Pacarrete, primeiro longa-metragem do diretor Allan Deberton, era um projeto sonhado havia uma década, desde que ele rodou seu curta de estreia, Doce de coco (2010). Já naquele momento, convidou a atriz Marcélia Cartaxo para interpretar uma personagem célebre de sua cidade, Russas, interior do Ceará.
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Pacarrete chegaria aos cinemas brasileiros em 29 de abril de 2020. Com a pandemia do novo coronavírus, seu lançamento só ocorreu em 26 de novembro, em 28 salas de 16 cidades, um circuito muito menor do que a previsão original. Em Belo Horizonte, por exemplo, o filme não foi exibido. Mas é um campeão de público em Fortaleza, onde continua em cartaz.
FELIZ E TRISTE
No entanto, o público mineiro terá sua chance de assistir ao longa, que será lançado nesta quinta (7/1) nas plataformas digitais. “É um momento muito aguardado, já que a tentativa de levar o filme para a tela grande foi com horários reduzidos. O streaming, com a pandemia, se consolidou e é onde hoje se chega mais longe. Mesmo com as salas operando com 40% a 50% de sua ocupação, tivemos sessões lotadas, o que nos deixou felizes. Por outro lado, tristes por perceber como o filme poderia ter ido em um tempo ideal”, diz Deberton.Pacarrete (margarida em francês) era o apelido de Maria Araújo Lima, uma senhora excêntrica que era considerada louca pela população de Russas. Ela morreu em 2004, aos 92 anos. Natural da mesma cidade, Deberton tinha lembranças de Pacarrete da época de sua infância, já que, mais tarde, ele se mudou para Fortaleza.
“Era uma figura folclórica, que todo mundo apontava, pois fazia confusão. Só depois da morte dela eu soube, de fato, que ela pode ter sido uma mulher incompreendida, muito à frente do seu tempo. Como ela morou na capital, desde criança teve acesso às artes. Teve aula de balé, piano, foi professora de diversas escolas em Fortaleza. Quando retornou a Russas, sentia falta daquilo a que tinha acesso na capital. Era uma pessoa muito inteligente e acabou sendo vítima de preconceito”, diz ele.
Marcélia Cartaxo encarna essa mulher na volta à cidadezinha, passando as dificuldades pela falta de empatia com a população local. Bailarina no passado, sonha apresentar-se em um espetáculo solo no aniversário de 200 anos de Russas, onde tem uma queda pelo dono da venda (papel de João Miguel), um dos poucos a compreendê-la. Para interpretá-la, Marcélia passou por forte preparação, pois teve que aprender a tocar piano, falar francês e a dançar balé.
A atriz admitiu que, no momento inicial, achava que o papel não era para ela, dada a dificuldade que teve para aprender a dançar. Seu esforço foi recompensado. Já na estreia nacional em festivais, em Gramado, em 2019, Pacarrete levou sete prêmios, incluindo os de melhor filme, direção e atriz.
Ora uma fábula sobre a velhice, ora um drama pessoal sobre um pessoa bastante singular, Pacarrete chama a atenção pela delicadeza com que apresenta a trajetória da personagem. Foi rodado em Russas, em 2018, com participação ativa da população local.
“Vivi na cidade muito tempo, então fizemos um trabalho muito afetivo, de construção de cenografia. O trabalho de som foi muito construído, pois a cidade tem uma sonoridade específica. Tentamos retratar o máximo possível da realidade do interior e trabalhar a personagem através dos contrastes”, diz Deberton.
PACARRETE
• De: Allan Deberton. Com Marcélia Cartaxo e João Miguel. O filme está disponível a partir desta quinta (7/1) nas plataformas digitais