“Faz parte viver num tipo qualquer de bolha, contanto que se perceba o quanto é preciso criar conexões para que tudo melhore. Sempre. Bolha sozinha não faz verão”, escreve o jornalista e cineasta pernambucano Marcelo Luna sobre o seu documentário Fora da bolha.
Produzido de maneira independente e colaborativa com o apoio de amigos, o filme está disponível na plataforma on-line Vimeo. Luna é o diretor dos documentários O rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas (2000) e Para não esquecer Angola (2005).
Fora da bolha nasceu dois dias depois do primeiro turno das eleições de 2018, quando o cineasta percebeu que nada sabia sobre os subterrâneos brasileiros das redes sociais, principalmente do WhatsApp. “Vivia numa bolha”, conta Luna, surpreendido pelo resultado da disputa entre Jair Bolsonaro (então candidato do PSL) e Fernando Haddad (PT).
“O fato é que quase ninguém previu o que aconteceria, não daquela maneira. Nem mesmo os institutos de pesquisa... O resto é história. E começamos a nos habituar com novos termos: fake news, algoritmos”,comenta.
ÓDIO
Questionado sobre o porquê de seu filme, o pernambucano lista questões pessoais, como o interesse jornalístico em uma reflexão sobre a sociedade brasileira, bem como as mudanças percebidas em 2018. “A maneira como foi... Era o sentimento do ódio venceu o sentimento do medo. As coisas estavam muito à flor da pele. Quem estava feliz com a vitória tinha um sentimento de alegria e ódio. E entre quem perdeu já havia um sentimento de descrença. Algo muito forte e interessante. Também houve a quebra de paradigmas. A televisão não era mais tão importante. As campanhas caras, tradicionais, de coligação, não tiveram êxito”, explica.
Questionado sobre o porquê de seu filme, o pernambucano lista questões pessoais, como o interesse jornalístico em uma reflexão sobre a sociedade brasileira, bem como as mudanças percebidas em 2018. “A maneira como foi... Era o sentimento do ódio venceu o sentimento do medo. As coisas estavam muito à flor da pele. Quem estava feliz com a vitória tinha um sentimento de alegria e ódio. E entre quem perdeu já havia um sentimento de descrença. Algo muito forte e interessante. Também houve a quebra de paradigmas. A televisão não era mais tão importante. As campanhas caras, tradicionais, de coligação, não tiveram êxito”, explica.
Em 1990, ao concluir um curso, Marcelo Luna dirigiu o documentário A TV e o voto, sobre as eleições presidenciais no Brasil pós-redemocratização. “Ali a televisão era revolucionária. Mudava tudo. Foram para o segundo turno os dois caras mais incríveis de TV, o Collor e o Lula. Em 2018, isso muda totalmente. O Bolsonaro ganha a eleição em cima da viralização do WhatsApp e das redes sociais, algo que ele vinha construindo desde 2014. Claro, paralelamente ao que estava na mídia. Todas as coisas confluíram”, analisa.
Jornalista e documentarista, Luna trabalhou na área de marketing político. Baseado nessa experiência, passou a reunir o máximo de propaganda política que circulava nas redes sociais. Além de percorrer perfis na internet, ele pediu a pessoas desconhecidas ou não tão próximas, como o porteiro do prédio, a atendente na padaria, o motorista do Uber, a vendedora da loja e o garçom no bar, que lhe enviassem conteúdos. Sem filtros, valia contra e a favor dos candidatos Bolsonaro e Haddad.
“Assim, furei minha bolha e construí uma bela amostra do que circulou naqueles breves 20 dias entre os dois turnos. O trabalho seguinte foi conhecer detalhadamente cada mensagem, processar a propaganda e entender o que tinha em mãos”, descreve.
MOSAICO
Em fevereiro de 2019, Luna fez a primeira entrevista do filme, provisoriamente intitulado de Zap!. O documentário reúne depoimentos de 10 intelectuais de diferentes áreas e, sobretudo, de diversos sotaques. Compõe um mosaico de conceitos, pontos de vista e pensamentos ilustrados por memes e mensagens de internet com o propósito de abrir um canal de diálogo e reflexão fora dos binarismos políticos predominantes atualmente.
Em fevereiro de 2019, Luna fez a primeira entrevista do filme, provisoriamente intitulado de Zap!. O documentário reúne depoimentos de 10 intelectuais de diferentes áreas e, sobretudo, de diversos sotaques. Compõe um mosaico de conceitos, pontos de vista e pensamentos ilustrados por memes e mensagens de internet com o propósito de abrir um canal de diálogo e reflexão fora dos binarismos políticos predominantes atualmente.
“Estou sob o ombro de gigantes”, comenta Luna. “O documentário traz a força dessas pessoas falando. Dá voz a essas pessoas, além da que elas já têm. É um olhar, um recorte, uma gota nesse oceano”, observa.
Fora da bolha apresenta filósofos, antropólogos, psicanalistas, profissionais da comunicação política e consultores políticos de quatro capitais – Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Recife. Luna ouviu Raul Silveira, Marcus Andre Melo, Josias de Paula, Francisco Bosco, João Cezar de Castro Rocha, Débora Abramant, Cila Schulman, Tales Ab’Saber, Eduardo Saphira e Antonio Risério. Os convidados abordam as jornadas de 2013, as eleições de 2014, a Operação Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e a chegada de Jair Bolsonaro ao poder.
“Do mesmo jeito que a polarização só fala de uma coisa, especialista só olha um lado. Eu precisava ouvir vários lados”, conta Luna. Ele diz que buscou criar conexões, oferecendo consistência intelectual e, sobretudo, pensamento livre sobre a história do Brasil contemporâneo.
O cineasta preparou web-debates que serão transmitidos ao vivo e ficarão disponíveis no canal do do Fora da bolha no YouTube. Na sexta, 11 de setembro, o escritor e antropólogo Antonio Risério e o economista Eduardo Giannetti vão discutir a formação da nação.
Em 15 de setembro, a consultora política Cila Schulman e o cientista político Marcus André Melo responderão à pergunta de Luna: “Quem somos nós?”.
FORA DA BOLHA
Documentário de Marcelo Luna. Disponível na plataforma Vimeo