A artista plástica Tomie Ohtake se notalizou no mundo das artes visuais pelo processo de criação baseado na síntese entre opostos: força e suavidade. Em suas pinturas, gravuras e esculturas, a dualidade aparece num eterno processo de reinvenção que, a cada nova aparição, impressiona seus admiradores e críticos. No momento em que ela chega aos 100 anos – a data é 21 de novembro –, o estilo peculiar de enfrentar a própria vida e obra permanece nas comemorações já acertadas pelo instituto batizado com seu nome em São Paulo. “Tudo que fiz foi com muito prazer e esforço. A rigor, não há algo em especial, porque tudo é especial, desde fazer uma pintura que realizo há 60 anos ou uma obra que nunca fiz antes”, explica a artista.
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A mostra, com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, aponta interseções entre os campos de interesse do trabalho pictórico, como a cor, o gesto e a textura. A intenção dos curadores foi revelar temas e sensações inerentes às obras. Completa o projeto a tese de que há uma longa linha de experimentos que desfazem a ilusão da neutralidade do suporte da imagem pictórica.
Tomie Ohtake ganha na quinta-feira outra homenagem. Desta vez na Galeria Nara Roesler, também em São Paulo, que abre exposição individual, também com curadoria de Farias. Serão apresentados 25 trabalhos entre esculturas recentes e sua nova série de pinturas.
São conjuntos de obras monocromáticas, que, segundo a curadoria, buscam uma demonstração da maestria da artista em expandir as cores, trabalhando-as em profundidade e criando atmosferas luminosas ou ensombrecidas. E mais: destaca o fenômeno de vitalidade da criadora, que mantém, ainda hoje, profícuo processo de reinvenção.
Em agosto, os estudos de Tomie – desenhos, projetos de esculturas, colagens – serão tema de outra mostra comemorativa em seu instituto. Já em novembro, quando ela chega aos 100 anos, o Instituto Tomie Ohtake inaugura uma grande exposição, 'Gesto e razão geométrica', com curadoria de Paulo Herkenhoff.
A ocasião será importante ainda pela previsão de lançamento de novo livro sobre a obra pública da artista, que, inclusive, tem desdobramentos em Minas. “Gosto da escultura que está na praça em frente à Usiminas, em Belo Horizonte, ou a outra em Araxá, na fazenda da CBMM. Em ambas, o desafio foi vencer a lei da gravidade. O público vê e reconhece esse desafio”, conta a escultura.
Ricardo Ohtake, filho da artista, ex-secretário de estado de Cultura de São Paulo, é quem está à frente da direção do instituto e das homenagens. Para ele, são várias as contribuições de sua mãe para a produção visual nacional e, por tudo isso, os tributos são bem-vindos. “A maior contribuição de Tomie Ohtake é praticar uma arte prestigiada pela crítica e que é extremamente reconhecida pelo público. Ela, inclusive, tem uma personalidade que é muito forte, apesar de ser uma pessoa calma e de uma grande gentileza.”
Ele informa que a proposta para o ano festivo foi realizar exposições oferecendo visões diversas dessa produção. Além de 'Correspondências', atualmente em exibição, em agosto, com a mostra 'Pensamento', a proposta é destacar os processo reflexivos. “Fecharemos o ano apresentando em outra exposição a expressão de Tomie passando entre a forma orgânica e a forma geométrica”, conclui Ricardo.
Arte em movimento
Tomie Ohtake nasceu em Kyoto, no Japão, em 1913. Chegou ao Brasil em 1936 e só começou a pintar aos 40 anos. O início do trabalho foi decisivo para consolidar a linguagem no campo da abstração formal. Pouco a pouco, substituiu a imaterialidade nas telas pelo estudo da relação forma – ovais, retangulares, quadradas – com a cor.
Sua obra, daí em diante, foi constantemente renovada. Nos anos 1970, o espaço branco foi tomado pela cor, a linha curva aparece assim como uma infinidade de cores. Ela se aproxima das formas orgânicas da natureza nos anos 1980, possibilitando a criação de planos coloridos chapados, assim como manchas justapostas. A experiência se acentuou nos anos 1990, quando a transparência e a profundidade passam a aparecer como uma constante.
O reconhecimento de sua produção pode ser medido pela onipresença em bienais de São Paulo. Conquistou 28 prêmios nesses eventos. A profícua produção pode ser comprovada ainda pelas 50 individuais e 85 coletivas realizadas no Brasil e no exterior.
Mostras em São Paulo
» Tomie Ohtake – 'Correspondências'
Exposição da artista plástica. Até 25 de março, de terça a domingo, das 11h às 20h, no Instituto Tomie Ohtake (Av. Faria Lima, 201, Pinheiros, em São Paulo). Entrada franca. Informações: (11) 2245-1900.
» Tomie Ohtake
Abertura quinta-feira, 21 de fevereiro, às 19h, de exposição de obras inéditas da artista na Galeria Nara Roesler, Av. Europa, 655, em Pinheiros, São Paulo. Fica até 23 de março. Informações: (11) 3063-2344.