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SEM SAIR DO CARRO

Frequentadores de drive-in contam o que é bom e o que é ruim no formato

A atriz mineira Bárbara Colen interpreta a enfermeira Karina em Breve miragem do sol. Fabrício Boliveira vive um desempregado que passa a trabalhar como motorista para pagar as contas - Foto: Miguel Vassy/Divulgação
Passados dois meses e meio desde a abertura do primeiro cinema drive-in da Grande Belo Horizonte, somente a partir desta semana esse formato de exibição contará com filmes inéditos. Até domingo (30), os dois empreendimentos do gênero em atividade na região de Nova Lima – Cineart, em Alphaville, e Go Dream, no Vila da Serra – lançam dois títulos nacionais –Três verões, de Sandra Kogut, e Breve miragem do sol, de Eryk Rocha, e um argentino, O roubo do século, de Ariel Winograd.



Os três filmes teriam chegado ao circuito de salas no primeiro semestre deste ano, não fosse a pandemia do novo coronavírus. “Agora, quando começa o movimento de abertura dos cinemas (em outras cidades do país), as distribuidoras estão liberando os lançamentos. Manaus já abriu, e há a perspectiva de abertura de importantes cidades”, comenta Lúcio Otoni, diretor de programação da Cineart, a maior exibidora de Minas Gerais (70 salas em 14 complexos).

A despeito da ausência de novidades na tela grande até então, o público tem aprovado os drive-ins. Seja unicamente para sair de casa em meio ao isolamento social, conhecer uma novidade com cara de nostalgia ou também para sentir um gostinho da sala escura, já que os cinemas estão fechados desde março, as exibições ao ar livre, mas dentro do carro, vêm ganhando adeptos.

“Nunca tinha ido e fui duas vezes com a minha mãe. Estou cumprindo as medidas de isolamento de maneira muito certinha, estava com certa insegurança de sair de casa. Mas me senti muito segura”, comenta a advogada Gabriela Kayano, que assistiu aos filmes Whiplash e Yesterday no Go Dream.



Para ela, ver um filme em um drive-in é uma terceira experiência, que não pode ser comparada à sala do cinema nem tampouco a assistir a um filme em casa. “Embora não tenha o calor humano de uma sala, e ele faz um pouco de falta, por outro lado você consegue assistir a um filme em paz, sem conversa no meio do filme.”

VOLTA NO TEMPO

A bancária Camila Gontijo, que foi com o marido, filhos e nora por duas ocasiões no Cineart Alphaville, achou que o drive-in dá a sensação de uma volta no tempo. “Eu já tinha ido há muitos anos, então foi como reviver a experiência. E em família foi muito bacana, pois no carro você fica mais à vontade.”

O mesmo ocorreu com o economista Leandro Dias, que levou os filhos para assistir a produções infantojuvenis no drive- in de Alphaville e do Mix Garden (este já desativado). “Nunca imaginei que isso fosse possível, pois, para mim, drive-in era coisa da década de 1960. Na primeira vez, fui com curiosidade. E como achamos legal, resolvemos voltar.” Ver filme de dentro do carro, de acordo com ele, não prejudica a exibição. “A disposição dos carros já é feita pensando nisso.”



Leandro, como todo espectador, sente falta de ir ao cinema. “Porque é o contexto de sair de casa, não é só ver um filme. O drive-in vem como um substituto, apesar de não haver contato com outras pessoas”, ele diz. 

Na sala escura, o economista geralmente se incomoda com as luzes do celular. “No drive-in eu percebi que o incômodo pode ser similar com o farol dos carros. Mas às vezes é só alguém ligando por causa da bateria. Como o som está dentro do carro, a sua atenção acaba indo para ouvir e ver a imagem, o que acaba não incomodando tanto.”

O som, por sinal, chamou a atenção das amigas Letícia Brant, assistente de produção, e Luísa Borges, consultora em sustentabilidade, que foram juntas ao Cineart Alphaville assistir a La la land: Cantando estações. A cópia era dublada



SOM

“Foi o único contra, pois estou acostumada a ver filme legendado”, diz Luísa. “O som é muito bom, pensei que não fosse. Parece que você está dentro do filme”, acrescenta Letícia. Diante disso, a dublagem não as incomodou tanto.

