Rio de Janeiro – “Inconformista”. Esse é o adjetivo que o baiano Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-1999), autor de O pagador de promessas, O bem-amado e Roque santeiro – peças que viraram novelas – usava com orgulho para falar de sua obra e de si.
“Meu teatro, como tudo que escrevo, é inconformista. Quando você se conforma, não há por que escrever mais. Se você está de acordo com tudo, não há razão para ocupar o tempo de ninguém”, declarou ele ao programa Roda viva, em 1995. Essas palavras estão no livro Dias Gomes (Azougue), compilação de depoimentos organizada por Luana e Mayra Dias Gomes, filhas do autor.
O livro será lançado sexta-feira que vem, quando o dramaturgo completaria 90 anos. Mayra conta que o pai deixou caixas lotadas de reportagens e textos, incluindo trabalhos inéditos, “que provavelmente virão à tona nos próximos anos”. Criador de uma série de personagens que perduram no imaginário popular – Sinhozinho Malta, Viúva Porcina e Odorico Paraguaçu são emblemáticos –, Dias, pai da novela genuinamente brasileira, era primordialmente um homem de teatro.
Ele começou a escrever aos 15 anos e foi encenado pela primeira vez aos 19, quando Procópio Ferreira montou Pé de cabra (1942), que foi sua primeira obra censurada. Socialista até o fim da vida e filiado ao Partido Comunista, Dias imprimiu à sua produção o tom de crítica política e sátira social.
Com a decretação do AI-5, o homem de esquerda se “refugiou” na televisão. “Lá era o único local em que poderia trabalhar para sobreviver”, explicou. Com sua entrada na Globo em 1969, colegas comunistas acusaram-no de estar se vendendo. “Houve um certo patrulhamento, mas não de pessoas que eu respeitasse”, disse Dias ao Roda viva.
O dramaturgo considerou que teve liberdade para criar. “Eu podia ser um som dissonante dentro da Globo, como era O bem-amado, que passava alguma crítica ao regime”, afirmou o homem, que usou o espaço que teve para revolucionar a teledramaturgia, impondo a temática brasileira e o realismo crítico às novelas.