A black music norte-americana encontrou um novo campeão em John Legend. Nascido John Stevens, no estado de Ohio, esse jovem cantor, compositor e – essencialmente – pianista aporta no cenário musical executando instigantes variações ao redor do triunvirato soul/hip-hop/rhythm’n’blues.
Ao emprestar seu piano para a canção Everything is everything, de Lauryn Hill, em 1998, Legend arrancou os primeiros elogios da crítica. Entre 2000 e 2003, ele editaria de forma independente quatro álbuns – John Stephens, registro de estúdio seguido pelos ao vivo Live at Jimmy’s Uptown, Live at Sob’s e Solo sessions vol.1: Live at the Knitting Factory. Desde então, já sob a égide do conglomerado Sony/BMG, Legend tem ampliado seu público de forma expressiva, vide trabalhos do quilate dos ultra-requintados Get lifted (2004) e Once again (2006).
Disponibilizado em sua primeira prensagem apenas no Japão, o recente Live from Philadelphia expõe sem reservas as matrizes estilísticas de John Legend. A gravação chega ao mercado brasileiro nos formatos CD e DVD – em caso de dúvida, vale lembrar que o DVD tem várias faixas bônus, uma entrevista e três videoclipes, contabilizando mais de duas horas de audição, contra os 78 minutos do CD.
VERSÕES Todos os hits lançados por Legend reaparecem no show em versões imaculadas: da ebuliente She don’t have to know (reverberações dos álbuns gravados por Stevie Wonder, no início dos anos 1970, emanam das modulações vocais que ele imprime à canção) à sensual Let’s get lifted (fica quase impossível dissociar os falsetes e desdobramentos de ritmos imortalizados um dia por Marvin Gaye), passando pela arrasa-quarteirão Ordinary people e pelo dueto com a convidada Corinne Bailey Rae em Where’s the love?, sucesso nas vozes de Marvin Gaye e de Diana Ross lá pelos idos de 1973. Tudo o que se ouve lá mostra por que John Legend é um dos nomes mais relevantes do universo negro atual.
Claro, Legend também pegou para si maneirismos de Curtis Mayfield – além da óbvia reverência ao finado mestre em Number one, Used to love U traz profusão de ecos e o suingue multitexturizado que deu fama a Mayfield na era da blaxploitation –, Sly Stone (na versão de Dance to the music), Bill Withers e Al Green. Porém, longe de emergir como um painel ambulante de referências bacanas, Legend processa vorazmente todas essas informações e lhes acrescenta dados novos, pessoais.
A mesma coisa ocorre quando ele contrabalança a herança soul com lembranças da vertente pop-rock branca dos anos 1960. Daí ousadias como Save room, cuja melodia cuidadosamente decalcada de Stormy (velho hit de Dennis Yost e seu Classics Four) vem embalar uma nova letra, inteiramente diferente da original, ou I want you, hipnótico tema hard imortalizado pelos Beatles que ressurge puxado por órgão Hammond em grandiloqüente arranjo gospel.
JEFF BUCKLEY Aos que ainda duvidarem da capacidade de síntese de John Legend, a audição da faixa Alright será reveladora. Não fosse assim, de que forma poderíamos conceber a epifania de sinos, trombone, tuba e vozes femininas conjurada ao seu comando?
Outra evidência de redenção aparece em So high: o abandono de sua voz clamante, tomada por arroubos sacro-profanos, vem subitamente revelar a até então inimaginável ligação com o ectoplasma do finado Jeff Buckley. Toda a atenção para esta “lenda” em movimento, portanto.
Ao emprestar seu piano para a canção Everything is everything, de Lauryn Hill, em 1998, Legend arrancou os primeiros elogios da crítica. Entre 2000 e 2003, ele editaria de forma independente quatro álbuns – John Stephens, registro de estúdio seguido pelos ao vivo Live at Jimmy’s Uptown, Live at Sob’s e Solo sessions vol.1: Live at the Knitting Factory. Desde então, já sob a égide do conglomerado Sony/BMG, Legend tem ampliado seu público de forma expressiva, vide trabalhos do quilate dos ultra-requintados Get lifted (2004) e Once again (2006).
Disponibilizado em sua primeira prensagem apenas no Japão, o recente Live from Philadelphia expõe sem reservas as matrizes estilísticas de John Legend. A gravação chega ao mercado brasileiro nos formatos CD e DVD – em caso de dúvida, vale lembrar que o DVD tem várias faixas bônus, uma entrevista e três videoclipes, contabilizando mais de duas horas de audição, contra os 78 minutos do CD.
VERSÕES Todos os hits lançados por Legend reaparecem no show em versões imaculadas: da ebuliente She don’t have to know (reverberações dos álbuns gravados por Stevie Wonder, no início dos anos 1970, emanam das modulações vocais que ele imprime à canção) à sensual Let’s get lifted (fica quase impossível dissociar os falsetes e desdobramentos de ritmos imortalizados um dia por Marvin Gaye), passando pela arrasa-quarteirão Ordinary people e pelo dueto com a convidada Corinne Bailey Rae em Where’s the love?, sucesso nas vozes de Marvin Gaye e de Diana Ross lá pelos idos de 1973. Tudo o que se ouve lá mostra por que John Legend é um dos nomes mais relevantes do universo negro atual.
Claro, Legend também pegou para si maneirismos de Curtis Mayfield – além da óbvia reverência ao finado mestre em Number one, Used to love U traz profusão de ecos e o suingue multitexturizado que deu fama a Mayfield na era da blaxploitation –, Sly Stone (na versão de Dance to the music), Bill Withers e Al Green. Porém, longe de emergir como um painel ambulante de referências bacanas, Legend processa vorazmente todas essas informações e lhes acrescenta dados novos, pessoais.
A mesma coisa ocorre quando ele contrabalança a herança soul com lembranças da vertente pop-rock branca dos anos 1960. Daí ousadias como Save room, cuja melodia cuidadosamente decalcada de Stormy (velho hit de Dennis Yost e seu Classics Four) vem embalar uma nova letra, inteiramente diferente da original, ou I want you, hipnótico tema hard imortalizado pelos Beatles que ressurge puxado por órgão Hammond em grandiloqüente arranjo gospel.
JEFF BUCKLEY Aos que ainda duvidarem da capacidade de síntese de John Legend, a audição da faixa Alright será reveladora. Não fosse assim, de que forma poderíamos conceber a epifania de sinos, trombone, tuba e vozes femininas conjurada ao seu comando?
Outra evidência de redenção aparece em So high: o abandono de sua voz clamante, tomada por arroubos sacro-profanos, vem subitamente revelar a até então inimaginável ligação com o ectoplasma do finado Jeff Buckley. Toda a atenção para esta “lenda” em movimento, portanto.