Dois importantes teatros de Belo Horizonte estão em obras há três anos. Devido a questões políticas, burocráticas e – por que não? – ao velho jeitinho brasileiro de adiar tudo, ainda não há data certa para serem reabertos. “Chega a ser até irônico dizer isso, mas o problema é cultural mesmo. Faz parte da maneira de ser do brasileiro essa coisa de ‘ah, depois a gente vê isso’ e ‘vamos deixar pra última hora’, principalmente quando se refere aos projetos em nossa área. No país, não damos a devida importância à cultura. O resultado é este: menos espaços para podermos exercer a nossa profissão”, afirma Magdalena Rodrigues, presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de Minas Gerais (Sated).
Fechado desde 2009 por determinação do Ministério Público, para obras que o adaptem às regras de acessibilidade, o Teatro Clara Nunes, administrado pela Imprensa Oficial de Minas Gerais, vai continuar assim. Não há previsão de reabertura.
No começo do ano, avaliação encomendada pelo Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc-MG) foi encaminhada à Imprensa Oficial e concluiu que a casa poderia funcionar paralelamente às obras exigidas pelo Ministério Público. “Demos essa sugestão, mas nos foi informado que o governo do estado prefere entregá-lo quando tudo estiver concluído. Parece que a cultura não é prioridade para o poder público. E olha que a reabertura desses dois teatros tem custo baixo”, enfatiza Rômulo Duque, presidente do Sinparc. Por meio de sua assessoria, a nova direção da Imprensa Oficial, comandada por Eugênio Ferraz, informa que tem vários projetos em vista e o Teatro Clara Nunes é prioridade.
Por sua vez, o Francisco Nunes, também com as portas fechadas desde 2009, deve ter o processo de higienização, limpeza e restauração do madeirame original do telhado concluído entre o fim de abril e início de maio. Em nota, a Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte (FMC) informa que o trabalho de restauro é longo, detalhado e demanda atividade especializada e criteriosa.
“A estrutura do telhado é um elemento singular da edificação, pois antecede as de estruturas metálicas curvas atuais, sendo feita em madeira laminada, colada compondo arcos que acompanham a curvatura da cobertura, técnica inovadora para a época, que oferece segurança e leveza, barateando os custos da obra. O exemplar do Teatro Francisco Nunes é o mais significativo de BH e, por causa disso, foi submetido a longo processo de restauro. Durante esse processo, tendo em vista o cenário atual da cultura em Belo Horizonte, a Fundação Municipal de Cultura identificou a necessidade de modernização do Chico Nunes. Para viabilizar essa segunda etapa de reforma do prédio, que inclui, além da modernização do espaço, a restauração de suas fachadas externas (mosaicos), estão sendo feitas as tratativas da adoção do Francisco Nunes por uma empresa, por meio do projeto Adote um bem cultural”, diz a nota da FMC.
Questão de respeito
Antônio Fagundes é um dos artistas mais aclamados do país. Essa notoriedade não se restringe ao talento, mas à fama do ator de não tolerar atrasos, principalmente em seus espetáculos. “Não é que não tolere atraso, simplesmente não deixo o atrasado entrar no teatro”, já avisou Fagundes.
A diretora da Nó de Rosa Produções, Márcia Ribeiro, há oito anos no ramo de eventos culturais, reforça a postura do galã com relação ao horário. Ela conta que todas as vezes em que trouxe peças de Fagundes a Minas, até polícia tinha no teatro.
“Ele não abre mão mesmo. Se a hora é aquela divulgada, não tem como queixar. O Fagundes não deixa entrar e muita gente acha que só porque pagou ingresso tem o direito de chegar quando quiser. E não é bem assim”, diz Márcia. Boa parte dos eventos produzidos pela empresa são internacionais e ela diz que é muito raro ocorrer atraso.
“A gente tem a preocupação de colocar o público o quanto antes dentro do espetáculo para evitar isso. O artista estrangeiro considera desrespeito aos fãs o show não começar pontualmente. Ultimamente, é um ponto negativo para ele, ao contrário do passado, quando cantores e bandas achavam até interessante fazer o povo esperar. Havia essa lenda”, diz a produtora.
O Grupo Galpão não chega a ser como Antônio Fagundes no quesito horário. Mas, principalmente quando os espetáculos são encenados no Galpão Cine Horto, há algumas regrinhas. Leonardo Lessa, coordenador do espaço, revela que até pelo fato de a entrada se dar defronte ao palco, é complicado permitir o ingresso do público depois do início do espetáculo.
“A gente sempre dá 10 minutos de tolerância. Ou libera mais um pouco, quando ocorre algo como temporal ou problema técnico. Se a pessoa chega bem depois do começo da peça, ela literalmente entra em cena. É ruim para a própria qualidade do espetáculo e prejudica quem chegou mais cedo”, defende Lessa.