Iniciada há 13 anos, a série 'Cidades ilustradas' abriu o novo século com um princípio visionário: convidar quadrinistas de renome para conhecer cidades brasileiras que não conheciam anteriormente e fazer um retrato gráfico do seu insight. Tornou-se um tipo de "safári" sociológico ilustrado, um dos mais profundos mergulhos contemporâneos nas almas dos lugares que achamos que conhecemos tão bem: Salvador, Curitiba, Florianópolis, Belém, Belo Horizonte, Brasília.
Artistas como David Lloyd (desenhista inglês de 'V de Vingança', que desenhou São Paulo) e Jano (artista do underground francês, que desenhou o Rio de Janeiro em 'Rio de Jano') buscaram a verdade por baixo da paisagem e dos guias turísticos e fizeram obras notáveis em aquarelas e outras técnicas.
O projeto, da editora Casa XXI, reinventou a literatura de viagem, buscando fontes de financiamento em patrocinadores pesados para seus novos Rugendas, Debret ou Frans Post modernos. Este ano, a série reabriu com dois novos e sensacionais álbuns: 'São Luís' (por Fábio Moon e Gabriel Bá) e 'Niterói' (pelo gaúcho Joaquim da Fonseca, que ilustra livros de viagem de Luis Fernando Veríssimo).
Foram editados 12 livros até agora. O próximo, o 13º, será 'Manaus', de Lourenço Mutarelli. São sucessos editoriais incontestáveis: um dos álbuns mais bem-sucedidos, aqui e lá fora (na França, saiu pela Albin Michel), é 'Rio de Janeiro de Jano', que já está na quarta edição.
Primeiro da série, mostrava que Jean Le Guay, o Jano, é um detalhista obsessivo: ele passou 50 dias perambulando pelo Rio de Janeiro para produzir um caderno de esboços fazendo desenhos, e passeou pelo Catete, Santa Tereza, assistiu a um Fla x Flu no Maracanã, foi à Praça 15 e à Floresta da Tijuca. Sua aventura de desbravador virou um documentário também premiado, dirigido por três admiradores do trabalho do francês: Anna Azevedo, Eduardo Souza Lima (aka Zé José) e Renata Baldi.
"Uma cidade não é só suas belezas. É também suas mazelas, feridas e feiuras", diz o cantor Zeca Baleiro, em texto para o álbum dos irmãos Bá e Moon. O trabalho dos gêmeos paulistanos na capital maranhense é uma radiografia da vida e da cultura nos interstícios das ações oficiais, do cartão postal.
O cachorro vira-lata, a plataforma de petróleo, os camelôs, as lojas de retalhos, os empinadores de pipa: tudo ganha relevância na busca de uma síntese da cidade. "É, portanto, a visão de um forasteiro que, embriagado com tanta beleza, registra um ponto de vista que não tem a pretensão de ser definitivo, profundo ou analítico. É a observação de quem passa, vê e se esforça para registrar o momento que viveu. Literalmente, um panorama visto da ponte", diz Joaquim da Fonseca, de 78 anos, mestre em artes pela Universidade Syracuse (Nova York, EUA). A partir dos anos 1980 e do álbum 'Traçando Paris', que fez em parceria com Luis Fernando Veríssimo, ele iniciou uma série que passou por Nova York, Roma, Madri, Japão e Porto Alegre, terminando com Buenos Aires de Boca a River.
saiba mais
-
Jairo Goldflus lança livro com 142 imagens de conhecidos personagens brasileiros
-
Stan Lee, criador do Homem-Aranha, grava vídeo para fã baleado em escola nos EUA
-
Mônica, a personagem dentuça e brigona, faz 50 anos
-
Criadores de Quadrinhos Rasos mesclam literatura infantil e hq em novo livro
-
HQ que levanta discussão sobre privacidade na internet é sucesso de vendas
-
Fãs dos quadrinhos lamentam morte de Robin, o filho de Batman