Após diversos adiamentos, o
primeiro longa-metragem
de
Wagner Moura
como diretor,
Marighella
, estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (04/11).
O filme fará seu lançamento após uma longa trajetória por importantes festivais mundo afora. Além de
Berlim
,
Seattle
,
Hong Kong
,
Sidney
,
Santiago
,
Havana
,
Istambul
,
Atenas
,
Estocolmo
,
Cairo
, entre cerca de 30 exibições em países dos cinco continentes.
Baseado na biografia
Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo
, de
Mário Magalhães
. O longa sobre os últimos anos de vida do guerrilheiro baiano
Carlos Marighella
(
1911
-
1969
) esteve prestes e estrear em outras oportunidades, mas a pandemia da
Covid-19
fez com que a data fosse adiada.
Além dos
obstáculos do governo
do presidente
Jair Bolsonaro
(sem partido), supostamente por ter teor político, a
Ancine
(
Agência Nacional do Cinema
) travou um longo embate que dificultou a
estreia
da produção em território nacional.
O elenco, que tem
Seu Jorge
no papel de protagonista, conta ainda com
Adriana Esteves
,
Bruno Gagliasso
,
Luiz Carlos Vasconcellos
,
Herson Capri
,
Humberto Carrão
,
Bella Camero
,
Maria Marighella
,
Ana Paula Bouzas
,
Carla Ribas
,
Jorge Paz
, entre outros.
Entretanto,
Marighella
não foi o primeiro filme a causar polêmicas no
Brasil
. Confira, abaixo, outras produções que passaram por episódios semelhantes antes ou depois da estreia.
1 - Cabra Marcado para Morrer (1984)
O
filme documental
dirigido por um dos maiores documentaristas da história do cinema nacional,
Eduardo Coutinho
(
1933
-
2014
)
, Cabra marcado para morrer
conta a história de João Pedro Teixeira, líder da liga camponesa de
Sapé
, interior da
Paraíba
, assassinado em
1962
. Com o golpe de
1964
, as filmagens foram interrompidas e acabou sendo censurada pelo
Governo Militar
. Parte da equipe foi presa sob a alegação de comunismo.
17 anos depois, o diretor retoma questões adormecidas e conversando com os mesmos técnicos, locais e personagens que haviam sido entrevistados no passado, elaboram para a câmera os sentidos de suas experiências durante os longos anos do regime militar.
Em
2015
, o longa entrou na lista da
Associação Brasileira de Críticos de Cinema
(
Abraccine
) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
2 - Rio, 40 Graus (1955)
Rio, 40 graus
, primeiro longa-metragem do cineasta
Nelson Pereira dos Santos
(
1928
-
2018
), é uma das obras mais importantes do cinema nacional. Foi considerada a obra inspiradora do cinema novo, movimento estético e cultural que pretendia mostrar a realidade brasileira.
No entanto, a obra cinematográfica que conta a história de cinco garotos de uma favela que, num domingo tipicamente carioca e de sol escaldante, tentam ganhar a vida vendendo amendoim nos pontos turísticos da cidade foi censurada pelos militares na década de 50, que o consideraram uma grande mentira. Inclusive, as autoridades da época chegaram a afirmar que seu título era uma mentira, visto que o
Rio de Janeir
o não costumava atingir 40 graus frequentemente.
O filme também entrou na lista feita pela
Associação Brasileira de Críticos de Cinema
(
Abraccine
) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
3 - À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964)
José Mojica Marins
(
1936
-
2020
), mais conhecido como Zé do Caixão, seu personagem mais famoso, foi um dos principais produtores culturais do país.
A obra é protagonizada e dirigida pelo coveiro, que narra a busca por uma mulher que possa gerar seu filho perfeito e, assim, dar continuidade a sua linhagem. Sua esposa não pode engravidar, e ele procura uma substituta, a namorada do amigo. Com cenas fortes e explicitas, sobre violência contra a mulher, o filme não foi visto com bons olhos no período ditatorial brasileiro e acabou sendo banido de alguns estados brasileiros.
À meia-noite levarei sua alma
também está na lista feita pela
Associação Brasileira de Críticos de Cinema
(
Abraccine
) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
4 - Terra em Transe (1967)
Considerada uma das principais obras do período,
Terra em transe
, roteirizado e dirigido por
Glauber Rocha
(
1939
-
1981
), aprofunda o estudo da situação nacional.
