Quando se trata de um fenômeno mundial, as experiências vividas de forma abrangente, estão na mesma cronologia para todos. Contudo, ao aproximar as lentes das personagens, estes cineastas puderam perceber que existem histórias particulares, temas e contextos que tornam a pandemia única para cada pessoa, que vale a pena documentar com novos enquadramentos.
Um curta-metragem luso-brasileiro, produzido inteiramente à distância na quarentena, traz nuances típicas das imagens documentais de família, se não fosse pelo contexto em que estão inseridas. As cenas de Women locked inside (do português, Mulheres em quarentena) foram registradas em Lisboa, por Eloá Chaignet e, em Brasília, por Michele Nogueira.
A diretora, Bárbara Tavares, ao “entregar a câmera” para as personagens, deu liberdade para que pudessem enquadrar as histórias e vivências pessoais, em um momento no qual, devido à proporção, as pessoas são representadas quase como dados numéricos. “A gente tem recebido muitas informações no formato científico e linguagem jornalística. Mas também temos a necessidade de registrar o que estamos sentindo. Como documentarista, e essa sendo a minha expressão de arte, fui atrás de pessoas e encontrei a verdade de duas mulheres e mães, que encaram os desafios desse momento”, conta a diretora carioca que mora há quatro anos em Portugal.
Uma semana foi o tempo que Bárbara teve para produzir um registro da pandemia sob o olhar das duas mães: uma que precisa, sozinha, suprir as necessidades da bebê de 1 ano e 2 meses, e sair às compras; e outra que teve de reinventar a rotina para confortar o filho de 8 anos com saudades do mundo lá fora. O curta foi um dos 36 filmes selecionados entre 1,2 mil inscrições do festival alemão dedicado ao tema da pandemia do coronavírus. “Ficamos muito orgulhosos ao sermos selecionados para o Corona Short Film Festival com essa produção. São curtas com muita qualidade e diversidade de mais de 70 países”, comemora.
Trabalho nas ruas
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Uma semana foi o tempo que Bárbara teve para produzir um registro da pandemia sob o olhar das duas mães: uma que precisa, sozinha, suprir as necessidades da bebê de 1 ano e 2 meses, e sair às compras; e outra que teve de reinventar a rotina para confortar o filho de 8 anos com saudades do mundo lá fora. O curta foi um dos 36 filmes selecionados entre 1,2 mil inscrições do festival alemão dedicado ao tema da pandemia do coronavírus. “Ficamos muito orgulhosos ao sermos selecionados para o Corona Short Film Festival com essa produção. São curtas com muita qualidade e diversidade de mais de 70 países”, comemora.
Trabalho nas ruas
Os bastidores urbanos de quem precisa estar nas ruas em um momento de crise na saúde. Essa é a premissa do documentário Da porta para fora, dirigido por Thiago Foresti, que conecta o público à realidade dos entregadores por aplicativo de Brasília. Entre os ossos do ofício, o perigo de contaminação pelo vírus agrava ainda mais as dificuldades desses profissionais.
“Quando começaram os rumores sobre a quarentena e que serviços não poderiam parar, pensei nesses profissionais que têm outros desafios, como a precarização do trabalho e automação. Com o fechamento do comércio, empresas e profissionais estão entrando no ramo das entregas, o que cria muita mão de obra e pouca demanda”, explica o diretor. Para retratar esse recorte da realidade na pandemia, a aposta é em uma linguagem em primeira pessoa e, portanto, mais do que os desafios, o público poderá conhecer os sonhos e opiniões dessas pessoas, revelados por eles mesmos.
A equipe de produção orientou e cedeu câmeras para os três personagens principais da narrativa e convidaram outros entregadores a enviar imagens de câmeras do celular. “Fornecemos duas GoPro e uma 360 para que relatem e conversem com as câmeras. É uma linguagem bem cibernética que lembra o YouTube”, explica Thiago. Eles ainda estão recebendo vídeos dos profissionais que quiserem compartilhar, por meio do WhatsApp (65) 98121-2664. A previsão é de que a produção seja lançada após o período de pandemia.
