A artista plástica Lygia Clark (1920–1988) nasceu em Belo Horizonte, mas foi no Rio de Janeiro, onde iniciou os estudos artísticos em 1947, que se notabilizou internacionalmente. Pelo menos por aqui, ela permanece pouco conhecida. A situação deverá mudar em breve, quando a Universidade Federal de Minas (UFMG) lançar um site com boa parte da obra da artista.
OUSADIA O trabalho de divulgação do legado de Lygia Clark é urgente devido à importância dessa produção na história da arte. Entre outras ações, ela foi uma das fundadoras do Grupo Frente, em 1954, dedicando-se ao estudo do espaço e da materialidade do ritmo. A pesquisa deu origem a outras batizadas de 'Superfícies moduladas' (1955–57) e 'Planos em superfície modulada' (1957–58).
Nas séries, a artista desloca a pintura para longe do espaço claustrofóbico da moldura. A intenção foi revelar como cada figura geométrica se projeta para além dos limites do suporte, ampliando a extensão das suas áreas. A partir daí ela consolidou a pesquisa plástica, que teve, entre outros fatos relevantes, a participação, em 1959, na 1ª Exposição de Arte Neoconcreta, quando assinou o Manifesto Neoconcreto.
Com o tempo, as obras de Lygia Clark parecem querer ganhar o espaço na construção de outros suportes para os objetivos e na produção, por exemplo, da série 'Casulos'. São obras em metal, que já sinalizam a possibilidade de modificação com recursos das dobras. Pouco depois, começou a deixar de lado a matéria dura para trabalhar com materiais flexíveis, dando origem ao que chamou de 'Obra mole' (1964).
A trajetória de Lygia Clark tomou novos rumos quando, em 1972, ela foi convidada a ministrar um curso sobre comunicação gestual na Sorbonne, na França. As aulas se transformaram em experiências coletivas inspiradas na manipulação do sentidos. A partir de 1981, ela reduziu pouco a pouco suas atividades.
O site que a UFMG planeja lançar deverá ser um importante aliado para o resgate da produção visual da artista. Thaís Pimentel considera a missão instigante pelas reflexões que sugere. “Ela não tinha muito a pretensão de ser uma artista consagrada”, diz. “Para ela, a obra valeria o quanto vale. Ela lidava com uma proposição de fazer arte num ambiente que não era aquele que soleniza a arte. Era muito ousada em suas proposições. Tenho enorme respeito pela sua produção. Nosso compromisso tem de ser o de cuidar desse acervo.”