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CINEMA

Novo longa de terror de Rodrigo Aragão tem pré-estreia on-line

Longa venceu edital da Secretaria de Cultura do Espírito Santo e contou com orçamento de R$ 2 milhões - Foto: Fábulas Negras Produções/Divulgação
O cemitério das almas perdidas, sexto filme do diretor capixaba Rodrigo Aragão, que construiu sua carreira com títulos de terror, tem pré-estreia nesta segunda-feira (7), na programação do Festival Cinefantasy. 



Assim como os anteriores Noite de chupa cabras, Mar negro e Mata negra, o novo trabalho, realizado com R$ 2 milhões, via edital da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, tem sua trama baseada no Livro negro de São Cipriano.  

 O fascínio pela história surgiu na infância do diretor, natural de Guarapari. No bairro em que morava, Rodrigo ouvia os rumores a respeito de um senhor que tinha o Livro negro de São Cipriano. “As crianças da rua tinham medo de passar no quintal dessa pessoa, porque diziam que o livro estava na casa dele. Isso me fascinava muito, o tipo de medo que o livro gerava”, conta o diretor, de 43 anos. 

COLONIZAÇÃO 
A trama de O cemitério das almas perdidas é inspirada na colonização do Espírito Santo. “Há vários relatos sobre essa primeira colonização, que foi muito terrível no estado. Peguei um pouca dessas histórias, mas assumindo uma total liberdade de fábula”, diz. 

Na história, jesuítas corrompidos pelo poder d’O livro negro de São Cipriano iniciam um reinado de terror no Brasil colonial, até serem amaldiçoados e condenados a viver eternamente presos sob os túmulos de um cemitério. “Nós somos um povo que tem muita fantasia na cabeça, com muitas lendas, causos e histórias, mas a gente ainda usa isso muito pouco no cinema”, comenta o cineasta.



Com personagens que incluem inquisidores católicos, colonizadores portugueses e tribos indígenas, o roteiro dá destaque para a cultura indígena capixaba. O principal cenário do filme emula o Convento da Penha, um dos santuários religiosos mais antigos do Brasil, localizado no município de Vila Velha (ES). 

Há uma referência às relações entre Espírito Santo e Minas Gerais, personificada por um personagem cujas orelhas foram mutiladas. “A Capitania da Muralha Verde (antigo estado do Espírito Santo) servia, principalmente, para proteger Minas Gerais, que era a riqueza. Era um estado que não poderia progredir muito e para onde eram mandadas as pessoas não quistas em Portugal, realmente os refugiados. Então tinha essa coisa das pessoas sem orelhas, que eram castigadas e enviadas ao Espírito Santo”, afirma Aragão. 

Esse sexto trabalho do diretor reafirma as características dos anteriores. “Todos os meus filmes se passam nesse mesmo universo. É um Brasil meio atemporal, interiorano e cheio de fantasia.”

Embora só tenha sido concluído neste 2020, o projeto do filme nasceu em 2002. “Esse era um roteiro bem complexo. Então tive que esperar a possibilidade de levantar o orçamento dele”, afirma Aragão.



Em sua produção de maior orçamento até aqui, o diretor gravou  num estúdio em Guarapari 80% das cenas. O diretor optou por manter o tom artesanal de seus trabalhos anteriores. “É um longa sem nenhum tipo de efeito 3D. A computação só foi usada para fazer composição de imagem, mas é tudo prático.”

Todos os cenários, figurinos, bonecos, esculturas, maquetes e maquiagens utilizados nas filmagens foram elaborados pela sua equipe. A produção não economizou na quantidade de sangue falso. Aproximadamente 500 litros foram usados nas filmagens. 

O efeito visual é uma paixão do diretor. “O que me encanta no cinema é a fantasia. É poder fazer coisas que não existem, coisas extraordinárias, exageradas. Acho que o excesso de sangue tira um pouco do peso da violência, na verdade, e deixa tudo mais divertido”, afirma.  

O cemitério das almas perdidas é dedicado à memória do ator e diretor José Mojica Marins, criador do personagem Zé do Caixão, precursor do terror no Brasil, falecido em fevereiro deste ano. “Todo mundo que faz filmes de terror no Brasil deve muito a José Mojica Marins. Era o mínimo que eu podia fazer”, diz Aragão, que afirma não se considerar o herdeiro de Mojica no gênero. “Acho que nunca haverá um sucessor do Mojica. A obra dele é única. Ninguém nunca vai conseguir substituir o que ele representa para a história do cinema nacional.”



Embora diretores como Dennison Ramalho (Morto não fala) e Juliana Rojas (As boas maneiras) estejam se destacando com filmes de terror, o gênero ainda é pouco valorizado no cinema nacional. Rodrigo Aragão acredita ser questão de tempo para que ele se popularize.

“O brasileiro é apaixonado por filme de terror. As bilheterias de filmes como Invocação do mal e Annabelle mostram isso. Acho que ainda falta o público brasileiro descobrir o cinema de terror nacional.”

Segundo ele, a conquista do edital da Secretaria de Cultura do Espírito Santo é um indicativo que o mercado entende a importância do gênero no país. “Acho que o país precisa de um cinema que retrata o seu povo e o imaginário popular desse povo. É através do seu imaginário que uma população se ama.”

*Estagiário sob a supervisão da editora Silvana Arantes

O cemitério das almas perdidas
De Rodrigo Aragão. Ficção.Horror. 
95 min. 
Classificação indicativa: 14 anos. 
Exibição on-line nesta segunda (7), das 18h às 23h59h, na página https://cinefantasy.com.br/cinefantasy10-o-cemiterio-das-almas-perdidas.