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CURTAS

Greatness code mergulha na alma de atletas supercampeões

- Foto: RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS - 14/8/16 Mundial de Atletismo, Berlim, 16 de agosto de 2009. O recordista mundial dos 100 metros rasos, Usain Bolt, disputa a final da categoria ao lado do seu maior rival, o americano Tyson Gay. Aos 30 metros, ele já sabe que está indo bem. Aos 60, está certo da vitória. Ao cruzar a linha de chegada em primeiro, mais de um metro à frente de seu principal oponente, ele tinha baixado sua marca em 11 segundos.


O recorde mundial de 9,58 segundos dura até hoje. "Para mim, numa corrida tudo se move em câmera lenta", diz o atleta jamaicano, aos 33 anos, em entrevista para a série de curtas-metragens Greatness code, que está no ar na Apple TV%2b. "É a intensidade que realmente me ajuda a diminuir o tempo", disse Bolt em entrevista ao Estadão, negando ver tudo em câmera lenta. "Preciso saber exatamente o que preciso fazer para vencer naquele momento, porque, se alguém está na frente, preciso dizer a mim mesmo que tenho de ir mais rápido e mais técnico."

Gotham Chopra, filho do guru de autoajuda Deepak Chopra e sócio, na produtora Religion of Sports, do jogador de futebol americano Tom Brady – marido de Gisele Bündchen –, criou a série depois de perguntar a Kobe Bryant, com quem trabalhou anos atrás, qual seu jogo favorito, e o jogador de basquete citar uma partida obscura.

Ao fazer um projeto com LeBron James, repetiu a questão. E, novamente, a resposta era diferente do que esperava. "Eu acho que muitas vezes, para o atleta, é a experiência interna que conta", disse Chopra ao Estadão. "Talvez seja algo acontecendo na vida dele. Muitos comentam sobre o peso das expectativas. Então, eu acho que, para eles, é realmente o que está acontecendo dentro, não necessariamente o maior palco ou a competição mais importante." Por isso, além das imagens esportivas, a série utiliza animações que tentam recriar esse estado emocional dos atletas.



Os sete primeiros episódios, que duram em média 7 minutos cada, focam em LeBron e Brady, Bolt, a jogadora de futebol Alex Morgan, o campeão de snowboard Shaun White, a nadadora Katie Ledecky e o surfista Kelly Slater. Bolt disse que fazer parte desse grupo foi um presente. "Meu objetivo no atletismo em geral foi sempre estar entre os grandes", disse o corredor, que se aposentou das pistas em agosto de 2017 e ainda tentou carreira infrutífera no futebol.

"Então, para mim, apenas fazer parte disso é maravilhoso, porque mostra que meu trabalho duro ao longo dos anos foi recompensado, e as pessoas reconhecem que sou um dos grandes atletas do mundo." Não que suas corridas maravilhosas e suas medalhas, títulos e recordes já não demonstrassem isso.

PERFORMANCE 

No curta, Bolt destacou que sempre viu as corridas como performances – daí o gesto em forma de raio que virou sua marca registrada e as danças ao final das competições. "A corrida é muito rápida. Sentia que, se tinham vindo me ver no estádio ou estivessem assistindo a mim pela televisão, eu tinha de oferecer uma apresentação. Por isso, sempre achei que precisava mostrar minha personalidade, me verem como pessoa", disse Bolt. Não que isso não tenha lhe causado problemas.



Algumas vezes, foi criticado e descrito como um atleta que não levava as coisas a sério. "Mas é quem eu sou. Eu não ia mudar porque é isso que fez de mim um campeão. Precisava relaxar. Então, isso me ajudou a chegar aonde cheguei." Chopra destacou a energia de Bolt. "Ele é muito importante para seu país e tem uma autoconfiança impressionante", disse o diretor e produtor, que entrevistou o atleta em sua casa, na Jamaica. "É o homem mais rápido do mundo. Então, é alguém legal de ter por perto."  

As atrações

Usain Bolt - atletismo
Tom Brady - futebol americano
LeBron James - basquete
Alex Morgan  - futebol
Katie Ledecky  - natação
Kelly Slater - surfe
Shaun White  - snowboard

Entrevista
Usain Bolt, atleta 

“Tenho ótimas lembranças do Rio”

Quais são suas memórias dos Jogos Olímpicos no Rio?
Competi no Rio algumas vezes nas corridas de rua. Estar no estádio foi maravilhoso. Me apoiaram muito, cantaram meu nome. Era uma energia maravilhosa. Só tenho ótimas lembranças do Rio.

O que faz um atleta aposentado?
Sigo trabalhando com nossos patrocinadores e em prol do atletismo. E eu me tornei pai (Olympia Lightning Bolt nasceu em maio), então, isso me ocupa bastante também.

Gostaria que sua filha seguisse seus passos?
Vou tentar não empurrá-la para o atletismo, porque sei que será mais difícil para ela ao ser comparada comigo. Mas, se ela quiser mesmo, apoiarei.



Quais desafios enfrentados por atletas?
Eles precisam de apoio. Quando entrei no esporte, não era patrocinado porque ninguém presta atenção ao atletismo. Quando comecei a ganhar que consegui patrocínio.

A pandemia mudou como encaramos os esportes? E por que os documentários sobre esse tema são tão populares?
Agora todo o mundo entende como os esportes são importantes. Sinto falta de esportes. Os documentários são necessários porque fazem as pessoas entenderem o sacrifício para ser um atleta de ponta.

Se estivesse competindo hoje, com a pandemia, sua carreira teria um rumo diferente?
Sim. Tenho conversado com atletas, e alguns estão realmente estressados por não poder competir.

E como mantém sua forma?
Vou à academia e comecei no ciclismo, mas é muito difícil.

Por que ciclismo é difícil?
As subidas! Não é brincadeira. Passei a respeitar os ciclistas. Rodar 10 quilômetros não é moleza.