- Foto: Universal Pictures“A história vai parar de se repetir?”. Com essa pergunta, o cineasta Spike Lee deu início a 3 brothers – Radio Raheem, Eric Garner e George Floyd. Divulgado na segunda-feira (1º/6) em sua conta no Twitter, o vídeo, em menos de dois minutos, relaciona as três mortes, todas de homens negros vítimas de violência policial. O primeiro
personagem é fictício – Radio Raheem estava no filmFaça a coisa certa (1989), de Lee.
Garner foi morto em julho 2014,
estrangulado por um policial de Staten Island, Nova York, da mesma formque Floyd, na semana passada, em Minneapolis. “É 2020, pretos e pardos estão sendo mortos como animais”, afirmou o cineasta ao jornal The New York Times. A declaração de Spike Lee se mostrou terrivelmente premonitória: a entrevista foi publicada três dias antes do assassinato de Floyd, em 25 de maio.
Pobreza, racismo, truculência policial estão na pauta de filmes, documentais e de ficção, além de séries, deste e de outros tempos, em que os protagonistas/alvos são negros, como destaca esta matéria. Como afirmou Lee, a história não para de se repetir.
FILMES
FAÇA A COISA CERTA (1989)
- Foto: Dreamworks/divulgaçãoFilme marco da carreira de Spike Lee, acompanha os moradores de Bedford-Stuyvesant, no Brooklyn, em um único dia de muito calor. O local é como um microcosmo dos EUA, em que a convivência diária entre personagens de diferentes etnias – negros (a maioria), latinos, asiáticos, ítalo-americanos – vai criando tensões até culminar em um conflito violento. A filmografia do
cineasta traz outros grandes filmes que abordam a questão racial, do drama amoroso Febre na selva (1991), passando pela cinebiografia Malcolm X (1992) até o mais recente, o brilhante Infiltrado na Klan (2018).
. Onde: Telecine Play e Looke
GREEN BOOK: O GUIA (2018)
- Foto: Andrew Cooper/divulgaçãoAqui o tom é de comédia dramática. Filme vencedor do Oscar 2019 (com alguma injustiça, diga-se, pois Infiltrado na Klan concorria no mesmo ano), é apresentado como uma história baseada em fatos. Trata da amizade entre Don Shirley (Mahershala Ali), virtuoso pianista negro, e seu motorista, o italiano Tony Lip (Viggo Mortensen), durante uma turnê pelo Sul dos EUA na década de 1960, período de forte segregação racial. O livro verde do título é um guia que reunia os (poucos) hotéis e restaurantes que aceitavam negros na época. O filme de Peter Farrelly é um retrato sentimental do
racismo que atingiu em cheio as grandes audiências.
. Onde: Amazon Prime Video
DJANGO LIVRE (2012)
- Foto: Warner Bros/divulgação Maior bilheteria de Quentin Tarantino. O cineasta dá aqui sua versão pra lá de pessoal da escravidão nos EUA. Em 1858, às vésperas da Guerra Civil, Django (Jamie Foxx) é um negro cuja liberdade é comprada por King Schultz (Christoph Waltz), ex-dentista alemão que percorre o país como caçador de recompensas. Nessa improvável parceria, a dupla vai tentar resgatar a escrava de quem Django foi separado. Com humor, provocações e incontáveis referências cinematográficas (a mais imediata é Django, de 1966, de Sergio Corbucci), Tarantino mostra como as tensões sociais fazem parte da formação cultural norte-americana. Na época de seu lançamento, Spike Lee afirmou que “a escravidão nos EUA não foi um western spaghetti de Sergio Leone, foi um
Holocausto.”
. Onde: Globoplay
A COR PÚRPURA (1985)
- Foto: Universal Pictures/divulgaçãoSteven Spielberg, um cineasta já das multidões, realiza aqui seu primeiro drama adulto. No início do século 20, na sulista Geórgia, Celie (Woopi Goldberg, então atriz desconhecida), uma menina negra de 14 anos, sofre constantes
estupros do pai. Tem dois filhos com ele. Forçada a se separar das crianças quando é “dada” em casamento a Mister (Danny Glover), continua a sofrer uma vida de abusos. A personagem passa a escrever cartas para tentar amenizar o sofrimento. A chegada de outras mulheres dará consciência a Celie sobre o seu valor e o que a vida pode lhe oferecer.
