Exemplos de livreiros que, de tanto lidar com o produto, com o passar do tempo acabaram também se tornando editores são comuns na história brasileira. Talvez o caso mais famoso seja o de José Olympio, que, em 1931, em São Paulo (transferindo-se depois para o Rio), criou a José Olympio Editora, hoje incorporada ao Grupo Editorial Record, que se tornaria uma das casas editoriais mais lendárias do país. Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Rachel de Queiroz e José Lins do Rego, entre outros, passaram por lá. Sair pela José Olympio, durante muitos anos, foi sinônimo de privilégio e qualidade.
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Ex-bancário e ex-estudante de história, Betinho conta que a Scriptum, desde sua inauguração, sempre procurou apoiar movimentos culturais, seja oferecendo seu espaço, confeccionando cartazes ou até mesmo auxiliando com dinheiro. Mas a ideia de transformá-la em editora só surgiu em 2004, como uma maneira de fortalecer institucionalmente a marca. Depois de formado um conselho editorial, que continua tendo “todos os poderes” em relação às publicações, ele se recorda de que o primeiro livro que conseguiram lançar pelo selo Scriptum foi a coletânea de poemas 'Trívio', de Ricardo Aleixo.
De lá para cá, diz o livreiro e editor, além de algumas revistas ligadas à área de psicanálise, como 'Estudos lacanianos', que é editada em parceria com o curso de pós-gradução em psicologia da UFMG, e 'Curinga', que tem o apoio da Escola Brasileira de Psicologia de MG, já publicaram cerca de 90 livros de gêneros diversos, como poesia, contos, romances, ensaios, crítica literária e história, entre outros.
“Fomos a primeira editora brasileira a lançar Ana Martins Marques e Carlos Brito e Melo, que hoje estão na Companhia das Letras, ganhando prêmios e fazendo sucesso país afora”, diz. Na área da psicanálise, que é um dos fortes da casa, já colocaram nas livrarias autores como Sérgio de Castro, Margarete Couto, Graziela Bessa e Celso Rennó, além de alguns estrangeiros.
Entre os próximos lançamentos da Scriptum, programados ainda para este semestre, estão 'Indo ao futuro para entender as mães', de Barbara Muniz, que inaugura a coleção infantojuvenil da editora, e 'O silêncio anterior', do médico Narciso Bedran. O livro terá prefácio do jornalista Roberto Pompeu de Toledo.
Entre as dificuldades enfrentadas por uma pequena editora, Betinho afirma que a maior continua sendo a distribuição. Aí estão presentes uma série de fatores que entravam o envio dos livros, principalmente para outros estados, como a logística, os custos, o transporte e a burocracia fiscal. “Mas de uns tempos para cá a situação tem melhorado e em São Paulo, por exemplo, já conseguimos colocar nossos livros em livrarias como a Cultura, Saraiva, Livraria da Vila e algumas outras”, comemora.
Clássicos
Outro livreiro, o goiano Oséias Ferraz, que chegou a Belo Horizonte há 20 anos, também acabou transformando sua livraria, a Crisálida, numa editora. Ainda funcionando no local de origem, o Edifício Maletta, no Centro, Oséias conta que no início sua pretensão era editar apenas clássicos brasileiros e estrangeiros esgotados, como era o caso de William Blake, D. H. Lawrence e Heinrich Heine.
Nessa linha, um dos últimos lançamentos da editora foi o livro 'A alma encantadora das ruas', do cronista João do Rio, cuja primeira edição havia saído em 1908. Recentemente, publicaram 'Godard, cinema e literatura', com entrevistas feitas por Mário Alves Coutinho com 11 especialistas franceses. Para este ano, adianta, estão previstos vários lançamentos, alguns com a Editora Autêntica, cuja parceria já rendeu 'O belo autônomo – textos clássicos de estética', organizado por Rodrigo Duarte. “Foi uma maneira que encontramos de viabilizar nossos projetos com mais agilidade”, diz Oséias.
Parceria
Quem também tem apostado no sonho de editar livros é Álvaro Gentil. Mineiro de Ituiutaba, de 51, e ex-estudante de agronomia, ele conta que o embrião da sua editora, a Asadepapel (nome dado em homenagem a um livro homônimo de Marcelo Xavier), foi um jornalzinho literário, Manuscritos, editado pela Livraria Café Book, onde trabalha. Como a experiência deu certo, ele resolveu aventurar-se no ramo da edição.
“Percebi também que existia uma falta de editoras em Belo Horizonte voltadas para o lançamento de livros de ficção e por isso resolvi seguir em frente. O primeiro volume que conseguimos publicar foi a coletânea 'Crônicas do fim do tempo', do jornalista Roberto Mendonça. Isso foi há 10 anos e, de lá para cá, já lançamos cerca de 20 títulos, a maioria em parceria com os autores, em edições de 300 a 500 exemplares”, diz Gentil.
Entre os últimos lançamentos da editora, que se esmera em entregar ao leitor um produto final bem-acabado, estão os livros 'Até o apagar da velha chama', de Nilton Eustáquio; 'Concreto quase', de Fabiano Novaes; 'Tito, totiti, titoti', de Raquel Vale; 'Aonde quer que eu vá', de Cynthia França; e 'Donzelas para povoar', de Ana Medina. No próximo mês, a Asadepapel deve lançar 'Guardiões', de Gustavo Campos.
Seguindo os passos dos seus colegas livreiros, Alencar Perdigão, de 48, e que desde 1993 está à frente da Quixote Livraria, também resolveu abrir sua própria editora, Aqui se imprimem livros, nome dado em homenagem a uma passagem de 'Dom Quixote', de Miguel de Cervantes. “Começamos no ano passado com a publicação de dois títulos: 'Pedacim de mim', de Marcos Tota, e 'Corteatrela', da psicanalista Vera Valadares, e este ano pretendemos publicar 10 títulos, em parceria ou não com os autores”, diz.
Assim como Betinho Belfort, da Scriptum, Oséias Ferraz, da Crisálida, e Álvaro Gentil, da Asadepapel, também para Alencar a distribuição continua sendo a grande pedra no sapato dos editores mineiros. “Não só no nosso, mas da maioria dos pequenos editores do país”, conclui.
• Livrarias e editoras
» Café Book, Rua Padre Rolim, 616, Santa Efigênia, (31) 3224-5784.
» Crisálida, Rua da Bahia, 1.148, sobreloja, 63, Centro, (31) 3222-4956.
» Livraria e Editora Scriptum, Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi, (31) 3223-7226.
» Quixote Livraria e Café, Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi, (31) 3227-3077.