Mais que um espaço público, a Praça da Liberdade é um símbolo da história republicana de Belo Horizonte. Por isso, todo projeto envolvendo a região desperta interesse entre historiadores e pesquisadores. Foi assim quando da apresentação do Circuito Cultural, anunciado à época como um projeto voltado para a ocupação da praça em razão da transferência dos órgãos públicos do local para a Cidade Administrativa.
O coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da Fafich (UFMG), José Newton Coelho Meneses, acha louvável se pensar em recuperar áreas degradadas da cidade com ações concentradas, como fizeram em Barcelona, na Espanha, ou em Lisboa, em Portugal. Só não concorda com a maneira realizada em BH. “Usaram a justificativa como opção autoritária e não discutida com a população. Infringiram um símbolo cultural importante que é a cidade com sua linguagem republicana, civil, laica e anticlerical, onde, no plano mais alto, estaria o poder civil (governo), não a matriz (poder religioso). Esse é o discurso da gênese de BH, que foi ignorado. Aí, tirou-se um significado que tínhamos para o Brasil e para o mundo”, lamenta. “Fizeram tudo isso sem discussões. Não foi dado o direito à cidade para essa ocupação e transformação do espaço, mas sim às empresas.”
Na visão do historiador, o processo ainda pode ser revertido. “Talvez com a desconcentração da visão privada e com a realização de ações de ocupação do centro da praça, algo que interprete a cultura urbana presente na construção da capital. O difícil é que as empresas assumam esse papel”, aponta. O pesquisador não vê problema que empresas financiem projetos. A queixa é quando usam o mecanismo para tematizar os próprios objetos de interesse. A opção museológica dos espaços é outro problema que aponta. “É tudo virtual, exige um investimento constante de renovação. Caso contrário, não atrai a atenção do público. A gente visita uma vez e não volta. É algo de consumo rápido, belo, mas que não constrói um exercício de memória.” De acordo com ele, corre-se o risco de, num futuro próximo, as empresas acharem que o investimento não vale mais a pena. “Aí o lugar pode se degradar, porque não produziu lastro. O Pelourinho, na Bahia, é bom exemplo desse processo.”
INTERESSE
A pesquisa de opinião pública também destacou aspectos positivos do Circuito Cultural da Praça da Liberdade. Para a maioria dos entrevistados (84%), mesmo com os problemas atuais a iniciativa é considerada importante para Belo Horizonte. Avaliaram-se também as consequências do projeto para a capital e os benefícios para a população. De forma geral, o circuito representa vantagens e benefícios. Entre estes, enfatizou-se a cultura, lazer e entretenimento. Cerca de 75% dos entrevistados acham que o projeto desperta muito ou algum interesse. Como conclusão, a pesquisa alerta aos gestores que o “belo-horizontino ainda não se apossou do Circuito e não tem usufruído o tanto que deveria”.
A atual gerente executiva do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, Cristiana Kumaira, afirma que a pesquisa trouxe informações bastante positivas em relação ao projeto. “Quanto mais as pessoas conhecem, mais o admiram e gostam.” Por outro lado, ela reconhece os desafios apontados no estudo, sobretudo, em relação à comunicação. “Já estamos reformulando o site e desenvolvendo um aplicativo para ser baixado gratuitamente no celular.”
Depois de seis meses à frente do projeto, a gestora já sabe do maior problema: “É necessária uma articulação grande com a sociedade e artistas, que ultrapasse, inclusive, questões político-partidárias”. Para ela, um projeto inovador como este, com poucas referências, é cercado de questões que, ao longo do processo, têm de ser ajustadas. “À medida que ouvimos e pesquisamos temos a possibilidade de acertar mais. Esse é o movimento”, avisa.
Vem por aí
» Centro Cultural Banco do Brasil – Abertura
neste semestre.
» Centro de Referência da Economia Criativa
Sebrae-MG – Ainda este ano.
» Inhotim Escola – Inaugura as atividades mês que vem.
» Casa Fiat de Cultura – Previsão de abertura
em 2014.
» Museu do Automóvel – Ainda sem previsão.
O que não deve vir
» Museu do Homem Brasileiro – Lançado como equipamento que ocuparia o prédio da antiga Secretaria de Transportes e Obras Públicas (prédio verde), numa parceria com a Fundação Roberto Marinho, a ideia ainda não saiu do papel.
A expectativa era de que o museu ficasse pronto
no início de 2014.
» Hotel – Outra proposta que não foi adiante foi
a de transformar o prédio sede do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), na Praça da Liberdade, em um hotel categoria cinco estrelas.
Em atividade
» Arquivo Público Mineiro – Instituição cultural mais antiga do estado. Consulta aos documentos de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
» Biblioteca Pública Estadual Luiz
de Bessa – Tem cerca de 260 mil títulos disponíveis no acervo. Funciona de segunda a sexta,
das 8h às 20h. Aos sábados,
das 8h às 12h.
» Centro de Arte Popular da Cemig
– Dedicado à arte popular de Minas Gerais. Aberto às terças, quartas e sextas, das 10h às 19h. Às quintas, das 12h às 21h; aos sábados e domingos, das 12h às 19h.
» Espaço TIM UFMG do Conhecimento – O objetivo é aproximar a população do conhecimento científico. Terça, quarta e de sexta a domingo, das 10h às 17h. Às quintas, das 10h às 21h.
» Memorial Minas Gerais Vale
– A proposta é destacar o patrimônio cultural e histórico mineiro. Terças, quartas, sextas e sábados, das 10h
às 17h30. Às quintas das 10h às 21h30. Domingos, das 10h às 13h30.
» Museu das Minas e do Metal
– Abriga acervo da mineração e metalurgia. Funciona terça, quarta e sexta a domingo, das 12h às 17h.
Às quintas, das 12h às 21h.
» Museu Mineiro – O acervo documenta momentos distintos
da formação da cultura do estado. Aberto terças, quartas e sextas, das 10h às 19h. Às quintas, das 12h às 21h. Aos sábados e domingos, das 12h às 19h.
» Palácio da Liberdade – Sede histórica do Governo do Estado, é um dos principais cartões-postais de Belo Horizonte. Aberto aos domingos, das 9h às 13h.