Giovana (Renata de Lélis) e Yago (Eduardo Mendonça) acabaram de se conhecer em uma festa. Sem saber, terão que passar os próximos anos juntos em um apartamento. Não podem sair de casa. Sim, é sobre isolamento e ausência de convívio social decorrentes de uma pandemia A nuvem rosa, estreia em longas-metragens da diretora gaúcha Iuli Gerbase.
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Na trama dramática de A nuvem rosa, uma nuvem tóxica toma conta de várias cidades do mundo, impedindo que as pessoas saiam de casa. “Minha ideia era mostrar dois personagens desconhecidos um do outro até então, presos durante muito tempo, como se fosse um casamento forçado”, comenta Iuli Gerbase, que começou a escrever o roteiro em 2016.
Rodado em Porto Alegre em 2019, o filme já tinha uns três cortes quando a pandemia começou, em março de 2020. A finalização, com dublagem, correção de cor, trilha sonora, além do corte final, foi realizada remotamente.
SIGNIFICADO
“O filme ficou pronto em agosto. Mesmo sabendo-o de cor, quando o assisti finalizado, seu significado mudou para mim. O que os atores dizem, por exemplo, você se vê dizendo (na vida real). A experiência foi outra”, ela conta.Para Iuli, o fato de o longa fazer uma ponte com a realidade pesou na seleção por Sundance – o filme está em competição na categoria World Cinema Dramatic Competition, que tem outros nove títulos de diferentes países.
EFEITOS
A nuvem tóxica, realizado por meio de efeitos em 3D, é uma solução dramatúrgica para manter Giovana e Yago encarcerados em casa. O surto se prolonga por vários anos, fazendo com que os personagens mudem. Enquanto ela se sente cada vez mais aprisionada, ele passa a viver dentro daquele mundo.É um filme de quase uma só locação, pois o casal está no apartamento o tempo inteiro. Há outros personagens, como uma irmã, um pai e uma amiga, que aparecem em videoconferência. E há ainda um telejornal, por meio do qual o casal tenta manter seu pé na realidade.
A nuvem rosa foi produzido pela Prana Filmes, dos pais de Iuli, o cineasta Carlos Gerbase e a produtora Luciana Tomasi. “Como (o cinema) é um meio que conheço desde pequena, sempre vi a dificuldade de se fazer um filme nacional. Eu ia aos sets dos filmes dos meus pais, e acompanhei a seriedade e a realidade de uma filmagem. Então, estou meio preparada para as coisas boas e as ruins”, diz ela.
O longa será distribuído pela O2 Filmes. Depois da première em Sundance, A nuvem rosa vai participar de outros eventos de cinema, nacionais e internacionais. A ideia é tentar lançar comercialmente o filme nas salas de exibição no fim deste ano. Mas, diante da realidade da pandemia, não há como fazer muitas previsões no momento.
LgbT O outro concorrente brasileiro em Sundance é o curta pernambucano Inabitável, de Matheus Farias e Enock Carvalho. Mas, diferentemente do longa gaúcho, ele faz sua première nos EUA depois de ter participado de 18 festivais brasileiros, nos quais acumulou 12 prêmios. Foi rodado no Recife, em dezembro de 2020, e finalizado na primeira fase da pandemia.
Esse fato é revelado no início da narrativa, que localiza a protagonista, Marilene (Luciana Souza) um pouco antes do começo da quarentena. Mulher pobre da capital pernambucana, ela sai à procura da filha, Roberta (Eduarda Lemos), desaparecida depois de ter ido a uma festa. Roberta é uma mulher trans.
“Não pensamos em esperar (o fim da pandemia) para lançar o filme, porque ele tem um caráter muito urgente, conversa muito com o momento, pois fala do medo. Ainda que os níveis e as motivações sejam diferentes, o medo é um sentimento que grande parte do mundo está sentindo. E o filme também parte das nossas experiências pessoais diante do mundo, da nossa família, o trato com as nossas mães. Na gênese, ele carrega a nossa experiência como pessoas LGBT do Brasil do século 21”, comenta Matheus.
“Uma trans desaparecida no Brasil não é um desaparecimento qualquer. A gente pensa logo num possível caso de transfobia. Além disso, é um filme pautado pela perseguição às comunidades LGBT, às pessoas negras, o que mostra muito do Brasil atual”, acrescenta Enock. Tal jornada, que tem início como um drama, vai ganhando elementos de ficção científica na parte final.
PESQUISA
Atriz baiana que participou dos filmes Bacurau (2019) e Ó paí, ó (2007), Luciana Souza admite que teve que fazer uma pesquisa grande para interpretar Marilene. “A gente tem conhecimento dessas histórias, mas, quando adentra no universo, se depara com uma realidade absurda. Tais questões dizem respeito a todo mundo, e foi com o olhar para essa realidade que tive um ganho de construção dramática para a personagem”, diz ela. É a mãe em busca da filha que está presente em cena o tempo todo.Inabitável é o terceiro curta assinado por Matheus e Enock, que anteriormente lançaram Quarto para alugar (2016) e Caranguejo rei (2019). “Estamos agora no desenvolvimento do nosso primeiro longa. Como trabalhamos em dupla desde sempre, percebemos as afinidades de cada um. Enquanto eu gosto mais de trabalhar no roteiro, de dar um tratamento à história, o Matheus é mais ligado na mise-en-scène. Acabamos encontrando uma maneira singular de trabalhar”, comenta Enock.
No mercado internacional, Inabitável já participou de um festival na Coreia do Sul. Após o evento Festival de Sundance, o curta já tem confirmada a participação em outros seis festivais internacionais, entre eles o de Dublin, na Irlanda, em março.
FESTIVAL DE CANNES É ADIADO PARA JULHO
O Festival de Cannes, que ocorre tradicionalmente em maio, será realizado em julho deste ano devido à pandemia do novo coronavírus, conforme confirmou ontem a organização da mostra francesa. A mais importante competição de cinema do mundo agora está agendada para o período de 6 a 17 de julho. A edição do ano passado foi cancelada devido à crise sanitária e substituída por uma seleção simbólica de 56 filmes.
Cannes, além de premiar as prestigiosas produções, é uma vitrine essencial para a indústria cinematográfica, duramente atingida pela crise de saúde, pela realização paralela à competição do Mercado de Filme. Este ano, o primeiro grande festival do calendário, o de Berlim, regularmente realizado em fevereiro, desistiu de uma edição clássica e anunciou uma programação on-line em março, além de exibições abertas ao público em Berlim, em junho. (AFP)
Cannes, além de premiar as prestigiosas produções, é uma vitrine essencial para a indústria cinematográfica, duramente atingida pela crise de saúde, pela realização paralela à competição do Mercado de Filme. Este ano, o primeiro grande festival do calendário, o de Berlim, regularmente realizado em fevereiro, desistiu de uma edição clássica e anunciou uma programação on-line em março, além de exibições abertas ao público em Berlim, em junho. (AFP)