Diretor de fotografia de filmes que fazem a diferença no cinema brasileiro atual – A rosa azul de Novalis, de Gustavo Vinagre; Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé; e Desterro, de Maria Clara Escobar –, Bruno Risas estreia na direção de longas como Ontem havia coisas estranhas no céu.
O filme circulou por festivais nacionais e internacionais. Foi exibido na Mostra Aurora, em Tiradentes, e no Festival de Turim, na Itália. O curador do evento europeu deixou o diretor todo sorrisos ao lhe dizer que, depois de ver o filme três vezes no computador, a quarta, na tela grande, revelou a ele outro filme, muito mais belo. Bruno Risas quer continuar sua carreira de diretor, mas nem sonha em abandonar a direção de fotografia.
Ama o trabalho em equipe, a troca. Reflete sobre a fotografia de filmes: “A gente faz o filme pensando na tela grande, mas, cada vez mais, a multiplicidade de telas permite que as pessoas escolham como e quando vão ver os filmes. Tem gente que vê no celular, no ônibus, no metrô. Não é a mesma fruição do cinema, mas a gente segue trabalhando para fazer os filmes fortes, intensos.”
saiba mais
Minas define nesta quarta (21) seu representante no Duelo Nacional de MCs
Na quarentena, bandas produzem novas versões de músicas antigas
Festival de Roma exibe documentário sobre Glauber Rocha
Briga no aniversário de Maria Eduarda vira onda de memes da internet
Um homem de família é o filme da Sessão da tarde nesta terça (20)
Ama o trabalho em equipe, a troca. Reflete sobre a fotografia de filmes: “A gente faz o filme pensando na tela grande, mas, cada vez mais, a multiplicidade de telas permite que as pessoas escolham como e quando vão ver os filmes. Tem gente que vê no celular, no ônibus, no metrô. Não é a mesma fruição do cinema, mas a gente segue trabalhando para fazer os filmes fortes, intensos.”
Ontem havia coisas estranhas no céu começou a nascer há 10 anos, num momento de crise. Desde a quinta-feira passada (15), encontra-se disponível na Netflix. A crise econômica que atingira os EUA e a Europa tinha seus reflexos no Brasil de 2010, que também fazia a transição da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva para Dilma Rousseff.
ASCENSÃO
“Minha família havia experimentado certa ascensão social, mas aí vieram os problemas. Perda de emprego, disputa pela casa com os meus tios. Comecei a filmar algumas imagens com eles – minha mãe, meu pai, minha avó, que morreu no ano passado, minha irmã. Filmava sem saber o filme que estava fazendo. E aí, um dia, descobri o que queria fazer. Todo mundo que vê o filme e com quem converso fala nessa pegada de documentário, mas, embora seja a minha família, a obra é uma ficção. Estou falando de conflitos familiares numa dimensão meio fantástica, com um toque de ficção científica.”
O filme venceu o prêmio de longa de diretor estreante no Festival Cinéma du Réel. A coisa estranha no céu é um disco voador. A mãe é abduzida. Como fica a vida familiar? “Comecei a filmar numa situação de desemprego que estava atingindo a minha família, mas aí ocorreu uma coisa curiosa. Estava fazendo o filme sozinho, mas ganhei um dinheiro para a produção e a situação mudou. A Flora Dias veio filmar comigo e eu pude empregar as pessoas, num esquema mais profissional. (Flora assina a fotografia do filme concluído e também tem crédito de assistente.) Até os meus pais passaram a ter uma atitude diferente em relação ao que estávamos fazendo.”
E foi aí que houve a grande mágica: “Conversava muito com amigos sobre o absurdo da vida cotidiana, que, para nós, não difere do absurdo da ficção científica. Os códigos que definem as funções sociais das pessoas são invenções, e por isso foi possível encarar o gênero num formato de drama familiar documental.”
A sacada de Bruno foi descobrir que sua mãe, Viviane Machado, poderia ser uma verdadeira, e grande, atriz. A dona de casa que nunca representou revela uma beleza particular. Tem a boca amarga de estrelas como Jeanne Moreau e Lilian Lemmertz, e fuma muito, como a primeira. Encara a câmera sem piscar e num silêncio que amplifica o drama. Numa das cenas, ela não consegue manter o silêncio, ou finge que não consegue. Começa a rir e explode, batendo boca com o filho cineasta.
DISCUSSÃO
Bruno aparece bastante no filme, que começa com sua voz. Em outra montagem, chegou a aparecer mais, mas achou que estava sendo narcisista e reduziu a presença. Nesse caso específico, a discussão com a mãe, em que as vozes de ambos se alteram – ela em primeiro plano, ele fora de campo –, Bruno não consegue diferenciar o que é ficção e o que é documentário. “São as duas coisas, o híbrido é muito forte.”
Justamente o híbrido. “O filme circula muito por diversas formas. É metalinguístico, faz perguntas para si e para os personagens. E era um processo que todo mundo vivia de forma muito intensa. No começo, era tudo muito simples e direto, mas, quando a equipe cresceu e tinha um monte de gente na casa, passou a haver uma construção elaborada, com travelings, refletores. E havia a rotina de filmar, que não era a da casa. A gente chegava cedo, definia a cena, filmava. E quando ocorriam coisas interessantes no set, a gente agregava. Tudo isso eu tinha de discutir principalmente com minha mãe, que é quem mais aparece.”
Bruno está acostumado a filmar personagens reais. Sabe que a exposição é grande quando as pessoas aparecem e se veem na tela. Ontem havia coisas estranhas no céu aborda questões íntimas da família – feridas. “Não queria expor meus pais, mas quando levamos o filme a Tiradentes, e eu vou muito à Aurora, percebi que eles estavam tranquilos. Os problemas deles foram ressignificados para a plateia.”
Com certeza. Com essa mãe, Bruno deu universalidade à história de sua família.