Para Letícia, a pequena opção de filmes é desanimadora, ainda mais porque “não é barato”. O valor do ingresso varia de R$ 50 a R$ 90, por veículo. Para o dentista Lucas Mendes, “é um pouco mais salgado” do que o preço de uma entrada para o cinema. “Mas valeu pelo meu domingo à noite. Acho que se tivesse filme novo seria mais viável manter”, acrescenta. 

O chef Caio Soter já conhecia o drive-in de Brasília, que funciona há muitos anos naquela cidade. Assistiu a Whiplash em Nova Lima. “No carro, você fica fechado no seu mundinho, seja com namorada ou família, então é bem legal. E também não tem gente do lado conversando. Por outro lado, pode conversar com quem está com você quando quiser, comentando alguma coisa do filme sem incomodar ninguém.”



Os dois drive-ins de Nova Lima já têm data para acabar. O Go Dream funciona até 13 de setembro. O Cineart Alphaville também ficará ativo somente até meados do próximo mês. “Esta é a ideia, mas não tem relação com a abertura dos cinemas, é mais por causa do início do período de chuvas”, diz Lúcio Otoni. As salas da Grande BH não têm previsão de reabertura. “Estamos preparando com os devidos protocolos, mas não há nada definido.” 


- Foto: Jéssica Quinalha /divulgação

Longa filmado dentro de
um táxi estreia no drive-in


A atriz belo-horizontina Bárbara Colen nunca esteve em um drive-in. Talvez estreie neste domingo (30) para se ver, ao lado da família, na tela grande, pois ela integra o elenco de Breve miragem do sol, que terá sessão no Go Dream. No mesmo dia, o longa-metragem de Eryk Rocha começa a ser exibido na plataforma Globoplay.

Lançado em outubro de 2019 no BFI Festival de Cinema de Londres e no Brasil no Festival do Rio, onde levou três prêmios, o filme acompanha a personagem de Fabrício Boliveira. Após ficar desempregado no Rio de Janeiro, Paulo começa a dirigir um táxi durante a noite, para garantir o seu sustento e do filho Mateus (Cadu N. Jay). A enfermeira Karina (Bárbara Colen) se torna uma de suas passageiras.

“A Karina trabalha em um hospital público da Zona Norte. Os dois têm um encontro que não chega a ser um romance. São mais dois seres humanos cansados, precisando de consolo”, comenta a atriz, que fez laboratório em prontos-socorros do Rio para se preparar para a personagem. Boa parte da narrativa é ambientada dentro do táxi, “um microcosmo de tudo”.



“É um filme muito noturno e traz um pouco da claustrofobia de ficar tanto tempo dentro de um carro. Pela maneira como foi filmado, mostra a dimensão da solidão dos trabalhadores”, diz Bárbara. Ela conta que nas cenas filmadas no carro só estavam ela, Fabrício, Eryk e Miguel Vassy, o diretor de fotografia. 

“Filmamos com a cidade aberta, as pessoas na rua, não tinha locações pensadas. Tudo podia acontecer, pois lidamos com o risco do real. E houve coisas incorporadas (ao filme), como a polícia que parou o táxi. A gente meio que brincava com a improvisação para continuar filmando.”


SEM SAIR DO CARRO

Confira a programação deste fim de semana

   GO DREAM

Estacionamento da Faculdade Milton Campos – Rua Senador Milton Campos, 202, Vila da Serra, Nova Lima. Ingresso (por carro): sexta e domingo: R$ 70; sábado: R$ 90. Vendas: www.godreambrasil.com.br. Capacidade: 100 carros 
» Sexta (28)
•23h: Entrando numa fria maior ainda com a família (2010)
» Sábado (29)
•22h30: Missão impossível: Efeito fallout (2018)
» Domingo  (30)
•17h30: Tá chovendo hambúrger (2009)


•19h30: Infiltrado na Klan (2018)  (foto)
•22h: Breve miragem do sol (2019)

   CINEART DRIVE-IN ALPHAVILLE

Avenida Princesa Diana, 55, Lagoa dos Ingleses, Alphaville, Nova Lima. Ingresso (por carro): terça: R$ 50; quarta: R$ 60; de quinta a domingo: 
R$ 80. Vendas: www.cineart.com.br e no app Cineart. Capacidade: 101 carros.
» Quinta (27)
•18h40: Três verões (2019)
•21h: O roubo do século (2020)
» Sexta (28)
•18h30: O roubo do século (2020)
•21h10: 1917 (2019)
» Sábado (29) e domingo (30)
•18h40: Como treinar o seu dragão 3 (2019)
•21h: O roubo do século (2020)