Quando a festa começar efetivamente em Los Angeles – às 22h deste domingo (9) para nós, cinco horas a menos para eles, dada a diferença de fuso horário – a grande briga deverá ser apenas entre dois filmes: Parasita e 1917. Coringa é o campeão de indicações nesta 92ª edição do Oscar (disputa 11 categorias), mas são os longas do sul-coreano Bong Joon Ho (seis indicações) e do britânico Sam Mendes (10 indicações), respectivamente, que deverão concentrar as atenções no prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
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Na época, Joon Ho afirmou achar que dificilmente levaria o prêmio máximo de Cannes, por considerar sua abordagem muito “local”. Pois uma das muitas qualidades de Parasita é a ressonância universal de uma narrativa que aborda o embate de duas famílias com a mesma configuração: pai, mãe e um casal de filhos. Uma é rica; a outra é pobre. Parasita vem dialogando com plateias de diferentes países – no Brasil, o filme está em cartaz nos cinemas desde 7 de novembro – por abordar as desigualdades sociais com inteligência, inventividade e olhar crítico.
É o filme-acontecimento de 2019, como a crítica especializada não se cansou de apontar. Já amealhou, mundo afora, US$ 163 milhões – custou US$ 11 milhões. Vai virar minissérie pela HBO, em projeto que une Joon Ho a Adam McKay, diretor de A grande aposta e Vice. Na última semana de janeiro, no Festival de Cinema de Roterdã, na Holanda, Parasita teve um novo lançamento, agora em versão preto e branco, uma das paixões do cineasta sul-coreano.
O título abocanhou prêmios relevantes em Hollywood, como os dos sindicatos dos atores (melhor elenco), dos roteiristas (roteiro original), dos diretores de arte (filme contemporâneo) e o Globo de Ouro de filme estrangeiro. Venceu também o Bafta, o “Oscar britânico”, como melhor filme não falado em inglês e roteiro.
No discurso de agradecimento do Globo de Ouro, Joon Ho levantou a questão que pode ser o grande impeditivo para que Parasita ganhe o Oscar de melhor filme. “Uma vez superada a barreira das legendas, vocês conhecerão muitos filmes incríveis”, disse para a plateia do prêmio, promovido pela Associação de Correspondentes Estrangeiros em Hollywood.
Nesta noite, saberemos se Hollywood repetirá o roteiro protagonizado no ano passado pelo longa mexicano Roma, de Alfonso Cuarón, dando a Parasita as estatuetas de melhor filme internacional e diretor, ou se inovará. O sul-coreano é o 11º título estrangeiro a competir na categoria de melhor filme. Nenhum de seus antecessores venceu.
Chances
O grande rival de Parasita na competição é 1917, que, pelos prêmios recebidos até agora, tem todas as chances de ser eleito o melhor filme. O mais relevante dos troféus foi o de melhor produção pelo Sindicato dos Produtores – dos 28 premiados pelo PGA Awards, 19 também venceram o Oscar de melhor filme.
O épico de guerra de Sam Mendes foi o último a entrar na corrida. Fez uma estreia limitada nos EUA em 25 de dezembro, artifício utilizado para que se tornasse elegível para os prêmios de 2020. Sua estreia oficial no circuito norte-americano foi somente em 10 de janeiro passado. Pois no dia 5, antes mesmo de ser propriamente lançado, 1917 levou os troféus de melhor filme em drama e melhor diretor no Globo de Ouro. Na premiação, Mendes pediu que o público assistisse ao filme “na tela grande”.
Não custa nada lembrar, é a Netflix, em vez dos tradicionais estúdios, hoje centenários em Hollywood, a campeã de indicações neste Oscar: teve 24. Na briga streaming versus estúdios de cinema, um prêmio a 1917 representaria uma posição mais conservadora da Academia frente a este embate.
É indiscutível, além disso, a qualidade da produção, que acompanha dois jovens soldados com uma missão de vida ou morte durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) em um plano-sequência (ilusório) de duas horas de duração. O prêmio de melhor fotografia não deve ter outras mãos do que as do veterano Roger Deakins, um Oscar por Blade Runner 2049 e outras 14 indicações desde a década de 1990. Categorias técnicas (mixagem de som, edição de som, efeitos visuais) também deverão ser dele. Nas bilheterias mundo afora, 1917, que custou US$ 100 milhões, já amealhou US$ 252 milhões, com pouco mais de um mês em cartaz.
Ainda pesa a favor de 1917 a preferência que a Academia tem por filmes de guerra. Os melhores anos de nossas vidas (1946), A um passo da eternidade (1953), Patton (1970), Platoon (1986), A lista de Schindler (1993), O paciente inglês (1996), Guerra ao terror (2008), todos vencedores de melhor filme, abordaram a guerra de maneiras distintas. 1917, que coloca o espectador quase dentro do front, pode se juntar a esse pelotão, tanto por méritos próprios quanto pelo tradicionalismo de Hollywood.