Fatos e sentimentos
“Quando começaram os rumores sobre a quarentena e que serviços não poderiam parar, pensei nesses profissionais que têm outros desafios, como a precarização do trabalho e automação. Com o fechamento do comércio, empresas e profissionais estão entrando no ramo das entregas, o que cria muita mão de obra e pouca demanda”, explica o diretor. Para retratar esse recorte da realidade na pandemia, a aposta é em uma linguagem em primeira pessoa e, portanto, mais do que os desafios, o público poderá conhecer os sonhos e opiniões dessas pessoas, revelados por eles mesmos.
A equipe de produção orientou e cedeu câmeras para os três personagens principais da narrativa e convidaram outros entregadores a enviar imagens de câmeras do celular. “Fornecemos duas GoPro e uma 360 para que relatem e conversem com as câmeras. É uma linguagem bem cibernética que lembra o YouTube”, explica Thiago. Eles ainda estão recebendo vídeos dos profissionais que quiserem compartilhar, por meio do WhatsApp (65) 98121-2664. A previsão é de que a produção seja lançada após o período de pandemia.
Fatos e sentimentos
Depois dos realities de sucesso que dirigiu, Marisa Mestiço abraçou um novo desafio profissional e pessoal: dar forma ao registro documental de uma realidade que se apresenta turva. A convite da Bobó Filmes, a diretora mostra as diversas faces da pandemia. “Começamos os processos pelo caminho inverso da produção audiovisual. Acho que nesse momento o Brasil está ao contrário, então, pensamos primeiro em como poderíamos fazer a captação sem usar o equipamento e a estrutura tradicional”, explica a diretora, que também é responsável pela direção-geral do Masterchef Brasil.
Com a limitação do deslocamento, os vídeos e depoimentos estão sendo gravados pelos próprios personagens, e por uma equipe reduzida em diversas partes do Brasil e de alguns países, como Bélgica e Estados Unidos. A captação amadora passa, então, a ser absorvida como parte estética e narrativa do projeto, assim como a língua portuguesa. “Estou fazendo muitas descobertas durante o processo e percebo que esse é um sentimento singular, que deve ser expressado na nossa língua. Mas trabalharemos também com factual, com frentes de pesquisa no jornalismo para mostrar os recortes oficiais do mundo”, conta.
Marisa tem recebido inúmeros materiais e acompanhado alguns personagens mais de perto, para orientá-los e provocá-los artisticamente, e, por vezes, se viu como confidente. “Há temas que chegaram até nós de um jeito que não esperávamos. No início, o viés era o isolamento e o medo da doença, e, agora, nos encontramos colaborando artisticamente e falando sobre questões delicadas, como desdobramentos para doenças mentais e até suicídio. A pandemia tem aflorado muita dor e reflexão”, comenta a diretora, assessorada por profissionais para abordar e acompanhar da melhor forma esses temas. O documentário ainda não tem título e está previsto para ser lançado até o fim do ano.
Formato seriado
No terceiro episódio, A tirania da minúscula coroa: covid-19 é um exemplo de como o fenômeno em comum pode ser abordado por diversos pontos de vista. Mais de 300 horas de material e informação foram transformadas em uma série documental para o YouTube.
A produção é resultado de uma parceria inédita entre os taquaritinguenses Gustavo Girotto, jornalista, e Ricardo e Juliano Sartori especialistas na produção de vídeos documentários. “Todo o roteiro, que nasceu na quarentena, é fruto dessa parceria. A produção está alinhada com a tendência moderna dos seriados da Netflix que somos fãs. Mas está imersa e um grande desafio: transformar o celular e a internet em ferramentas para a criação e, esse registro atemporal, servirá de base de consulta no futuro”, conta Gustavo Girotto idealizador do projeto.
Médicos, economistas, artistas, atletas, jornalistas e profissionais das áreas de pesquisa se voluntariaram para compor os conteúdos, compartilhando depoimentos, e buscando uma análise dos impactos e das notícias. “Nosso propósito é reconectar pessoas às boas informações e realidades, e, neste momento, acreditamos que a mensagem correta salva vidas. É um divisor de águas num mundo que nunca mais será o mesmo. Vamos continuar produzindo com o horizonte de tentar ajudar o público a superar essa travessia”, explica Gustavo.
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira