Conheça o cientista autor de cinco peças em cartaz na capital mineira

Especialista em libélulas e em neuroanatomia, Ângelo Machado emplacou textos infantis e de comédia na Campanha de Popularização do Teatro

por Ana Clara Brant 29/02/2012 09:51

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Renato Weil/EM/D.A Press - 07/10/2008
Além de seu maior sucesso nos palcos, Como sobreviver em festas e recepções com buffet escasso, Ângelo Machado aposta nos textos para crianças com temática ecológica, mas sem dar lições de moral (foto: Renato Weil/EM/D.A Press - 07/10/2008 )

 

A medicina foi o caminho escolhido, porém, segundo suas próprias palavras, para a sorte dos doentes ele acabou não exercendo a profissão. E foi por meio dos insetos, hobby surgido na adolescência, que o professor, cientista, ambientalista, neuroanatomista, zoólogo e hoje escritor e dramaturgo Ângelo Machado, de 77 anos, se descobriu e chegou a produzir várias obras. Dos 35 livros escritos, sete se transformaram em peças teatrais e muitas mesclam a temática ecológica com ciência e literatura. 

 

“Quando comecei a enveredar por esse ramo, recebi muitas críticas de que ciência e literatura não combinavam. Até algumas editoras chegaram a torcer o nariz para mim. Mas hoje, várias teses e pesquisas acadêmicas que estudam a minha obra provam que literatura pode sim ensinar. Costumo dizer que a criança tem que aprender sem saber que está aprendendo”, filosofa o carismático cientista.

 

Com espetáculos de sucesso no currículo, entre eles o consagrado Como sobreviver em festas e recepções com buffet escasso, não era de se estranhar que os textos do professor Ângelo Machado sempre figurassem entre as atrações da Campanha de Popularização de Teatro & Dança, que termina neste fim de semana. Porém, este ano, pela primeira vez, cinco produções assinadas por ele estão na programação. O que acabou virando motivo, literalmente, de festa.  “Geralmente, entro com uma, duas peças, mas este ano coincidiu de serem cinco. Descobri que tem, pelo menos, 51 pessoas trabalhando nos meus espetáculos, entre atores, diretores, iluminadores, maquiadores, e por isso resolvi promover uma reunião na minha casa no próximo fim de semana, com todo esse pessoal, pra gente celebrar o momento e também promover o encerramento do festival”, anuncia. 

 

Além do Buffet, estrelada pelo “parceiro” Carlos Nunes, A comédia dos defuntos sem cova, e os infantis O casamento da ararinha-azul, Chapeuzinho vermelho e o lobo-guará e O rei careca estão na grade da campanha. 

 

Herança de uma família de artistas — filho do escritor Paulo Machado, sobrinho dos escritores Aníbal e Lúcia Machado e primo da dramaturga Maria Clara Machado, fundadora do Tablado, — Ângelo conta que os parentes estranharam como em um celeiro cultural nasceu um cientista. “Quando passei uma temporada na casa do meu tio Aníbal no Rio – estava estudando os insetos –, é que o vírus da literatura e do teatro me pegaram. Brinco que a libélula, que para mim é o bicho mais bonito do mundo depois da mulher, é que me levou para a cultura. Porque fui ao Rio de Janeiro atrás do professor Newton Santos, especialista nesse inseto, e lá acabei convivendo com todo o pessoal artístico”, lembra.

 

Mas o gosto pela escrita e pelas artes cênicas ficou um tempo adormecido. Assim que ingressou no curso de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é que Jota Dângelo, também aluno da faculdade, e já com experiência teatral em sua cidade, São João del-Rei, convidou-o para participar do Show medicina, peça humorística, de caráter crítico-irônico, constituída de vários enquetes sobre os mais variados temas. 

 

O espetáculo criado em 1954 existe até hoje e foi uma grande escola para Ângelo Machado. “A gente fazia tudo. Dirigia, atuava, tinha noção de cenário. O Show medicina era fantástico. Aprendi tudo de teatro com o Jota Dângelo. Minha escola de dramaturgia foi com ele e com a diretora Mamélia Dornelles”, destaca o professor, que não perde o hábito de, pelo menos uma vez por semana, perambular pelas livrarias de Belo Horizonte.

 

Apesar de a libélula ser uma vedete em sua vida, o escritor e cientista nunca fez um livro dedicado a essas simpáticas criaturas. “Ainda não encontrei uma boa história de libélula. Elas são meio marginais na minha obra. São iguais ao Hitchcock nos filmes dele. Elas sempre dão um jeito de aparecer nos meus livros, mas ficam meio na espreita”, brinca Ângelo.

