Em uma blitz policial, um estudante morre baleado. A partir desta tragédia urbana, a vida do Cabo Rosinha sofre consequências irreversíveis. É esse o mote do longa-metragem Blitz, filme de René Brasil que estreia nesta quinta-feira (17), nas plataformas de streaming.
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Sobrinho de Bosco, com quem já dividiu os curtas Ressaca (2009) e Máscara negra (2010), René conheceu o texto em seu lançamento. Em 2002, Blitz estreou como uma encenação curta e em apresentação única na Mostra de Dramaturgia Contemporânea, organizada em São Paulo pelo ator Renato Borghi.
Dez anos atrás, o texto finalmente ganhou uma montagem, com direção de Ivan Sugahara e tendo Marcelo Escorel e Janaína Ávila nos principais papéis. Há quase 20 anos, quando o texto foi originalmente escrito, René era estudante de cinema e quis levar a história para o cinema.
“O Bosco sempre foi uma referência, como uma espécie de mentor. Falei com ele que queria que Blitz fosse nosso primeiro longa juntos. Ele participou bastante do filme, esteve no set, adaptou cenas e chegou até a fazer uma cena afetiva, como um comandante da PM (que não chegou a entrar no filme)”, afirma o diretor.
A história, a despeito do mote inicial, versa mais sobre o fim do relacionamento de um casal do que propriamente sobre a morte do estudante. “A morte do menino é o estopim para desnudar algo que está enterrado na relação de um casal, a partir da morte do próprio filho deles. Para mim, é um filme de relacionamento, em que o casal precisa deixar seus medos e até seus preconceitos de lado para conseguir discutir o que realmente os aflige.”
Em cena estão praticamente todo o tempo os atores Rui Ricardo Diaz (Cabo Rosinha) e Georgina Castro (Heloísa). Ele como policial militar, e ela como vendedora de pães, viviam um cotidiano simples e pacato em um bairro de classe trabalhadora, até a morte do estudante. Rosinha tinha a admiração dos vizinhos, levava certa tranquilidade ao bairro em que moravam. A tragédia acaba com tudo.
DESCONFIANÇA
Os antigos amigos passam a desconfiar dele; sua casa é depredada. Rosinha, perante todos, é culpado, independentemente de as investigações nem sequer terem começado. Heloísa culpa o marido não só pela morte do jovem (algo que Rosinha nega com convicção), mas pelo rumo que o casamento tomou. Ela quer sair de casa e tentar refazer a vida. O marido tenta impedi-la a todo custo.
É interessante perceber como a visão de mundo dos dois personagens é pautada pela perspectiva que os outros têm deles. Há uma reviravolta na narrativa que poderia eximir Rosinha dos erros, mas que só faz com que o cabo se afunde na própria fraqueza.
Não é necessário conhecer o texto original para perceber que muito do que foi levado para a tela veio diretamente do palco. Os diálogos, a força da narrativa, estão basicamente como foram escritos para o teatro por Bosco Brasil. “Quis manter a mesma estrutura da peça. Só mexemos em situações físicas, já que a ideia era trabalhar também com as reminiscências”, diz René.
Rodado em São Paulo, Blitz teve 80% das cenas filmadas dentro de uma casa, que serviu ainda como QG da produção. “Como era um filme de baixo orçamento, quis fazer algo que se passasse em um lugar só”, explica o diretor.
Ainda que não seja propriamente um filme de ação, Blitz traz cenas rodadas em uma favela da Brasilândia, distrito de São Paulo. É justamente nesta sequência que se explica muito do que ocorreu com o Cabo Rosinha.
BLITZ
Longa-metragem de René Brasil, com Rui Ricardo Diaz e Georgina Castro. Estreia nesta quinta (17), nas plataformas Now, OiPlay, VivoPlay, SkyPlay e Looke.
