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Arlequina é o centro da trama de 'Aves de rapina', com Margot Robbie

Desde que chegou aos cinemas com a destacada interpretação de Margot Robbie, em Esquadrão suicida (2016), a vilã Arlequina se tornou tão ou mais popular que alguns dos heróis do Universo DC, time que inclui Batman, Superman e Mulher Maravilha. Não por acaso, a Warner (via DC Films) investiu em um longa dedicado à personagem.


 
Em Aves de rapina: Arlequina e sua emancipação fantabulosa, que estreia mundialmente nesta quinta-feira (6), ela aparece protagonista e empoderada, numa trama que, embora pueril, oferece perspectivas válidas sobre uma representação mais assertiva das mulheres nos filmes derivados dos quadrinhos.

O rótulo de “namorada do Coringa”, tão cruel e louca quanto ele, é aqui sumariamente descartado. O fim do romance entre eles é o ponto de partida da história. O palhaço nem sequer aparece.
 
- Foto: Warner/Divulgação
A ex-psiquiatra Harleen Quinzel, que se apaixonou pelo psicopata ao tratá-lo no manicômio e acabou como ele, depois de cair num tanque de substâncias químicas, recapitula brevemente sua história e mostra como vem tentando afogar as mágoas e se esquecer dele, mas ainda gozando da imunidade que o relacionamento lhe dava na cena do crime em Gothan City.



Entre umas e (muitas) outras, a separação se torna pública e muitos alvos anteriores dos delitos de Arlequina procuram acertar as contas. Ao mesmo tempo, ela tenta construir uma carreira independente na cena do crime, com sua notável habilidade em promover o caos.

Porém, seu caminho se cruza com o do sádico chefão da Máfia Roman Sionis (Ewan McGregor), o Máscara Negra. Para expandir seu violento império, ele precisa de um objeto-chave desaparecido e contará com Arlequina para encontrá-lo, “contratada” sob ameaça de morte.

Sem escolhas e com a cabeça a prêmio, Arlequina vai prestar serviços ao vilão, mas a missão esbarra em outras mulheres poderosas. A detetive Renée Montoya (Rosie Perez) cumpre o papel da lei no combate à movimentação criminosa. Jurnee Smollett-Bell interpreta a Canário Negro. Até então cantora de bar e capanga do Máscara Negra, ela repensa sua subordinação a ele.


 
Além delas, aparece uma misteriosa e discreta “assassina do arco e flechas”, que é, na verdade, a Caçadora (Mary Elizabeth Winstead). Elas são as “aves de rapina”, já conhecidas das HQs, que dão nome ao filme. No centro de tudo isso ainda está a trombadinha-mirim Cassandra Cain (Ella Jay Basco), que estabelece uma ligação decisiva com o artefato buscado por Arlequina.


COMÉDIA 


Esse lançamento da DC assume um cômico do começo ao fim, alternando entre gracejos mais ou menos perspicazes dentro de um enredo simplório sobre um vilão cruel. Arlequina não deixa de ser uma palhaça excêntrica, caricata e violenta, embora mais humana em alguns momentos.
 
As sequências de pancadaria e tiroteios têm o exagero caricato típico do formato, geralmente com homens apanhando das mulheres, mas há espaço para tocar em pontos mais sensíveis. A começar pela forma como a própria Arlequina é representada.



Sob direção da sino-americana Cathy Yan e com roteiro de Christina Hodson, o figurino da protagonista se diferencia daquele visto em Esquadrão suicida. No longa de David Ayer, ela aparecia em trajes mínimos, erotizada em closes, aspecto de que Robbie chegou a reclamar em entrevista ao The New York Times, em 2016.

Ainda que esteja longe de ser um ícone feminista, a história lúdica da vilã fala sobre empoderamento e autoconfiança. A vilania machista da vida real entra nessa ficção por meio da personagem da detetive Montoya.
 
Apresentada como uma profissional extremamente competente, ela é subjugada na corporação quando desvenda um caso importante e tem os méritos injustamente atribuídos a um colega, que acaba promovido à chefia.




Todo o poder às garotas


 
A mensagem é uma só: garotas, vocês podem. Em dezembro passado, quando esteve no Brasil para divulgar Aves de rapina: Arlequina e sua emancipação fantabulosa, a equipe do filme – sete mulheres e um homem – falou basicamente sobre empoderamento feminino com a imprensa brasileira.

“Nunca pensei que a Arlequina seria vista como modelo para ninguém, já que ela é meio psicopata, tem um relacionamento péssimo (com o Coringa). Mesmo assim, quando o filme (Esquadrão suicida, de 2016) estreou, por algum motivo as pessoas a viram assim. Talvez as pessoas se identifiquem com as falhas, pois ela está longe de ser perfeita. Acho que a mensagem de empoderamento fica mais forte dessa maneira”, comentou a atriz australiana Margot Robbie, agora repetindo a personagem no cinema com o protagonismo que ela acredita merecer.

“Já vimos super-heróis com capa, voando. Queríamos fazer algo diferente dos filmes de ação, algo mais visceral, pé no chão. Meu objetivo sempre foi mostrar a mulher neste foco”, disse a diretora Cathy Yan, aqui comandando seu primeiro blockbuster. Antes de Arlequina, ela só havia dirigido um longa-metragem, Dead pigs (2018), produção sino-americana.



Além de Margot Robbie, estiveram na ComicCon, em São Paulo, as atrizes Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollett-Bell, Rosie Perez e Ella Jay Basco. Todas passaram por um período de cinco meses de intensos treinos físicos.

“Sou uma mulher de certa idade (ela tem 55 anos), então queria representar uma mulher de certa idade com orgulho. Já no primeiro dia de treinos, meu joelho estourou. Entrei em pânico, pois não queria decepcionar as minhas colegas. Pois segui as instruções, e o treino me deixou mais forte. Minhas cenas de luta são muito realistas e estou numa forma física melhor do que há 15 anos. Espero que as mulheres que chegarem à minha idade entendam que elas não devem parar”, comentou Rosie Perez, que interpreta a policial Renée Montoya no filme.

Margot Robbie não conhecia os quadrinhos da DC antes de fazer o filme. Ela enveredou no universo da personagem e hoje conhece bem as histórias da Arlequina. Na entrevista, a atriz falou que uma história, Blue eyes (Olhos azuis), foi a que mais a inspirou a construir a personagem.

“Nessa história, ela tem uma relação com uma menina e acaba traindo-a. A menina fica cega, o que faz com que a Arlequina se sinta muito culpada. Ela não é uma vilã, não é do mal. É uma anti-heroína”, afirma a atriz.