'Carcereiros 'O filme', com Rodrigo Lombardi, é adrenalina pura

Diretor José Eduardo Belmonte afirma que a trama que o público verá no cinema não é mera continuação da minissérie de TV. Filme estreia nesta quinta-feira (28), em BH

Ana Clara Brant 28/11/2019 06:00
Fotos: Imagem Filmes/divulgação
Rodrigo Lombardi é Adriano, carcereiro às voltas com rebeliões e facções criminosas (foto: Fotos: Imagem Filmes/divulgação)
Carcereiros saiu das páginas escritas pelo médico Drauzio Varella, transformou-se em documentário de Pedro Bial, Claudia Calabi e Fernando Gronstein Andrade, em série da Globo, e agora, finalmente, chega ao cinema. A essência é a mesma – os meandros do sistema prisional do país –, mas os projetos são independentes. Carcereiros – O filme, que estreia nesta quinta (28), é o mais tenso e intenso de todos, acredita José Eduardo Belmonte, responsável pela direção do seriado e do longa.

Assim que leu o roteiro de Marçal Aquino, Fernando Bonassi, Dennison Ramalho e Marcelo Starobinas, o cineasta percebeu a mudança de tom. “Os roteiristas pegaram elementos da série e os colocaram numa frequência bem maior. Certamente, é uma maneira de se aproximar do público do cinema, pois traz questões como terrorismo, milícia, grupos paramilitares. Sem dúvida, a produção tem muito mais ação”, destaca.
Na telona, Adriano (Rodrigo Lombardi) é um carcereiro íntegro e avesso à violência que tenta garantir a tranquilidade no presídio. A chegada de Abdel (o ex-BBB Kaysar Dadour), perigoso terrorista internacional, aumenta a tensão na cadeia, que já vive dias de terror devido à rivalidade de facções criminosas. Agora, Adriano se vê obrigado a enfrentar uma rebelião, além de controlar os passos de Abdel.

Lombardi diz que série e longa são diferentes. A equipe começou a filmar exatamente um dia após o término da segunda temporada. “A temperatura estava elevada no set do seriado, e é exatamente nessa temperatura que o filme começa. Se tivesse um recesso ou folga, a gente ia voltar para a estaca zero. Precisávamos aproveitar toda aquela energia acumulada”, comenta.

Para o ator, o grande diferencial do longa está, sobretudo, no comportamento da câmera. “Na TV, é uma coisa mais documental, de voyeur, como se o espectador estivesse dentro da cena. Já no filme a gente se aproxima mais do thriller policial norte-americano. A gente fica sentado na cadeira do cinema se divertindo, sendo pego de surpresa a todo momento por esse roteiro incrível, que deixou tudo mais fácil para filmarmos.”
 
 
Realmente, Carcereiros – O filme é de perder o fôlego. Em alguns momentos, chega a ser um pouco exaustivo com tanta ação. Os dramas pessoais do protagonista – marca da série – ficaram mais de lado, enquanto sobram tiros, explosões, mortes e negociação com bandidos. Rodrigo Lombardi afirma que o desafio foi manter o suspense, a temperatura elevada. “E é algo que está bem engendrado na complexidade do roteiro. O tiroteio é difícil, a explosão é difícil? Não. Difícil é manter o suspense, os momentos de silêncio com a mesma intensidade das explosões e dos tiroteios”, observa.

O tom documental está menos presente no filme em relação ao seriado. Imagens reais de rebeliões abrem e fecham o longa. “O filme tem um tom mais alegórico, é um longa de ação bem Macunaíma. As imagens documentais estão ali para dar uma segurada. Se você analisar, o presídio é um espelho do Brasil, da nossa sociedade. Está tudo ali”, defende.

Hollywood 


O cineasta conta que foi desafiador rodar um thriller de ação no Brasil, tão distante de Hollywood. “Não dá para fazer comparações com filmes de orçamento milionário, com uma indústria especialista nisso há décadas. Fazer filme de ação aqui é muito complicado. Mas pelo fato de termos equipe entrosada, profissionais muito competentes, espero que o espectador não se decepcione, até porque a história é muito boa”, comenta.

A política carcerária deve ser debatida no Brasil, reforça Belmonte. “É entretenimento, mas a gente joga luz sobre um assunto importante. Temos responsabilidade até moral com esse projeto. O público se interessa, tanto que a série é um sucesso, mas ainda não sabemos se a terceira temporada vai vingar. Assunto certamente tem”, diz. O elenco traz ainda Tony Tornado, Milton Gonçalves, Dan Stulbach, Jackson Antunes, Rainer Cadete, Giovanna Rispoli, Rafael Portugal e Bianca Müller.

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Kaysar Dadour, ex-BBB, interpreta o terrorista internacional preso no Brasil


Três perguntas para...
Rodrigo Lombardi

Ao longo das duas temporadas da série e agora, com o filme, você dominou o personagem. É até estranho imaginar que Domingos Montagner (que faleceu em 2016) faria o Adriano. Como foi a construção do Adriano?

Acho que cairia muito bem nele também, porque Domingos era excelente ator. Ele já estava mergulhado na história, havia sido convidado há um tempo pra fazê-la. Não houve um dia em que não entrasse no set, fizesse uma cena e não pensasse em como o Domingos faria. Esse é só o meu carcereiro. Não é o melhor carcereiro do mundo. É o meu olhar sobre esse sistema, essas questões. Como todo ator do elenco de uma obra intensa e extensa como Carcereiros, a gente aprende a cada dia. O carcereiro do primeiro dia da primeira temporada da série é muito diferente do carcereiro do filme. É óbvio que a qualidade não aumenta com o decorrer do tempo, ela muda. Esse carcereiro evolui com o tempo, assim como evoluí fazendo o personagem.

Qual é a importância do Adriano para sua trajetória como ator?

Todo personagem tem a sua importância. A gente se torna mais experiente a cada trabalho, a cada estímulo da direção, a cada estímulo de um ator, a cada situação em que se envolve com a direção e os autores. E tenta vencer, entregar essa cena, esse episódio, da maneira como a gente pensou. Hoje, me sinto um ator com muito mais cartas na manga do que antes de fazer o filme. Evoluí a cada cena, a cada episódio.

Quais são os seus projetos para 2020?

Começo com as gravações de O anjo de Hamburgo, minissérie dirigida pelo Jayme Monjardim em que represento o Guimarães Rosa, marido de Aracy (Sophie Charlotte). Eles se conheceram durante a 2ª Guerra Mundial no consulado do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, e juntos salvaram centenas de judeus do Holocausto. Logo depois, ingresso num projeto com direção do Guel Arraes e roteiro do Jorge Furtado que também tem a ver com o Guimarães. É o longa Grande sertão: veredas.

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