Um festival on-line que reúne os maiores eventos de cinema do mundo; lançamentos via streaming; e um blockbuster que poderá (com ousadia e muita sorte) salvar a cadeia cinematográfica. Sim, do cenário de terra devastada das primeiras semanas, o cinema vem buscando alternativas para continuar fazendo a roda girar, dois meses e meio depois de declarada a pandemia mundial do novo coronavírus. Mas são possibilidades, não soluções, pelo menos por ora.
Vinte e um festivais internacionais, incluindo os de Veneza (que confirmou sua 77ª. edição para 2 de setembro) e Cannes (cuja 73ª. edição, neste mês, foi cancelada) se uniram para o We Are One, festival global que terá início nesta sexta (29) pelo YouTube. Gratuito, via streaming e sem comerciais, o evento é uma realização da Tribeca Enterprises, empresa criada pelo ator Robert De Niro e pela produtora Jane Rosenthal, que promove o Tribeca Film Festival, em Nova York.
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COPPOLA
Serão exibidos os encontros que Francis Ford Coppola teve com Steven Soderbergh na edição de 2019 do Festival de Tribeca e o de Bong Joon-ho e seu ator favorito, Song Kang-ho (o Ki Taek de Parasita), durante a edição 2019 de Locarno.
Outros grandes nomes que falarão sobre o cinema e o estado da arte são Guillermo del Toro, Jane Campion, Alain Delon e Ang Lee. Completando a programação, há também uma seleção de produções de VR (realidade virtual).
Um dos longas inéditos é o documentário Ricky Powell: The individualist, de Josh Swade, sobre o fotógrafo de rua de Nova York que durante muitos anos foi conhecido como o quarto integrante da banda Beastie Boys. Outra première é a do documentário The iron hammer. Dirigido pela atriz chinesa Joan Chen (O último imperador, Twin Peaks), aqui estreando por trás das câmeras, o longa conta a história da estrela do vôlei olímpico Jenny Lang Ping.
A ex-jogadora que se tornou treinadora acabou sendo tão bem-sucedida fora das quadras quanto o foi dentro, garantindo inclusive o ouro para as chinesas nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.
Entre os curtas, uma das novidades é o japonês Yalta conference online, produzido exclusivamente para o festival por Koji Fukada. O estúdio Dreamworks Animation lança on-line as animações em curta-metragem Bilby, Marooned e Bird Karma.
Já na seara das séries, a israelense Losing Alice é um thriller psicológico que envolve uma cineasta e uma jovem roteirista. John Legend, Oprah Winfrey e Lupita Nyong’o estão no elenco de curtas em realidade virtual.
INDEFINIÇÃO
As edições deste ano dos eventos que integram o We Are One estão sendo repensadas, quando não suspensas, como a de Cannes. Uma edição compacta de um festival e uma versão on-line, as alternativas possíveis, afetam toda a cadeia, chegando até o Oscar. Os festivais servem como termômetro.
Melhor explicando: um longa que tenha sido premiado em Cannes, por exemplo, pode ir para o Festival de Toronto, depois ser indicado ao Globo de Ouro e finalmente chegar à premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Foi basicamente o que ocorreu com Parasita, de Bong Joon-ho, grande vencedor do Oscar neste ano.
Com a cadeia interrompida, ocorre como um efeito dominó. Isso sem falar na série de filmes que tiveram suas estreias adiadas. Já se cogita um possível adiamento da 93ª. edição do Oscar, marcada para 28 de fevereiro de 2021. Ajustes começam a ser feitos. A Academia vem facilitando as regras de elegibilidade de uma produção, permitindo que filmes não exibidos nos cinemas entrem na disputa.
Com centenas de títulos inéditos impedidos de chegar aos cinemas, alguns vêm optando pelo lançamento exclusivo on-line. E não é coisa só de filme independente. A plataforma de streaming Apple TV Plus comprou os direitos mundiais da Sony Pictures para lançar Greyhound, estrelado por Tom Hanks.
Drama ambientado na Segunda Guerra Mundial e com orçamento estimado em US$ 50 milhões, seria lançado nos cinemas dos EUA no próximo dia 12 de junho. Uma nova data ainda não foi anunciada pela plataforma.
Agora, mesmo com as alternativas, nada substitui um lançamento no cinema. Todas as esperanças do meio cinematográfico americano – que reflete nos mercados dos outros países – estão neste momento concentradas em um único filme.
Em 17 de julho, a Warner Bros. pretende lançar Tenet, 11º longa de Christopher Nolan, hoje o cineasta que agrega as maiores bilheterias dos EUA – seus três últimos filmes, Dunkirk (2017), Interestelar (2014) e A origem (2010) arrecadaram, no mundo todo, mais de US$ 2 bilhões.
SEGREDO
Tudo está sendo mantido no maior segredo. A intenção da Warner Bros. é fazer um lançamento massivo no verão americano. Se Tenet for bem-sucedido, outras grandes produções de estúdios também irão, posteriormente, para o cinema. Caso seja um fracasso, o mercado pode ser retrair ainda mais. A ideia é fazer de Tenet o filme-símbolo da reabertura dos Estados Unidos. Tal lançamento irá ocorrer caso os dois maiores mercados do país, Nova York e Los Angeles, estejam em julho totalmente abertos. O que, neste momento, é muito incerto.
Tenet, um filme sobre o qual se fala muito mas se sabe pouco, será o primeiro blockbuster a chegar aos cinemas desde que a pandemia foi declarada. Com um orçamento estimado em US$ 205 milhões, o longa foi rodado em sete países e traz no elenco Michael Caine, Kenneth Branagh, Robert Pattinson e John David Washington. Sem sinopse revelada, apenas os trailers já lançados dão uma ideia de que a narrativa vai tratar da manipulação do tempo para tentar impedir a Terceira Guerra Mundial.
Em um artigo no The Washington Post, Nolan defendeu a importância das salas de cinema. “Quando essa crise passar, a necessidade de engajamento humano coletivo, a necessidade de viver, amar, rir e chorar juntos será mais poderosa do que nunca. Não devemos isso apenas aos 150 mil trabalhadores desta grande indústria americana, devemos a nós mesmos. Nós precisamos daquilo que os filmes podem nos oferecer.”
WE ARE ONE
O festival on-line será transmitido a partir desta sexta (29) até 7 de junho pelo canal do evento no YouTube.
Programação e horários estão disponíveis no site weareoneglobalfestival.com.