A população de Belo Horizonte ainda não conhece o Circuito Cultural da Praça da Liberdade. Também se confunde com a proposta do projeto, criado em 2010 na capital, fruto da parceria público-privada e com o objetivo de transformar antigas secretarias do estado em museus e centros culturais. As conclusões são de uma recente pesquisa encomendada pelo próprio governo, e que, em vários aspectos, reafirmam as principais críticas que vêm sendo levantadas, nos últimos anos, por setores ligados à cultura e ao turismo.
Nem mesmo a intensa propaganda e os recursos investidos no projeto na tentativa de transformá-lo “no maior complexo cultural do país” surtiram o efeito esperado. Para o cidadão comum que circula pela Praça da Liberdade, a região continua mais ligada ao lazer, às atividades esportivas e até ao artesanato (por ter sido durante anos o local onde ocorria uma feira), do que referência da nova proposta de ocupação cultural. Apesar de já contar com oito centros culturais em funcionamento – Arquivo Público Mineiro, Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, Centro de Arte Popular da Cemig, Espaço TIM UFMG do Conhecimento, Memorial Minas Gerais Vale, Museu das Minas e do Metal, Museu Mineiro e Palácio da Liberdade –, a proposta ainda não se consolidou de acordo com os resultados do trabalho.
A pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi ouviu mil pessoas. O objetivo foi avaliar o conhecimento, as percepções e opiniões da população sobre o projeto do Circuito Cultural da Praça da Liberdade. Além disso, foram investigadas a importância da ação para Belo Horizonte, o reconhecimento da marca e o que as pessoas esperam de um circuito com aquelas características.
Somente um terço dos entrevistados acertou o nome do lugar e 67% dos pesquisados só o estavam ouvindo no momento da entrevista. Não é difícil encontrar, na própria Praça da Liberdade, quem desconheça a proposta, tampouco quem reclame da falta de divulgação e da sinalização adequada das atividades dos museus e centros culturais.
RECLAMAÇÕES
“São pouco conhecidos. Aparentemente, é como se estes centros culturais fossem feitos para um grupo de pessoas apenas. Não para todos. Quase como um Palácio das Artes. Não acho que a população em geral se sinta à vontade aqui”, avalia a bancária Glaucimary Nascimento. Para a pedagoga Amanda Marçal, o principal problema é a falta de divulgação. “Não vejo a divulgação chegando às massas. As propagandas são feitas, mas num circuito fechado. Já fui, achei interessante, voltaria e indicaria, mas vejo que falta abertura real de acesso”, lamenta. Já o montador Alexandre Magno Bernardes, que frequenta a Praça da Liberdade, não sente curiosidade pelas atrações oferecidas. Na opinião do músico Vladimir Zapata, além de mal divulgados, a demora na conclusão do circuito tem prejudicado sua consolidação.
A pesquisa do Vox Populi reafirma a opinião da população. Segundo ela, a Praça da Liberdade é percebida como espaço elitizado. Ela também aponta que a falta de placas de identificação na fachada dos prédios dos centros culturais inibe a visitação. Um dos entrevistados chegou a afirmar que “a impressão é que aqueles prédios ali são intocáveis, que não se pode entrar”.
Também é reclamação constante as poucas opções de eventos para jovens (as musicais foram as mais citadas), a infraestrutura deficitária (falta de vagas para estacionar, ausência de banheiros, bancos desconfortáveis, pouca iluminação, coreto em estado de degradação) e uma questão delicada que gerou bastante reclamação entre os entrevistados: a presença da iniciativa privada e a sensação de privatização e “perda” dos espaços.
PRIVATIZAÇÃO
A turismóloga Márcia Mascarenhas da Fonseca vê aí um dos maiores problemas da iniciativa. “Minha percepção é de que não existe um circuito. São instituições ou empreendimentos individuais das empresas com suas estratégias de gestão em funcionamento. Tanto a população quanto os turistas com os quais me relaciono identificam os locais individualmente.”
A especialista reclama do que define de “apropriação privada dos espaços públicos”. “Até vejo um início de abertura das agendas para a produção artística local, mas ainda bem tímida.” Para ela, a proposta do “circuito” não se concretizou. “Deveriam ter, pelo menos uma vez por mês, ações conjuntas que levassem a população a entender aquilo ali como um circuito. Além do endereço, ainda não entendi o que eles têm em comum”, avalia.