

Gente
Miriam passeia com desenvoltura por assuntos que trata com clareza, objetividade e emoção. Questões espinhosas, polêmicas, contemporâneas, como mensalão, jovens, telefones, jornalismo, família, Brasil, Bush, Obama, mulheres. Mas ela também aborda temas mais light, como Machado de Assis e sonhos. “As colunas mais lembradas são aquelas que falam de gente, que saem do dia a dia da economia. Quando se fala de coisas mais permanentes, as pessoas se reconhecem, se identificam”.
Mas um colunista não pode evitar os temas do momento, nem da economia. E isso está contemplado no livro de forma contundente. Na verdade, a seção que trata do Plano Real é a mais longa de todas as 10. “São as colunas datadas, que se referem a um contexto, mas que conseguem ser entendidas fora do seu tempo”. E, de coluna em coluna, Miriam faz um balanço da história econômica do Brasil, desde a estabilização em 1994 até os dias atuais.
“O que me impressiona é como pessoas de níveis sociais diferentes, de áreas diversas, se interessam pela economia quando apresentamos os fatos de maneira clara”, diz ela. “Posso dizer que hoje o meu público não é mais o economista ou o empresário. Tem também. Mas hoje quem fala comigo que leu a minha coluna é a pessoa comum, o motorista de táxi, aqueles que encontro na rua e falam comigo que concordam ou que discordam de mim. Isso é impressionante e muito gratificante”.
HERANÇAS DE COPENHAGUE
» No mesmo dia do lançamento do livro de Miriam Leitão, Sérgio Abranches, mestre em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e PhD em ciência política pela Universidade de Cornell (EUA), também estará divulgando sua mais nova obra: Copenhague antes e depois (Ed. Civilização Brasileira/Record). O autor conta toda a história, analisa os fatos, contextualiza os eventos e expõe os bastidores da 15ª Conferência das Partes, a COP 15, que aconteceu na capital da Dinamarca. Desde a Convenção do Clima, em 1992, no Rio, não acontecia um encontro tão amplo de chefes de Estado para discutir as mudanças climáticas —, apesar da desconfiança e da falta de consenso que caracterizaram a conferência. Prioridade até mesmo na agenda dos maiores emissores de gases, como EUA e China, as transformações do clima são, de longe, o assunto de maior interesse deste século na opinião do cientista político e pesquisador brasileiro. O livro de Abranches pega a Conferência como exemplo para falar de mudanças climáticas, de como os cientistas chegaram às conclusões que chegaram, da política e da diplomacia do clima, e da cobertura do evento com as novas ferramentas, como o Twitter. Um livro nada convencional sobre o tema do momento.
Trecho do livro Convém Sonhar, de Miriam Leitão
Só a bailarina (23.3.2008)
Todo mundo tem gargalos. Só a bailarina que não tem. A Índia não fez reformas, tem um setor público ineficiente e um déficit fiscal que só não é maior porque está muito mal contabilizado. A China bate em limites ambientais com seu modelo destrutivo de crescimento.
A chuva ácida atinge um terço do território chinês e aflige 700 cidades, admitiu Sheng Huaren, o vice-presidente do Comitê Provisório do Congresso da China.
O Brasil costuma falar dos seus gargalos ao crescimento — que são mesmo grandes — como se fosse o único país a tê-los. Esta não é uma coluna para nos conformarmos com os nossos persistentes obstáculos ao crescimento. É só para combater um pouco o complexo de que outros são bailarina. (…)