Brasil fica fora dos pré-indicados ao Oscar 2021

Cinema nacional tinha chances em algumas das nove categorias que tiveram as prévias divulgadas hoje pela Academia

Pedro Galvão 09/02/2021 20:31
	
Voodoo Films /HBO Europe/ Magnolia Pictures/ Dogwoof / Divulgação
Documentário romeno Collective, sobre escândalo hospitalar ocorrido no país, aparece em duas categorias (foto: Voodoo Films /HBO Europe/ Magnolia Pictures/ Dogwoof / Divulgação)
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou nesta terça-feira (9/2) os pré-indicados em nove categorias do Oscar 2021. Assim como vinha sendo feito nos últimos anos, foram revelados os inicialmente escolhidos em documentário, documentário em curta-metragem, maquiagem e penteado, trilha sonora, canção original, curta-metragem de animação, curta-metragem, efeitos visuais e ainda melhor filme internacional, antes chamada de ‘melhor filme estrangeiro’, que sempre carrega a expectativa pela seleção ou não de uma produção brasileira, que não aconteceu dessa vez.

A principal expectativa do cinema brasileiro era o documentário Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou (2020), que conta a trajetória do cineasta Hector Babenco. Dirigido por Bárbara Paz, que foi casada com ele, o filme foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Visuais para representar o país na briga por uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional e também estava elegível na categoria específica dos documentários em longa-metragem. Porém, acabou preterido nas duas.

A pré-seleção dos filmes estrangeiros inclui produções da América Latina, Europa, Ásia e África. Veja a lista:

Quo Vadis, Aida? (Bósnia)
Agente duplo (Chile)
Charlatan (República Tcheca)
Another round (Dinamarca)
Two of us (França)
La llorona Guatemala
Better days (Hong Kong)
Sun children (Irã)
Night of the kings (Costa do Marfim)
I’m no longer here (México)
Hope (Noruega)
Collective (Romênia)
Dear Comrades! (Rússia)
A sun (Taiwan)
The man who sold his skin (Tunísia)

Vale lembrar que a lista definitiva, com os cinco indicados finais nessas e nas outras categorias ditas principais, será divulgada apenas em 15 de março. Outros seis longas brasileiros também estavam na disputa entre os documentários: Fico te devendo uma carta sobre o Brasil, de Carol Benjamin; Dentro da minha pele, de Toni Venturi e Val Gomes; Protocolo da morte, de André Di Mauro; Meu querido supermercado, de Tali Yankelevich; e Narciso em férias, de Renato Terra e Ricardo Calil;  Libelu – Abaixo a Ditadura, de Diógenes Muniz, vencedor do festival É Tudo Verdade. 
 
Um dos destaques entre os selecionados é o filme romeno Collective. Assim como o brasileiro sobre Babenco, ele estava elegível tanto entre os internacionais, quanto entre os documentários. Acabou pré-selecionado nas duas. O longa acompanha uma investigação jornalística sobre caso de incêndio em boate que é cercado de corrupção e inoperância governamental.
 
Outro a conseguir a pré-indicação dupla foi o chilneo Agente duplo, disponível no Globoplay. O  documentário conta a história real de um espião que se infiltra em um asilo, contratado pela filha de uma residente, para checar as condições da casa de repouso.


A lista anunciada tem os seguintes documentários:
All In: The fight for democracy
Boys state
Collective
Crip camp
Dick Johnson Is dead
Gunda
MLK/FBI
Agente duplo
My octopus teacher
Notturno
The painter and the thief
76 Days
Time
The truffle hunters
Welcome to Chechnya


Outros brasileiros no páreo 
O cinema nacional ainda tinha outras produções elegíveis para figurar nesse primeiro anúncio, em outras categorias. Era o caso do curta de animação Umbrella. Criado, escrito e dirigido por Helena Hilario e Mario Pece, poderia se tornar a primeira produção nacional indicada nessa categoria. Sem diálogos, Umbrella conta a história de Joseph, menino que vive no orfanato e sonha em ter um guarda-chuva amarelo. O encontro com uma garota que acompanha a mãe até o local para fazer doações lhe traz nova perspectiva da vida. Escrito em 2011 e lançado em 2019, o filme foi selecionado para 19 festivais ao longo de 2020, o que o qualificou para disputar a vaga no Oscar.

O documentário em curta-metragem Carne, da diretora Camila Kater, também poderia ser contemplado hoje. O filme percorreu trajetória de sucesso em festivais internacionais, como o Toronto International Film, Annecy, IDFA, AFI, DOK e Leipzig, recebendo cerca de 70 prêmios no Brasil e no exterior. Eleito o segundo melhor curta-metragem brasileiro de 2019 pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema, foi um dos finalistas no European Film Awards de 2020.

Carne retrata a diversidade das vivências da mulher com seu corpo a partir de cinco personagens. Rachel, Larissa, Raquel, Valquiria e Helena passam por experiências de acordo com as respectivas faixas etárias, orientações sexuais, etnias e constituições corpóreas. Como forma de conferir essa diversidade à estética do filme, cada fase e personagem foi criada com técnicas de animação específicas e por uma animadora diferente. 

