Quando desembarcou no Brasil, em 2012, a artista sérvia Marina Abramovic planejava fazer uma viagem pelo país em busca de “pessoas e locais de poder”. As razões, naquele momento, não estavam muito claras para a célebre artista performática e para a equipe de filmagem que a acompanhava. O resultado da jornada, que somou mais de 6 mil quilômetros percorridos em seis estados, e os motivos de Marina para fazer essa imersão mística são revelados no filme Espaço além, lançado em 2016 e agora disponível no catálogo da Amazon Prime Video.
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Espaço além é especialmente interessante para o público brasileiro. Além de trazer reflexões sobre a vida e a obra de Marina – que já havia feito algo semelhante no filme A artista está presente (2012), de Matthew Akers, e na autobiografia Pelas paredes (José Olympio, 2017) –, o documentário mostra a profunda relação que ela cultiva com o Brasil.
Marina e sua equipe passam por Goiás, Distrito Federal, Bahia, Minas Gerais, Paraná e São Paulo à procura de diferentes experiências espirituais. Ainda que atualmente seja desconcertante assistir à visita dela ao médium João de Deus, condenado em 2019 pelos crimes sexuais cometidos em Abadiânia, o filme mostra a artista à paisana, misturando-se às “pessoas comuns”, despida do status de celebridade que conquistou na cultura pop.
Desde que começou a colaborar e aparecer ao lado de astros e estrelas da música e do cinema, como Lady Gaga, Jay-Z e Brad Pitt, a fama de Marina Abramovic extrapolou o mundo das artes. Sua performance de maior sucesso, A artista está presente, realizada no MoMA (Nova York), em 2010, arrastou multidões. O vídeo em que ela recebe o ex-companheiro, o artista alemão Ulay (1943-2020), viralizou nas rede sociais.
DOR
Iniciada nos anos 1970, sua carreira sempre teve como tema dominante a dor física: chibatadas nas próprias costas, batidas intermitentes do seu corpo contra uma parede ou longos minutos com o dedo numa chama são algumas das várias ações emblemáticas e dolorosas que ela já fez.
“O que não consigo suportar é a dor sentimental”, conta ela nos primeiros minutos do longa. E, assim, Marina toma ayahuasca, participa de rituais de candomblé e visita curandeiras no interior do Brasil com o objetivo de compreender de que maneira diferentes grupos e crenças enfrentam a dor.
O filme, então, explora os limites entre a performance, a arte e a transcendência, além de mostrar, de perto, rituais de diferentes religiões. Mas engana-se quem acha que a artista realiza essa jornada para se identificar com alguma delas.
“Não gosto de religiões, porque elas me remetem às instituições”, adverte a artista quando o filme já avança para o fim. “O que eu gosto é de espiritualidade, que é uma coisa completamente diferente.” Talvez isso explique seu olhar turístico e encantado, além de revelar que sua real busca é pela transcendência.
Em sua primeira visita ao país, em 1989, Marina Abramovic conheceu Serra Pelada, no Pará, que passou a lhe interessar desde que ela viu o ensaio que o fotógrafo Sebastião Salgado dedicou ao garimpo. A artista pesquisou diversos cristais e as influências da carga energética dessas pedras.
Ela relembra essa passagem ao chegar em Corinto, município de Minas Gerais conhecido como “Terra dos Cristais”. E é de lá que Marina tirou a inspiração para a exposição Terra comunal, realizada em São Paulo, em 2015.
Com a mostra, Marina provou que qualquer um pode fazer uma performance. O Método Abramovic, conjunto de exercícios propostos pela artista para que o público interagisse com os cristais, partia do pressuposto de que qualquer interessado poderia, naquelas circunstâncias, performar.
EXPLOSIVOS
Foi numa manhã de verão, pouco antes das 5h, que o artista chinês Cai Guo-Quiang realizou uma de suas maiores ambições: atear fogo a uma escada entrelaçada de pólvora, com cerca de 500 metros de altura, rumo ao céu.
Apesar de não ter sido amplamente divulgado, em razão das restrições à liberdade de expressão impostas pelo governo da China, o espetáculo, assistido especialmente pela família de Cai e amigos próximos, está registrado no documentário Escada para o céu (2016), de Kevin Macdonald, disponível na Netflix.
Apesar de dar nome à produção, a obra em questão, que levou 21 anos para se tornar realidade, é somente um dos temas do filme, que também funciona como uma retrospectiva da carreira do artista.
Responsável pelo espetáculo de fogos de artifício dos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim, Cai Guo-Quiang explica que sua arte feita com pólvora explora a filosofia oriental e dialoga com várias questões sociais contemporâneas.
Sua matéria-prima são fogos de artifícios, que podem ser disparados em imensos espaços abertos ou até mesmo em galerias de paredes brancas.
“A obra de arte mais poderosa acontece quando existe medo”, declara ele, cujo trabalho é analisado no filme por historiadores e críticos, além de ex e atuais membros de seu estúdio.
ESPAÇO ALÉM – MARINA ABRAMOVIC E O BRASIL
Brasil, 2016, 86min, de Marco del Fiol
Disponível na Amazon Prime Video
ESCADA PARA O CÉU – A ARTE DE CAI GUO-QIANG
Inglaterra, 2016, 76min, de Kevin Macdonald
Disponível na Netflix
Arte no dia a dia
Criada com o objetivo de mostrar como o design impacta as diversas áreas da vida cotidiana, a série Abstract, da Netflix, traz em sua segunda temporada um episódio dedicado ao artista dinamarquês Olafur Eliasson, conhecido por esculturas e instalações em larga escala.
Em tom espirituoso e cativante, o episódio explora as principais inspirações do artista, além de mostrar um pouco do que está por trás de suas criações mirabolantes e megalomaníacas.
A série ainda contempla outras áreas, como a ilustração, a arquitetura e a fotografia. Destaque para os episódios com a figurinista Ruth Carter e a designer de brinquedos Cas Holman.
Já Tales by light, também da Netflix, acompanha a jornada de fotógrafos que registram lugares inexplorados e culturas pouco conhecidas no mundo. Já foram produzidas três temporadas, que somam 18 episódios. Artistas como Art Wolfe, Darren Jew, Krystle Wright, Eric Cheng e Stephen Dupont participam da série.