpho Bloch", define Niskier, que iniciou sua jornada no império pela revista Manchete Esportiva.
O passo seguinte foi a promoção à equipe da Revista Manchete, joia da coroa do grupo, que se manteve por décadas como a publicação mais vendida no país. "Assisti à fundação das outras 12 revistas do grupo nesta época. Quando cheguei lá, só existia a Manchete e a revista esportiva onde comecei", recorda o escritor.
Além do relato de reviravoltas inerentes ao cargo de diretor de jornalismo das empresas Bloch, Niskier faz de seu livro plataforma para exaltação às qualidades de Adolpho que, segundo ele observa, iam além do tino empresarial. A sequência de fracassos administrativos e econômicos que levou à falência das empresas em 2000 relegou a imagem do líder às sombras na opinião pública; Arnaldo luta contra esta posição com suas recordações.
Sobre o caráter do amigo que liderava o conglomerado, o escritor tem opinião sólida de quem acompanhou apogeu e queda. "Vi como Adolpho sofreu com a cassação do JK e como ele entendeu que deveria socorrer o Juscelino no exílio, quando este tinha dificuldades para viver lá fora", salienta Niskier a respeito de uma das passagens do executivo sobre as quais sua obra pretende jogar luz.
Em certos momentos, como homem de confiança do homem de negócios, o autor é personagem de peso nas tramas que narra. "Adolpho chegou a enviar recursos para JK e eu fui portador em duas dessas viagens. Fui uma vez a Nova Iorque e outra a Paris com a missão de levar recursos ao Juscelino, quando ele vivia no exílio", relembra.
Em outras passagens, o diretor de jornalismo oferece abordagem de testemunha próxima aos momentos históricos que descreve. Escrever sobre tanta história tomou tempo. "Durante três anos e meio eu botei para fora todas as experiências grandes que vivi nesse tempo todo na revista e nas emissoras de rádio, que fui eu quem criei na empresa", relata o escritor sobre a jornada de memórias. Na TV Manchete, de cuja criação também foi colaborador, ele comandou o 'Debate Manchete'.
O autor
Carioca nascido em 1935, Arnaldo Niskier é jornalista, escritor e professor universitário. Trabalhou na Manchete, onde foi diretor de jornalismo, entre os anos de 1955 e 1992.
Em março de 1984, tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras como sétimo ocupante da cadeira nº 18, que tem como patrono o jornalista e escritor João Francisco Lisboa.