Outro candidato nessa categoria era o brasiliense Filhas de lavadeira, de Edileuza Penha de Souza. O filme conta sobre a resistência de trabalhadoras negras na luta para proporcionar boa formação educacional para seus filhos e filhas. Com depoimentos de Conceição Evaristo, Benedita da Silva, Ruth de Souza e outras mulheres, venceu a categoria destinada aos curtas no festival brasileiro É Tudo Verdade, que credencia automaticamente para a disputa da Academia hollywoodiana. O longa Bacaurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, premiado em Cannes, ainda pode figurar nas indicações finais, entre as categorias dedicadas a atuação, direção, roteiro ou até mesmo de melhor filme. 


Em 2020, o Brasil apareceu entre os pré-indicados na categoria melhor documentário, com Democracia em vertigem, da mineira Petra Costa. O filme sobre os acontecimentos da política brasileira nos últimos anos permaneceu na lista definitiva de indicados, mas a estatueta ficou com Indústria americana, produzido pela Netflix nos EUA. Quatro anos antes, O menino e o mundo, de Alê Abreu, ficou entre os cinco concorrentes ao Oscar de melhor animação, vencido por Divertida mente. 

Ainda neste século, o brasil ainda chegou às indicações do Oscar com o documentário O sal da terra (2015); a animação Rio (2012, indicação melhor canção original), o drama Cidade de Deus (2004), de Fernando Meirelles, que concorreu em melhor diretor e melhor roteiro adaptado; além do curta Uma história do futebol (2001), de Paulo Machline. Na categoria dedicada aos filmes estrangeiros, a última indicação foi em 1999, com Central do Brasil. O mais perto de repetir o feito foi em 2008, com O ano em que meus pais saíram de férias, que esteve entre os pré-indicados, mas não passou para a seleção final.
 
Novas regras
A 93ª cerimônia do Oscar, que costumava acontecer em fevereiro, foi adiada por causa da pandemia e será realizada em 25 de abril, no Teatro Dolby, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Também por conta da COVID-19, a Academia flexibilizou as regras e critérios de elegibilidade. Antes, era necessário que os filmes fossem exibidos por pelo menos sete dias nos cinemas de Los Angeles. Para este ano, foi permitida a participação de produções lançadas diretamente nas plataformas de streaming, cumprindo uma cota mínima de dias em exibição virtual. 

A decisão pode significar uma grande presença da Netflix na premiação. O serviço de streaming conta com os filmes Destacamento Blood do diretor Spike Lee, A voz suprema do blues, dirigido por George C. Wolfe, estrelando Chadwick Boseman em seu último papel, além de Os 7 de Chicago, de Aaron Sorkin, muito elogiados pela crítica internacional. 
 
Algumas das produções mais badaladas em um período de tantos lançamentos cancelados em Hollywood já apareceram nas pré-indicações. È o caso de Aves de Rapina: Arlequina e sua emancipação fantabulosa, Mulan, Bloodshot, Mank, Soul e Tenet,  em efeitos visuais. Já a pré-seleção de cabelo e maquiagem incluiu também Emma e One night in Miami.  Veja os selecionados abaixo. 
 
Melhores efeitos visuais (pré-lista):
Aves de Rapina: Arlequina e sua emancipação fantabulosa
Bloodshot
Love and monsters
Mank
O céu da meia da noite
Mulan
The one and only Ivan
Soul
Tenet
Welcome to Chechnya
 
Melhor cabelo e maquiagem (pré-lista): 
Aves de Rapina: Arlequina e sua emancipação fantabulosa
Emma
The Glorias
Era uma vez um sonho
Jingle Jangle: A Christmas Journey
Os Pequenos Vestígios
A voz suprema do Blues
Mank
One night in Miami
Pinocchio
 
Melhor trilha sonora (pré-lista) 
Ammonite
Blizzard of souls
Destacamento Blood
O homem invisível
Jingle Jangle: A Christmas journey
The Life Ahead (La Vita Davanti a Se)
Os pequenos vestígios
Mank
O céu da meia noite
Minari
Mulan
Relatos do mundo
Soul
Tenet
Os 7 de Chicago

Melhor canção original (pré-lista)
“Turntables” de All In: The fight for democracy
“See What You’ve Done” de Belly of the Beast
“Wuhan Flu” de Borat: Fita de Cinema Seguinte
“Husavik” de Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars
“Never Break” de Giving Voice
“Make It Work” de Jingle Jangle: A Christmas Journey
“Fight For You” de Judas e o Messias Negro
“lo Sì (Seen)” de The life ahead (La Vita Davanti a Se)
“Rain Song” de Minari
“Show Me Your Soul” de Mr. Soul!
“Loyal Brave True” de Mulan
“Free” de The One and Only Ivan
“Speak Now” de Uma noite em Miami
“Green” de O Som do silêncio
“Hear My Voice” de Os 7 de Chicago

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