. Onde: Globoplay
CORRA! (2017)
- Foto: Netflix/divulgação O Oscar de melhor roteiro original, até então inédito para um negro, só fez brilhar ainda mais a estrela do ator, cineasta e roteirista Jordan Peele, aqui em sua primeira direção de longa. É um filme de terror atípico, recheado de ironia e crônica social. Um casal – ele (Daniel Kaluuya), negro; ela (Allison Williams), branca – viaja ao interior para que o jovem seja devidamente apresentado à família da namorada. No primeiro encontro, a despeito da aparente simpatia dos anfitriões, ele sente o desconforto no ar, clima que será intensificado à máxima potência naquele fim de semana. Com muita acidez, e fugindo do lugar-comum, Peele criou um filme bastante original sobre o racismo e suas formas de manifestação.
. Onde: Netflix
SÉRIES
OLHOS QUE CONDENAM (2019)
- Foto: Netflix/divulgaçãoEm abril de 1989, uma jovem branca foi brutalmente atacada e estuprada no Central Park, em Nova York. Ela ficou em coma por 12 dias, mas sobreviveu, com sequelas. Cinco adolescentes pobres do Harlem, três deles negros, foram presos.
Capitaneados por uma procuradora branca que criou a narrativa para pôr os jovens no centro do crime, investigadores forçaram os meninos a assinar declarações de culpa. A minissérie, que tem entre os produtores Ava DuVernay, Oprah Winfrey e Robert De Niro, recupera a história de um dos maiores erros jurídicos da história dos Estados Unidos. O quinteto só saiu da prisão no início dos anos 2000. Os Cinco do Central Park, nome que o caso ganhou, gerou indenização milionária. O acordo fechado com a Prefeitura de Nova York, em 2014, concedeu US$ 41 milhões aos jovens.
. Onde: Netflix
SEVEN SECONDS (2018)
- Foto: Velvet Film/divulgação Racismo, corrupção policial e injustiça social estão no centro deste drama estrelado por Regina King e Clare-Hope Ashitey. Em Nova Jersey, um jovem ciclista negro é atropelado por um policial branco. O culpado deixa a vítima agonizando e é acobertado pelos colegas. No processo, a polícia tenta desmoralizar a vítima. Uma promotora alcoólatra entra no caso, mas no primeiro
momento “engole” a ficção criada pelos policiais. À medida que a história avança, novas camadas surgem na trama, mostrando que há muita coisa por trás daquele fato.
. Onde: Netflix
DOCUMENTÁRIOS
EU NÃO SOU SEU NEGRO (2016)
- Foto: Sundance Institute/divulgaçãoO ponto de partida do documentário de Raoul Peck, que concorreu ao Oscar, foram as 30 páginas do manuscrito de Remember this house, o livro que James Baldwin não teve tempo de escrever. A obra contaria a história dos EUA a partir de três protagonistas do movimento negro: Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King. Os três foram assassinados entre 1963 e 1968, no ápice dos conflitos pelos direitos humanos. Com montagem primorosa, Peck combina entrevistas, imagens históricas, filmes, comerciais e música pop para apresentar uma
imagem da vida dos negros nos EUA até a atualidade. Costurando todo o material está o próprio Baldwin, seja em cenas de arquivo, seja na narração emocionante de Samuel L. Jackson.
. Onde: Globosat Play
WHAT HAPPENED, MISS SIMONE? (2015)
“Como ser uma artista e não refletir o seu tempo?”, diz Nina Simone (1933-2003) ao entrevistador. Tal afirmativa acompanha o documentário sobre uma das maiores vozes da história da música mundial. Não tivesse crescido na América segregada, Nina poderia ter sido uma grande pianista clássica. Abraçando a canção popular, com ênfase no jazz, a cantora também foi ativista dos direitos civis. O período de engajamento político da artista é a parte mais forte do filme. De comportamento rebelde, mas vinda de uma relação abusiva e muitos excessos (álcool e drogas), Nina Simone foi capaz de inspirar jovens negros contra as adversidades por meio de canções como To be young, gifted and black (Ser jovem, talentoso e negro). Nina Simone não era perfeita, mas como foi grande.
. Onde: Netflix