Maria Esther Maciel fará palestra sobre esse tema amanhã, às 13h, no Auditório Professor Bicalho, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, no câmpus da Pampulha. Vai relatar trabalho que, em breve, será transformado em livro – ela já publicou um ensaio sobre o assunto, O animal escrito – Um olhar sobre a zooliteratura, e organizou um número especial para o Suplemento literário de Minas Gerais. Ela tem como foco principal de interesse as obras de Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa.
Animalidade A professora conta que começou seus estudos explorando a zoologia fantástica do escritor Jorge Luis Borges. Em seguida, estendeu as pesquisas a autores como Franz Kafka, Ted Hugues e John Coetzee, até chegar aos brasileiros Wilson Bueno e Guimarães Rosa. Mas a partir de 2010, depois de ter publicado o ensaio O animal escrito..., resolveu se concentrar mais na literatura brasileira, ou melhor, na “zooliteratura” brasileira, enfatizando sobretudo a relação entre humanos e animais.
Sendo assim, os autores que passaram a integrar essa nova fase do trabalho foram, entre outros, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Rubens Figueiredo, Astrid Cabral, e João Alphonsus. “Todos exploram questões relacionadas aos animais e aos nossos vínculos com eles, sem transformá-los em meras metáforas ou alegorias do humano. Alguns escritores, como Clarice, enfocam também o tema da animalidade no humano, fazem aflorar o animal que nos habita, e promovem o encontro com nossa própria animalidade. O conto ‘O búfalo’ é exemplar nesse caso”, diz a professora, que cita ainda duas histórias similares, os contos “Meu tio Iauaretê”, de Guimarães Rosa, e “Sardanapalo”, de João Alphonsus.
No caso de Machado de Assis, Maria Esther explica que ele escreveu várias crônicas com críticas ao antropocentrismo e às formas como a ciência do tempo lidava com os animais, considerados máquinas a serviço da humanidade. “Numa dessas crônicas ele trata, com muita ironia, da exploração dos burros. Nesse texto, os animais travam uma conversa entre eles, indagando se o surgimento dos bondes no Rio de Janeiro significaria a abolição do trabalho escravo a que burros e cavalos eram submetidos”, diz.
Já em relação a Guimarães Rosa, a professora lembra que, desde a publicação de Sagarana, em 1946, ele povoou seus livros de animais de todos os espécimes, e fica até difícil fazer uma lista, de tantos que são. “Na sua literatura, os humanos convivem e se misturam o tempo todo com os bichos, formando uma comunidade viva. É dele a frase ‘amar os animais é aprendizado da humanidade’”, conta Maria Esther.
A representação dos animais na literatura brasileira
Palestra de Maria Esther Maciel, amanhã, às 13h, no Auditório Professor Bicalho, na Fafich/UFMG (Av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha), na programação do Seminário sobre Bem-estar Animal: Responsabilidade de todos, que vai até sábado. Taxa de inscrição de R$ 10 para certificado de participação. Informações: (31) 3409-5020.
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