Funarte cancela
nomeação de PM
Nomeado em 7 de agosto, o capitão da Polícia Militar da Bahia André Porciuncula Alay Esteves não é mais o secretário nacional de fomento e incentivo à cultura, da Secretaria Especial da Cultura. Em portaria publicada no Diário Oficial da União nesta quarta (16), o ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto, tornou sem efeito a nomeação do profissional, nascido em 1985, apoiador de Jair Bolsonaro, defensor de Carlos Bolsonaro e entusiasta da gestão do secretário Mário Frias. (Agência Estado)
ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ
Desde o assassinato do cidadão negro George Floyd por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, em maio passado, desencadeando uma onda de protestos em diversos países, a brutalidade da polícia se tornou um assunto obrigatório no debate público norte-americano e um tema capaz de influenciar os rumos da eleição presidencial de novembro. No Brasil, denúncias de uso excessivo da força e discriminação contra negros e pobres por parte da polícia datam de décadas. Mas, assim como Blitz, há outros filmes que procuraram assumir o ponto de vista dos policiais para falar sobre as circunstâncias de sua atuação. Confira alguns.
Tropa de elite (2007)
O filme que rendeu prestígio, prêmios (incluindo o Urso de Ouro no Festival de Berlim) e também uma série de polêmicas para José Padilha chegou no início de setembro à Netflix. Se não viu (difícil), vale rever para conferir se, passados 13 anos de seu lançamento, a trama continua com o mesmo impacto. O primeiro longa de ficção de Padilha acompanha o dia a dia de um grupo de policiais e de um capitão do Batalhão de Operação Especiais do Rio de Janeiro (Bope) que quer deixar a corporação. Para isso, entretanto, o capitão Nascimento (Wagner Moura) precisa achar um substituto.
Onde: Netflix e Telecineplay
A gente (2013)
O diretor Aly Muritiba trabalhou durante sete anos em uma prisão em São José dos Pinhais, no Paraná. Utilizando técnicas de documentário e da ficção, ele filmou a rotina dos agentes prisionais, seus antigos colegas. O longa acompanha os funcionários, mostrando que a rotina é de constante pressão. Os superiores vivem distantes da realidade prisional; há escassez de tudo – médicos, remédios, comida – e a burocracia impede que eles exerçam sua função de forma apropriada. Os agentes estão em primeiro plano o tempo todo – as autoridades não aparecem, e os presos têm também pouco destaque.
Onde: Videocamp (videocamp.com, gratuito)
Operações especiais (2015)
No filme de Tomás Portella, um grupo de policiais honestos é enviado a uma cidade do interior do Rio de Janeiro que sofre com o aumento da criminalidade. O governo convoca um delegado íntegro e reúne uma equipe especial para a campanha. Entre os agentes selecionados está Francis (Cleo Pires), uma investigadora novata, que precisa provar seu valor. Em pouco tempo, eles resolvem o problema e são aclamados pela opinião pública. Mas a aplicação do rigor da lei começa a incomodar, e o governo se vê forçado a intervir novamente.
Onde: Netflix
Carcereiros – O filme (2019)
A partir da série homônima lançada em 2017 e baseada no livro de Drauzio Varella, José Eduardo Belmonte dirigiu o longa, que acompanha o carcereiro Adriano (Rodrigo Lombardi). Nesta história, o protagonista e seus colegas vivem um dia dificílimo no trabalho por causa da chegada de um terrorista internacional que passará a noite no presídio, antes de ser levado para o exterior pela Interpol. Briga de facções, invasão de mercenários, tudo acontece em uma só noite dentro do presídio. A Globoplay tem as duas temporadas da série.
Onde: Looke e Telecineplay
A Divisão (2020)
O diretor Vicente Amorim se baseou em uma onda de sequestros no Rio de Janeiro cujo auge foi em meados da década de 1990. Para tentar solucionar a questão, o chefe de polícia Paulo Gaspar (Bruce Gomlevsky) tem que desmontar toda uma indústria por trás dos crimes. O envolvimento vai dos bandidos propriamente ditos a autoridades políticas e policiais interessadíssimos nos altos valores de resgate. Quando a filha de um deputado e candidato a governador é sequestrada, entra em cena a Divisão Antissequestro (DAS), que tem um time de policiais (papéis de Erom Cordeiro, Silvio Guindane e Natália Lage) pra lá de controversos. A história também originou uma série, cuja segunda temporada foi lançada neste mês pela Globoplay.
Onde: Telecineplay