O filme, conduzido pelo colega dele Rian Johnson, não foi unanimidade, em 2017. É a partir de princípio similar — de prezar circunstâncias e relações entre personagens não reveladas — que o mesmo talento criativo que remodelou para o cinema títulos como Missão: Impossível e Star Trek manteve o suspense do desafio máximo: alinhavar um fim para a saga que, projetando esperança, atravessa mais de 40 anos no imaginário de cinéfilos, sem desprezar a capacidade de renovação. O arsenal de mistério será desfeito, nesta quarta-feira, com as sessões especiais de Star Wars: A ascensão Skywalker, com início madrugada adentro de quinta-feira.
Encerrar, com animação e de maneira “orgulhosa”, um bloco de nove filmes integrados à mente do criador de Star Wars George Lucas casa como uma luva o destino de J.J. Abrams que, à frente de um título (Star Wars: O despertar da força), há quatro anos, estabeleceu a casa dos bilhões (no plural) de dólares de lucro para um único filme da empresa Lucasfilm (via a gigante Disney, na verdade). O rodo — como todo e qualquer fã espera — pode ser passado, quando a menção a Abrams remete ao fracassado desfecho da série Lost, da qual ele foi um dos criadores.
“Estarei fascinado, como espectador, de ver o que virá depois” foi das frases mais enfáticas de J.J. Abrams, sinalizando o fim de contato com os ecos das criações setentistas de George Lucas, à época, na casa dos 30 anos de idade. Ao lado de Chris Terrio (corroteirista, lembrado por filmes como Liga da Justiça e Argo), J.J. Abrams promete “despedidas marcantes” para os personagens aglomerados na eterna luta entre a Resistência e a vilanesca Primeira Ordem. Rebeldes que outrora estiveram ao lado da República (em confronto direto com o Império) voltarão à cena.
Depois do assumido nervosismo de trabalhar com lendas do cinema como Mark Hamill (que retorna à cena) e Harrison Ford, o diretor pontuou o entusiasmo de recuperar o personagem Lando Calrissian (o veterano Billy Dee Williams), que virá num dos postos de comando de uma das naves mais famosas da telona: a calejada Millennium Falcon. Coube ao diretor de fotografia Dan Mindel (o mesmo da saga em cinema Star Trek) o desafio de naturalizar o ambiente, para a aparição póstuma de Carrie Fisher (atriz morta em 2017) — a imponente general Leia. Abrams descreveu como “surreal” o trabalho subsequente (com imagens de arquivo), mesmo depois da perda da amiga e atriz.
Com o ineditismo do filme, fica perfeitamente viável conjecturar em cima das infinitas possibilidades sugestionadas pelo título. Sempre hábil em acondicionar encarnações de personagens, em apelar para flashbacks e em dissecar relações entre pais, mães e filhos, a saga poderia muito bem — com a menção à expressão “ascensão” — englobar um espírito de elevação, e por que não uma “ressurreição” (?) do personagem Luke Skywalker, onipresente na formação da jovem guerreira Rey (Daisy Ridley).
O lado sombrio da Força promete reacender a ordem Sith (eterno obstáculo para os Jedi). Atendendo à linhagem dos Cavaleiros de Ren, Kylo Ren (ninguém menos do que Ben Solo, o filho de Leia, e sobrinho de Luke) será a grande presença ambígua na telona — já que, entre lutas de sabres de luz e armamentos do calibre dos famosos blaster, não se sabe exatamente o lado que defenderá. Darth Sidious, Imperador Palpatine ou ex-chefe sádico de Darth Vader: por qualquer um dos ângulos de denominação, o retorno do ator escocês Ian McDiarmid deve causar furor no novo Star Wars. O recrutamento para o elenco de Richard E. Grant (um dos candidatos ao Oscar 2019), na pele do General Pryde, também reforçará os desafios dos heróis da saga.
Integração sideral
Um dos fundamentos de A ascensão Skywalker será o senso de união dos personagens de Rey, de Finn (o stormtrooper desertor que, pouco a pouco, se fez confiante nas aventuras emocionas da série) e ainda do ousado e decidido Poe Dameron (Oscar Isaac). Ideais de representatividade plena — bastante alardeados pelo diretor J.J. Abrams — devem ultrapassar a questão de gênero (na importância da guerreira Rey) e de negritude (com a relevância do ator John Boyega), já que o criador se mostrou predisposto a incorporar aspectos da diversidade sexual na fita.
Para além do aspecto da perpetuação de universo estabelecido desde 1977 (quando do lançamento de Star Wars, Episódio IV: Uma nova esperança), o nono episódio de Star Wars reserva novas companhias para o “grupo de loucos, alucinados” guerreiros, como já descreveu J.J. Abrams. No time das mulheres, a atriz Naomi Ackie (a Anna de Lady Macbeth) responderá pela brava lutadora Jannah, enquanto Keri Russell (da série Felicity) dará vida a Zorii Bliss, uma amiga do entusiasmado piloto Poe.
Na linha mais fantasiosa, o droide D.O. (inacreditavelmente parecido com a figura da logo dos estúdios Pixar), Babu Frik (uma criatura que se presta ao reparo de droides), Klod (um monstrengo que parece uma enorme lesma) e orbaks — animais que servem como transporte, a exemplo do tauntaun (do episódio de Star Wars de 1980) — entram na galeria de novos tipos.