Na época de seca, principalmente, o pó residual da mineração de pedra destinada à construção civil, de cor esbranquiçada, fica mais perceptível. Aqueles que vivem ao redor das pedreiras sofrem tanto com a poluição quanto com o barulho das explosões, que podem causar abalos sísmicos. É em torno dessa população que gira o filme A cor branca.
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“Gosto da proposta do distanciamento, em que você só observa o que acontece, olha de fora. A vida é assim, ainda mais quando você não conhece bem a história (dos envolvidos)”, continua Nunes. A cor branca acompanha pessoas que vivem ao redor de uma mineradora e o impacto que ela causa em suas vidas.
O núcleo principal de personagens reúne quatro pessoas. O conflito está em torno de uma mulher (Regina Mahia, atriz do curta anterior de Nunes, Desvio, de 2019) que trabalha na mineradora, e de um jovem (o MC Kdu dos Anjos) impedido de deixar a casa por usar tornozeleira eletrônica. Na mesma residência ainda vivem duas senhoras idosas.
A cor branca acompanha esses personagens, um grupo de imigrantes haitianos, outros funcionários da mineradora e demais moradores da região, que não é especificada no filme.
Nunes começou a desenvolver o projeto em 2012 – filmou em 2017 e só finalizou o longa no ano seguinte. Engenheiro civil de formação e funcionário da Cemig, o cineasta (que antes do longa dirigiu seis curtas) fez um trabalho junto a uma mineradora que o impactou profundamente.
“Quando comecei a pesquisar, fiquei muito impressionado com o ritmo e a forma como eles trabalham.” A personagem de Regina Mahia é assistente de blaster. Grosso modo, blaster é o profissional que conecta e distribui os explosivos utilizados nas minerações; o assistente é quem fura os buracos e distribui os elementos químicos necessários para a explosão.
O filme foi quase totalmente rodado em lugares reais: Sete Lagoas, Matozinhos, Belo Horizonte e Capim Branco, além de Seropédica (RJ). Grande parte dele ocorre na mineradora Ilcom, em Sete Lagoas. Já as cenas de explosões foram feitas no Rio. “Não queria simular, e como as explosões são programadas, consegui rodar em Seropédica”, conta o diretor, revelando a dificuldade de acesso às mineradoras para conseguir autorização para filmar. “Foram várias até conseguir uma que topasse.”
Por uma decisão estética do cineasta, A cor branca não tem trilha sonora. Mas o som é quase um personagem. “Não queria um som limpo, queria o máximo de som ambiente, barulho”, explica Nunes.
Em uma das cenas mais fortes – quando os personagens de Regina e Kdu têm uma discussão –, o espectador não consegue ouvir exatamente tudo o que eles falam. No primeiro plano da sequência, as duas idosas assistem ao pronunciamento de Dilma Rousseff após a votação final de seu impeachment, em 2016.
Foi obviamente intencional, explica Nunes. “(Naquele momento) Parte da população estava brigando muito, não se escutava nem A nem B.” É em observações como essa, que exigem uma reflexão do espectador, que A cor branca, a despeito do caminho pedregoso, cresce.
A COR BRANCA
Lançamento na sexta (31), às 23h30, na Rede Minas e no site redeminas.tv. O longa ficará disponível gratuitamente até 30 de agosto no canal do YouTube do realizador (AfonsoNunescinema). Lá também estão disponíveis todos os curtas dele. Nesta quinta-feira (30), às 20h, Nunes fará live com o jornalista Luiz Joaquim no Instagram (@afonso.nunes.33).