A obra apresenta a história de diversos personagens, como militantes, intelectuais, políticos e empresários que estão envolvidos na disputa pelo poder do fictício país latino-americano, denominado Eldorado.
O longa-metragem enfrentou, na época, problemas com a censura estabelecida durante a ditadura, acusado de ser subversivo e ofensivo à Igreja Católica, sendo liberado quando um dos personagens acabou mudando de nome.
Mais uma que entrou na lista feita pela
Associação Brasileira de Críticos de Cinema
(
Abraccine
) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
5 - Macunaíma (1969)
Macunaíma
, clássico de
Mário de Andrade
(
1933
-
1945
), dirigido pelo cineasta
Joaquim Pedro de Andrade,
esbarrou na censura em
1969
.
A
história
de um anti-herói, nascido na
Amazônia
. Preto vira branco, troca a floresta pela cidade, onde vive acompanhado de seus irmãos. A versão que foi aos cinemas na época exigiu classificação indicativa de 18 anos e impôs 15 cenas cortadas, que iam desde palavrões até a frase "Muita saúva e pouca saúde os males do Brasil são" foi considerada imprópria pelo regime militar.
6 - Muito além do Cidadão Kane (1993)
Muito além do Cidadão Kane
, produzido pelo
Channel 4
, televisão estatal britânica, o documentário de
Simon Hartog
causou polêmica no início dos anos 90. O longa faz uma relação entre a mídia brasileira e o poder no país, ao mostrar o suposto envolvimento de
Roberto Marinho
(
1904
-
2003
) com a ditadura militar no
Brasil
.
Na época, o ex-presidente e fundador do
Grupo Globo
conseguiu impedir a exibição legal do filme em território nacional. Até hoje, a obra nunca foi exibida em rede nacional.
7 - Baixio das bestas (2006)
Premiado, ousado e polêmico,
Baixio das bestas
, dirigido por
Cláudio Assis
sacudiu o público abordando um universo decadente, no qual crueldade, prazer e morte se cruzam sem distinção.
Esse filme não é recomendado para quem tem estômago fraco. O longa, com cenas fortes e bastante explícitas, reflete sobre a condição da mulher desprotegida, abordando temas dramáticos como espancamento de mulheres, estupro, pedofilia, prostituição ilegal e a exploração sexual de menores.
Baixio é sexo, estômago e denúncia.
8 - Bruna Surfistinha (2011)
Bruna Surfistinha
, dirigido por
Marcus Baldini
pode ser considerado um clássico do cinema nacional. Inspirado no livro
O doce veneno do escorpião – O diário de uma garota de programa
de
Raquel Pacheco
.
Apesar da tradicional família brasileira torcer o nariz, o filme sobre a história da ex-prostituta mais famosa do
Brasil
foi um sucesso de bilheteria.
A obra causou polêmicas por conta das cenas de nudez, sexo e uso de drogas. Entretanto, o filme não mostra apenas as aventuras sexuais de uma garota de programa. Revela os bastidores de uma vida difícil mesmo para quem, nesta profissão, pode ser considerada bem-sucedida.
O longa-metragem esteve na corrida dos 10 filmes brasileiros a serem indicados a Melhor Filme Estrangeiro no
Oscar
de
2012
.
9 - Tatuagem (2013)
Ambientado no final da ditadura militar, o
premiado filme
de
Hilton Lacerda
representa um romance entre um oficial do exército e um ator de uma
companhia teatral
, intitulada Chão de Estrelas, que realizava espetáculos repletos de deboche e com cenas de nudez.
No enredo de
Tatuagem
, o jovem militar transita entre esses dois mundos, quando está com a trupe vive a liberdade sexual e política e no quartel precisa se adequar às regras e à disciplina.
A obra entrou na lista feita pela
Associação Brasileira de Críticos de Cinema
(
Abraccine
) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
10 - Aquarius (2016)
Aquarius
, produzido por
Kléber Mendonça Filho
, tem cenas fortes de nudez e sexo, seu enredo gira em torno de uma viúva de 65 anos que é a última moradora do edifício que dá título à obra.
O
longa
foi ovacionado após sua exibição no
Festival de Cannes
e, para o jornal francês
Le Monde
, foi o filme mais bonito do evento. A obra foi incluída nas listas de melhores filmes daquele ano de diversos críticos brasileiros e estrangeiros. Além disso, o drama concorreu à
Palma de Ouro
, premiação máxima da competição francesa.