Hell testa limites de Bárbara Paz na pele de personagem afogada em materialismo

Peça que mostra o retrato do vazio de uma geração marcada pelo consumismo é inspirada em romance da francesa Lolita Pille e tem direção de Hector Babenco

por Ana Clara Brant 13/09/2012 09:15

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Divulgação
"Ela não fala dela em si, mas de toda uma geração de pessoas extremamente consumistas, que querem ver e ser vistas, mas que não permitem amar e se relacionar", diz Bárbara Paz sobre o texto (foto: Divulgação)
 
O filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre escreveu em uma de suas peças que “o inferno são os outros”. Algumas vezes, no entanto, o inferno pode estar dentro de nós mesmos. Talvez não tenha sido por acaso que a conterrânea de Sartre, a escritora Lolita Pille, tenha escolhido o nome de Hell para a protagonista do seu livro de estreia, lançado em 2003.
 
A frase que abre a obra aponta para o que virá nas páginas seguintes: “Eu sou uma putinha. Daquelas mais insuportáveis; da pior espécie. Meu credo: seja bela e consumista”. A história forte e intensa que carrega traços autobiográficos conquistou a atriz Bárbara Paz e o diretor Hector Babenco e se transformou na primeira montagem teatral inspirada no livro já feita em todo o mundo. 

“É um texto contemporâneo, que aborda muitas questões atuais e toda uma geração. Essa ousadia da Pille de falar do dia a dia dela e sem nenhum pudor é muito interessante. É uma personagem muito desnuda e extremamente rica. E o mais bacana é que apesar de focar em uma pessoa, ela não fala dela em si, mas de toda uma geração de pessoas extremamente consumistas, que querem ver e ser vistas, mas que não permitem amar e se relacionar”, resume Bárbara, que vive a protagonista da peça, em cartaz sexta-feira e sábado, 14 e 15, no Teatro Sesiminas, em Belo Horizonte. 

Hell, nome do livro e do espetáculo, mostra um retrato devastador da juventude rica e consumista de Paris, que preenche suas vidas com sexo, álcool, drogas e roupas de grife. O enredo poderia se passar em qualquer grande cidade do mundo, pois espelha os valores e o comportamento de uma classe que, sem encontrar limites para o prazer, vive o angustiante vazio do excesso. Além da fútil Hell, a peça também tem Andrea, — interpretado pelo ator mineiro Paulo Azevedo — um jovem tão rico e tão imerso no desespero quanto a personagem-título e que, num determinando momento da trama, acaba se relacionando com ela. 

“Andrea funciona como um espelho da Hell, mas em vez de suprir o vazio da sua vida com drogas, como ela faz, supre tudo com o sexo. São duas figuras muito fortes, que acham que estão acima de tudo e de todos, mas na verdade são extremamente frágeis. Mais do que retratar uma turma que é rica e poderosa em Paris, acho que o mérito é revelar toda uma geração que não consegue lidar com essa coisa do excesso, da falta de limites, ao mesmo tempo em que tem essa dificuldade do encontro com o outro”, destaca Paulo.

João Caldas/Divulgação
Bárbara como Hell: "tem que estar muito inteira para fazê-la" (foto: João Caldas/Divulgação)
Descartável
Durante a peça, Bárbara Paz troca constantemente de roupa, justamente para mostrar a futilidade e o consumismo exacerbado da personagem. A atriz conta que nem tem ideia de quantas vezes isso ocorre e que a intenção do diretor Babenco foi justamente mostrar como tudo na vida de Hell é descartável. “Ela fuma um cigarro atrás do outro, bota roupa, tira roupa. Ela me exige muito de voz, de corpo. É bem intensa. A construção da personagem foi muito valiosa, delicada. Tem que estar muito inteira para fazê-la. Sem dúvida, é um espetáculo bem concreto, seco e preciso, um divisor de águas na minha carreira”, frisa a atriz, que se formou no Centro de Pesquisa Teatral do Sesc, em São Paulo, dirigido por Antunes Filho. 

Depois de Belo Horizonte, Hell segue para Lisboa e Porto, para participar das comemorações do Ano de Portugal no Brasil. Segundo Bárbara Paz, há um desejo de se apresentar também em Paris, cidade onde se passa a história, mas isso só deve ocorrer em 2013. “Seria muito interessante não só se a Lolita Pille assistisse à nossa montagem, como também pessoas da geração que ela retrata no livro e que passaram por tudo que a gente mostra no palco”, diz.

Já para Paulo Azevedo, apresentar-se em BH, sua terra natal, tem um gosto especial. A capital mineira foi escolhida para ser a primeira cidade fora do eixo Rio São-Paulo a receber Hell. “Tanto a Bárbara quanto o Babenco sabem da importância de Belo Horizonte na cena teatral do país. E, para mim, acaba sendo diferente, porque é muito gostoso poder voltar à minha cidade e ter na plateia olhares tão familiares. É especial”, declara o ator, que mora há quatro anos em São Paulo.
 
Hell
Com Bárbara Paz e Paulo Azevedo, direção de Hector Babenco. Sexta-feira e sábado, 14 e 15 de setembro, às 21h, no Teatro Sesiminas (Rua Padre  Marinho, 60, Santa Efigênia). Classificação: 14 anos. Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Informações: (31) 3241-7181 


MAIS SOBRE E-MAIS