Nydia Negromonte transforma o Museu de Arte da Pampulha em laboratório de sensações

Sacos plásticos, azulejos, canos, cortina e espelho convidam à experimentação e à surpresa

por Sérgio Rodrigo Reis 14/04/2012 07:00

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Leandro Couri/Esp.EM/D.A Press
Nydia Negromonte propõe novo diálogo das pessoas com a obra-prima do arquiteto Oscar Niemeyer (foto: Leandro Couri/Esp.EM/D.A Press)
Há três meses, a artista plástica Nydia Negromonte recebeu um convite e um desafio: criar obras para ocupar todos os espaços expositivos do Museu de Arte da Pampulha (MAP), além do auditório e dos jardins. O resultado do intenso processo que se seguiu a essa demanda poderá ser conferido a partir de hoje, às 11h, quando será aberta a mostra de Nydia. Instalações dialogam com a arquitetura, a história do museu, seus usos e a região onde ele fica.

Nos jardins, o visitante será recepcionado pela instalação Coletores. Em algumas árvores do projeto paisagístico de Roberto Burle Marx veem-se sacos plásticos sobre parte dos troncos. Depois de algum tempo, eles começam a suar e, pouco a pouco, vão se enchendo de água. Várias situações presentes nas demais 10 obras lidam com a temática da água.

Logo na entrada, o público se depara com a instalação Hídrica: Episódios, no salão nobre. Ramificando-se por vários espaços do MAP, ela é constituída por um sistema hidráulico acoplado à caixa d’água do prédio, de onde saem tubos para três caixas menores. De lá partem canos que alimentam tanques, bebedouro, descargas e mangueiras. O visitante pode usá-los.

“É como se pegasse uma casa, tirasse a alvenaria e deixasse a parte hidráulica aparente. Quando as pessoas ativarem o trabalho lavando a mão, por exemplo, farão uso privado da obra”, explica Nydia. A intenção é mostrar que o fluxo contínuo do líquido por canos e tubos “desenha” o espaço.

Azulejos
Ao longo dos anos, a falta de manutenção criou marcas no edifício, projetado nos anos 1940 pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Isso inspirou Nydia a criar Mercado livre. Na parede externa, coberta pelo painel de Paulo Werneck, há azulejos faltando e outros colados de forma invertida. A artista plástica descobriu algumas peças semelhantes à venda em site. Comprou 15 azulejos e os colou na mesma posição onde faltam, mas na parede interna. O trabalho se completa com um folheto sobre a história do painel e curiosidades.

A exposição prossegue com a instalação Barrado, formada a partir de quadrados de argila crua acoplados à única parede do mezanino. Além do vídeo projetado em aparelhos de TV no auditório, reunindo imagens da expedição que ela fez à Ilha dos Amores, na Lagoa da Pampulha, há a obra Espelho cego. Trata-se de enorme cortina de tecido vermelho instalada sobre a parede espelhada do MAP.

“Quando o museu está vazio, o reflexo do próprio prédio se torna a única imagem possível. Na instalação, a obstrução da imagem redimensiona a arquitetura”, revela Nydia.

O núcleo central da exposição é a obra Lição de coisas. Esse termo, popular na Paris do século 19, propunha um método de ensino intuitivo: em vez de palavras, imagens. Inspirada nessa proposta, Nydia criou livro com 20 imagens, entre desenhos e gravuras, sugerindo exercício semelhante.

De BH para a Bienal de SP

Nydia Negromonte nasceu no Peru e escolheu Belo Horizonte para morar e trabalhar. Este ano é especial para ela. Além da exposição no Museu de Arte da Pampulha, a artista acaba de ser escolhida para participar da 30ª Bienal de São Paulo, que começa em 7 de setembro. “Ainda não sei o que mostrarei lá. Certamente, essa mostra em BH vai dar pistas do que vou fazer para apresentar na Bienal”, conclui.

LIÇÃO DE COISAS
Obras da artista plástica Nydia Negromonte. Museu de Arte da Pampulha, Av. Otacílio Negrão de Lima, 16.585, Pampulha.
Abertura hoje, às 11h. Até 30 de junho, a mostra pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 9h às 19h.
Entrada franca. Informações: (31) 3277-7946.

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