Um dos melhores e mais sublimes nessa lista é Morte em Veneza, de 1971, dirigido por Luchino Visconti (1906-1976), italiano de Milão. Parece até premonição, no momento em que a Itália aparece como o país europeu mais atingido pela doença, com milhares de mortes, em números que já superaram os da China, país de origem do vírus.
Mas vamos ao filme, que tem o Adagietto da Sinfonia número 5, de Gustav Mahler, como candente fio condutor. Com a direção magistral do milanês Visconti e interpretações soberbas de Dirk Bogarde e Silvana Mangano, a história é baseada no livro homônimo do alemão Thomas Mann (1875-1955), o mesmo de A montanha mágica.
Na pele do compositor Gustave Aschenbach, Dirk Bogarde inspira paixão e transpira compaixão no choque entre arte e inocência, idade e juventude, corpo e alma. No início do século passado, Aschenback viaja para Veneza e se hospeda num suntuoso hotel à beira-mar, fugindo de crises pessoal e artística. Tudo ia aparentemente calmo, no coração e na paisagem, até ele pôr os olhos no adolescente Tadzio (Björn Andresen).
Os olhares, os desencontros e a atração do compositor pelo jovem louro são cenas dignas de um mestre do cinema. Não há toques, como pedem os tempos atuais. E naqueles tempos imperavam a vigilância da mamma e do séquito de empregados. Entre o senhor e o efebo há nada menos do que o cólera dominando o cenário veneziano. E aí mora o perigo.
EXTREMOS
O cinema é pródigo em criar atmosferas apocalípticas, anunciando o fim dos tempos e trazendo para as telas vírus mortíferos. Norte-americanos e japoneses são mestres em dar sustos, vestir atores com macacões brancos e cobrir-lhes o rosto com potentes anteparos de vidro.
Mas há aqueles em que trazem “a morte” de um jeito tão discreto que nem contagia (sem trocadilho, por favor) a plateia. Foi o caso de Fim dos tempos, de 2008, de M. Night Shyamalan. Vale dizer que ele dirigiu O sexto sentido, de 1999, o arrasa-quarteirão com Bruce Willis, e depois não emplacou mais nenhum sucesso de crítica – de público, até vá lá...
Na trama, que tem Mark Wahlberg como protagonista, ocorrem mortes em várias cidades dos Estados Unidos, que coincidem em dois pontos: desafiam a razão e chocam pelo inusitado. Sem saber o que está ocorrendo, o professor Elliot Moore (Wahlberg) quer encontrar um meio de escapar do misterioso fenômeno. Ele e a mulher (Zooey Deschanel) decidem partir para as fazendas da Pensilvania com Julian (John Leguizamo), um professor amigo de Elliot, e Jess (Ashlyn Sanchez), a filha dele, de 8 anos. Lá, eles acreditam que estarão a salvo. Talvez na época o filme não tenha tido o sucesso esperado, mas hoje faz algum sentido.
A BOLHA
Neste filme de terror em que 2020 se converteu e parece não se cansar de exibir, com chuvas torrenciais e contínuas, cerveja contaminada e coronavírus instaurando o pânico, há espaço para uma fita de 1958, A bolha assassina, que, três décadas depois, ganhou remake em Hollywood. É sinistro, mas toca o terror.
Em resumo, um homem encontra uma bolha gelatinosa vinda do espaço. Logo, ela gruda em seu corpo e o devora. Uma amostra, então, é levada ao médico, que não consegue identificar sua formação. Insaciável, ela necessita cada vez mais de nutrientes, atacando o que tem pela frente.
Até aí, tudo bem, não fosse por um detalhe: dizem que o filme foi baseado em fatos ocorridos no início dos anos 1950. Então... quem assistir verá. Ou será “quem viver verá”?