Crítica de Scorsese a filmes de super-heróis 'racha' Hollywood

Vencedor do Oscar atraiu a ira de fãs da Marvel e de executivos de grandes estúdios, mas Francis Coppola, Ken Loach e Fernando Meirelles apoia o colega

AFP 10/11/2019 04:00
Kimberly White/AFP
O diretor Martin Scorsese brinca com os jornalistas durante a estreia de O irlandês, em San Francisco (foto: Kimberly White/AFP)

A rejeição de Martin Scorsese a filmes da Marvel – o diretor afirmou que eles “não são cinema” – dividiu Hollywood, os espectadores e os fãs. As reações variam de apoio incondicional ao cineasta a acusações de hipocrisia e elitismo.

O vencedor do Oscar escreveu uma coluna no jornal The New York Times argumentando que filmes de super-heróis não trazem o risco, o mistério e a complexidade de “personagens vitais para a arte do cinema”.

De acordo com o diretor de Os bons companheiros, “filmes da Marvel são o resultado de pesquisas de mercado e de testes com o público, para serem examinados, modificados, revestidos e remodelados até que estejam prontos para consumo”. Na opinião de Scorsese, “eles carecem de algo essencial para o cinema: a visão unificadora de um artista individual.”

O novo artigo alimentou a polêmica iniciada na entrevista concedida pelo diretor à revista Empire, em outubro. Francis Ford Coppola, Ken Loach e Fernando Meirelles apoiaram as declarações do colega. Coppola, aliás, descreveu a lucrativa franquia como “insignificante”.

Climatologista 


Alguns dos principais críticos de Hollywood também apoiaram o diretor. “Scorsese é basicamente um climatologista de filmes, sinalizando a mudança sinistra que todos podemos ver com nossos próprios olhos”, tuitou David Ehrlich, crítico do site Indiewire.

O diretor de Taxi driver provocou Hollywood a debater o que é “arte” em se tratando de cinema, e quem pode defini-la, principalmente porque admitiu que “tentou ver apenas alguns filmes” da Marvel.

“Não se pode descartar todo um gênero como não cinematográfico sem assistir aos filmes”, rebateu o produtor Tom Nunan, que ganhou um Oscar e dá aulas na Universidade da Califórnia (Ucla), em Los Angeles. Ele comentou também a rejeição de cineastas a Tubarão e Guerra nas Estrelas. “Ninguém teve a audácia de acusar filmes de grande sucesso de não serem cinema”, reforçou.

Bog Iger, CEO da Disney, proprietária da Marvel, considerou os comentários de Scorsese “muito desrespeitosos” com os profissionais que trabalharam nas produções criticadas. “Ninguém que assistiu a um filme da Marvel pode fazer essa afirmação”, acrescentou.

A atriz Natalie Portman, que atuou em produções da Marvel e estrelará o próximo Thor, disse à revista The Hollywood Reporter que “não há uma forma única de fazer arte”.

Columbia.com/reprodução
(foto: Columbia.com/reprodução)


Fúria


Um exército de fãs obcecados pela Marvel extravasou sua fúria nas redes sociais. Um festival de tuítes chamou Scorsese de elitista. Já Gene Del Vecchio, professor da Universidade do Sul da Califórnia, considera a posição do diretor “a reação da velha escola de Hollywood”.

“Os cineastas de hoje mudaram, a arte se expandiu”, observa Vecchio, acrescentando que o gosto do público se expandiu. Gêneros como ficção científica e fantasia se tornaram mais aceitos. “Mas a velha guarda tem uma visão muito restrita da arte”, alfinetou.

Drew Angerer/AFP
(foto: Drew Angerer/AFP)


Netflix


Para apimentar ainda mais a polêmica, neste mês estreia O irlandês, o drama gangster de US$ 160 milhões que Scorsese criou para a multinacional Netflix, a gigante do streaming.

Em seu artigo, o diretor afirmou que sua posição sobre a Marvel é importante porque produções de super-heróis têm deixado os verdadeiros cineastas fora das salas de exibição. No entanto, O irlandês ficará em cartaz nos Estados Unidos por apenas 26 dias, tempo relativamente curto antes de passar a ser exclusivo da plataforma Netflix. Por outro lado, o blockbuster de super-heróis Vingadores: Ultimato permaneceu nos cinemas por quatro meses depois de estrear.

“Gostaria que O irlandês fosse exibido em telas maiores por mais tempo? Claro que sim”, disse Scorsese, chamado de “hipócrita” por Tom Nunan. “Quando foi que ele se tornou o deus do cinema? Scorsese tem negócios com a mesma empresa que muitas pessoas acusam de destruir o cinema”, arrematou o produtor.  

Tecnologia ‘ressuscita’ James Dean


Warner Bros./divulgação
James Dean foi indicado ao Oscar por sua atuação em Assim caminha a humanidade (foto: Warner Bros./divulgação)


Décadas depois de sua morte, James Dean reaparecerá em um novo filme graças a efeitos digitais que recriarão sua imagem. Falecido em 1955, o ator, “ressuscitado” tecnologicamente, vai “interpretar” um papel secundário no longa Finding Jack, que conta a história de “cães de guerra” abandonados no Vietnã pelo Exército dos Estados Unidos. A informação é da revista americana The Hollywood Reporter.

A produtora responsável por Finding Jack, Magic City Films, divulgou que duas empresas especializadas em efeitos especiais, a canadense Imagine Engine e a sul-africana Moi Worldwide, estão recriando digitalmente o corpo do astro com base em fotos e filmes de arquivo.

A Magic City Films pode lançar o projeto porque controla os direitos de utilização da imagem de James Dean, adquiridos dos herdeiros. De acordo com Anton Ernst, cofundador da empresa e codiretor do longa, “a família vê isso como o quarto filme, um filme que ele nunca fez”. E prometeu: “Não pretendemos decepcionar os fãs.”

James Dean morreu aos 24 anos, em 30 de setembro de 1955, em um acidente de carro na Califórnia. Durante sua breve carreira, participou de programas de televisão e estrelou apenas três longas-metragens: Vidas amargas (1955), Juventude transviada (1955) e Assim caminha a humanidade (1956).

Indicado ao Oscar por Vidas amargas e Assim caminha a humanidade, foi considerado um dos atores mais talentosos de sua geração.

A inclusão de um artista falecido numa produção inédita significa nova etapa no uso da tecnologia no cinema.

Hollywood já recorreu à sobreposição digital de rostos de atores falecidos em dublês, mas não será o caso desta vez. Isso ocorreu, por exemplo, em Velozes e furiosos 7, com Paul Walker. O artista morreu em 2013, enquanto o longa era produzido. 

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