Nesta terça-feira tem festa para uma menina famosa. Sempre acompanhada da boneca e de um gato, ela é a estrela do livro O dia a dia de Dadá, lançado há 25 anos. Feitas com massinhas coloridas, as ilustrações daquelas páginas lançaram um escultor muito original: Marcelo Xavier. Amanhã, ele abre exposição no BDMG Cultural e exibe trabalhos com essa técnica. “Vai dar água na boca”, avisa o artista plástico e ilustrador. A galeria se transformará numa espécie de salão de festas infantil: terá mesa de doces, bolo e tudo que aniversários para crianças pedem. Os adultos também ganharão seu “cantinho”, com oito peças: Bicho de sete humores, Rei da noite, Ave diversidade e Filhote de monstro marinho estão entre elas. “Dadá é uma eterna criança”, afirma Marcelo Xavier, garantindo que ela não vai mudar de acordo com a idade. “Gosto da sequência humana da vida, mas não de personagem que cresce e vive como adulto. Não é gente, é fantasia”, explica ele, com lúcida ironia. “O compromisso é com a criança. Adoro ser adulto e envelhecer. Mas precisamos aprender a crescer sem perder a fantasia que colocamos no mundo das crianças”, defende. Formado em publicidade e autodidata em artes plásticas, Marcelo Xavier lançou Tem de tudo nessa rua, Asa de papel e Se a criança governasse o mundo, entre outros livros. Autor respeitado, ganhou três prêmios Jabuti (nas categorias produção editorial, livro infantil e ilustração). Também recebeu premiações da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e da Associação Brasileira de Escritores. “Literatura é a nave mãe da expressão artística”, avisa esse homem seduzido por muitos ofícios. A ideia de criar ilustrações com fotos de esculturas surgiu em 1986, para Truques coloridos, parceria de Marcelo Xavier com a escritora Branca de Paula. O livro chamou tanta atenção que valeu aos autores o Jabuti de produção editorial. Logo a seguir veio O dia a dia de Dadá, primeira obra solo do artista plástico. Naquela época, não havia recursos tecnológicos como hoje – algo que ele adora e usa para caprichar nas imagens. “Arte para crianças é viagem, mergulho fundo. A gente pensa coisas impossíveis. Com tecnologia é possível fazer tudo o que se imagina, todos os absurdos”, resume. Cinema e, sobretudo, histórias em quadrinhos foram referências fundamentais para ele. Marcelo tem paixão por HQs. “Elas foram minha televisão quando criança, o veículo que trazia histórias e informações sobre outras culturas. Esse mundo em miniatura permite colocar a criança em contato com a poesia do cotidiano”, explica Marcelo, fã das revistinhas do Bolinha. GERAÇÃO Marcelo Xavier integra importante grupo de criadores oriundos das artes visuais. A partir do fim dos anos 1970, eles lançaram livros singulares mesclando ilustrações e recursos gráficos. Essa turma trouxe prestígio e prêmios (nacionais e estrangeiros) à produção mineira para jovens leitores. Ana Rachel, Angela Lago, Cláudio Martins, Nelson Cruz e Marilda Castanha são alguns deles. “Não foi movimento. Tudo aconteceu espontaneamente: a história estabeleceu condições climáticas que permitiram surgir o que fizemos. Cada um pegou um gancho para entrar na profissão. O meu foi a ilustração tridimensional”, diz Xavier. Era uma época rica em experimentações. “Foi um grande laboratório de ideias, técnicas e narrativas”, resume. Os trabalhos desse grupo abriram caminhos. Ele cita a valorização da literatura “classificada como infantil”, até então em segundo plano. “Vieram as experiências de linguagem para novos ilustradores, autores e escritores. Nós mesmos, artistas plásticos, começamos a escrever textos.” Marcelo Xavier mantém a criatividade e a garra do início de carreira. Portador de esclerose lateral amiotrófica, uma doença hereditária, ele continua otimista. E na ativa – para a alegria de crianças e adultos. Três perguntas para... Marcelo Xavier artista plástico e escritor Como é seu processo criativo? Me dou ao luxo de me entregar à criação solta, livre e conduzida pela intuição, por mais que meu trabalho tenha carga mental, cultural e de vivência estética. Tenho espírito diverso, sou de muitas paixões – cor, figurinos, ambiente, literatura, arquitetura iluminação, ilustração. O incrível da criação é ser síntese de muitas coisas. Se você cria um boneco, é pela pretensão de fazer um ser vivo. Nada neles é massa morta, tudo é pulsante, vivo. Bonecos são fantásticos por si. Parece que vão andar, que respiram, têm sentimento. Por isso a animação é tão natural. O seu trabalho é a observação do real? Não me coloco nunca só na realidade ou só na fantasia. Gosto da confusão das duas coisas. Não sabemos o que é a existência. Então, por que a realidade tem de ser tão séria? Vamos nos tornando adultos, somos enquadrados, domesticados e morremos achando que somos o real. Para mim, as crianças estão mais perto do mistério, da origem da existência. Como você lida com a esclerose lateral amiotrófica? Numa boa. Depois do choque, do bombardeio, saí recolhendo os pedaços de vida, fazendo reabilitação, procurando jogar a vida para cima. Havia muito a fazer e, para espanto meu, várias coisas melhoraram. A posição de deficiente me deu um distanciamento que a arte busca o tempo todo. Hoje, para mim, uma pessoa andando é ficção. Olimpíada, com gente saltando e pulando, não passa de ficção. Uso essa posição meio distante do mundo para a minha arte. O ANIVERSÁRIO DE DADÁ Exposição –Terça-feira, às 17h, abertura para convidados. Os trabalhos poderão ser conferidos de quarta-feira até dia 30. Galeria de Arte BDMG Cultural. Rua Bernardo Guimarães, 1.600, Lourdes. O espaço funciona diariamente das 9h30 às 18h. Oficinas – Aulas gratuitas de modelagem com massinhas coloridas ministradas por Marcelo Xavier e Cecília Xavier. Dias 15 e 22, das 8h às 9h; dia 18, das 10h às 11h; dias 23, 26 e 30, das 16h às 17h. Inscrições: (31)3219-8382 ou bdcult@bdmg.mg.gov.br.
Artista plástico Marcelo Xavier comemora os 25 anos do livro O dia a dia de Dadá com exposição e oficinas
Com massinhas coloridas, ele deu novo fôlego à literatura infantil
por
Walter Sebastião
08/10/2012 08:54
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