 

O escritor e cientista tem uma coleção com 20 mil exemplares de libélula, sendo 1 mil espécies diferentes e 82 descobertas por ele. “Algumas levam até o meu nome. Aliás, tem vários bichos batizados com meu nome: aranha, fungo, rãs e até um pernilongo. Mas você já imaginou matar um pernilongo que tem o seu nome? É esquisito demais”, comenta com o peculiar humor.

 

Palco de boas ideias 

Ele não para. Além do trabalho como cientista e pesquisador, Ângelo Machado está sempre com o projeto de um novo livro na cabeça. Pode ser uma história infantil, um livro de ciência ou um volume de crônicas. Em comum, o prazer da literatura e a crença no poder pedagógico da ciência. A chegada ao teatro é prova de que os dois lados – a ciência e as letras – têm tudo para conviver e atrair o público, principalmente quando tratadas com bom humor. 

 

E de humor ele entende. É difícil não se divertir numa conversa com Ângelo Machado, que tem o talento de ensinar sempre, como quem conta histórias divertidas. Sua legião de alunos, em decadas de ensino na UFMG, sempre tem uma história para contar sobre o mestre.

 

Ângelo Machado vai lançar em breve O livro do pé, que mistura pés, sapatos e ecologia. A obra já teve um lançamento inusitado no passado, quando uma fábrica de calçados sugeriu que a publicação viesse acompanhada de um sapato e o escritor adorou a ideia. “Nem toda casa tem um livro, mas toda casa tem um sapato, então foi uma maneira interessante de estimular a leitura. O livro vinha dentro da caixa do sapato”, revela. Mas agora, O livro do pé, por meio da Editora Lê, chegará de maneira convencional a todas as livrarias.

 

O escritor também está terminando um livro de crônicas para adultos que deve se chamar O cientista nu. A publicação, ainda sem data de lançamento, traz crônicas inventadas e casos reais inspirados nas experiências de vida de seu autor.

 

Confira a seguir as peças de Ângelo Machado que fazem parte da programação da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança em Belo Horizonte.

 

ÂNGELO NO TEATRO 

 

• Adultos

 

A comédia dos defuntos sem cova

Com trilha sonora de Guilherme Praxedes, com destaque para a versão divertida de Thriller, de Michael Jackson, o espetáculo conta a história de um mendigo que mora numa cova de um cemitério do Bonfim, em BH, que recebe um amigo mendigo do Rio de Janeiro para passar o feriado de Finados e veem uma boa oportunidade de ganhar algum dinheiro. Tudo se complica quando o dono da cova morre e será enterrado na manhã seguinte. A peça aborda questões como falta de moradia, desigualdade social e o capitalismo, discutidos com surrealismo numa situação cômica e instigante.

 

Como sobreviver em festas e recepções com buffet escasso

O protagonista Carlos Nunes narra fatos típicos em ambientes de festas e ensina alguns truques para que a plateia não passe por situações desagradáveis ou constrangedoras nessas ocasiões. Ao final do espetáculo, o público recebe um certificado de conclusão do curso, que é reconhecido pelo maitre. A produção, além de ser uma divertida comédia, tem a pretensão de ser um curso de “autoajuda”.

 

• Infantis


O casamento da ararinha-azul

Musical divertido, cheio de emoções e com profundo significado para a educação ambiental, conta a história de como as crianças de uma cidade mobilizaram toda apopulação para salvar a ararinha-azul. Em cartaz no Teatro Icbeu (Rua da Bahia, 1.723, Lourdes), dias 3 e 4 de março, às 17h. Ingressos: R$ 12. Crianças de até 2 anos não pagam.

 

O rei careca

Com direção de Carlos Nunes e produção de Davi Castro, o espetáculo é para toda a família e narra com muito bom humor a queda dos fios de cabelo de Baldônio II. Acreditando que não exista nenhum rei careca em todo o mundo, ele pede ajuda para uma turma que acaba levando a plateia às gargalhadas. Mas tudo muda quando o soberano conhece a linda princesa Margarida, que lhe ensina que sua nobreza está em seu coração gentil e caridoso. Em cartaz no Teatro Alterosa (Avenida Assis Chateaubriand, 499, Floresta), dias 3 e 4 de março, às 16h30. Ingressos com desconto no Sinparc: R$ 8. Ingressos na bilheteria do teatro: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). 

 

Chapeuzinho vermelho e o lobo-guará

A caminho da casa da vovó, Chapeuzinho Vermelho desvia-se da floresta e vai apreciar animais e plantas do cerrado. Encontra o lobo-guará que, a pedido do Anhangadeve substituir o lobo mau. Só que o lobo-guará, por mais que se esforce, não consegue fazer maldades e acaba modificando a história.



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