Kleber Mendonça Filho parabeniza Karim Ainouz por escolha para o Oscar

Diretor de 'Bacurau', que também tentava ser o representante do Brasil na corrida pela estatueta, se disse feliz pelo autor de 'Vida invisível'

por Mariana Peixoto 27/08/2019 16:24

Bruno Machado/Divulgação
Cena de 'Vida invisível', de Karim Ainouz (foto: Bruno Machado/Divulgação)

Filme escolhido para representar o Brasil na disputa da categoria Longa-metragem internacional (antigo filme em língua estrangeira) no Oscar 2020, A vida invisível, de Karim Aïnouz, foi selecionado nesta terça (27) por uma comissão formada por nove integrantes da Academia Brasileira de Cinema (ABC).


Eram 12 candidatos, mas, na prática, somente dois estavam no páreo. Presidente da comissão responsável pela escolha, a cineasta Anna Muylaert (Que horas ela volta?) afirmou que a discussão durou duas horas e meia e foi “bem dividida, mas de alto nível”. Segundo ela, aproximadamente metade dos integrantes queriam A vida invisível, e a outra metade Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.


Matematicamente, resolveu-se assim”, afirmou ela, sugerindo que a diferença foi de apenas um voto. “Ambos são filmes com carreiras de qualidade, de dois grandes cineastas que venceram em Cannes. Um é mais bombástico, aponta mais para a originalidade. O outro, na tradição, mas também na qualidade. Uma vez decidido, eu, como presidente da comissão, só posso desejar sorte.”


Vencedor da mostra Um Certo Olhar no festival francês, em maio passado, A vida invisível é ambientado no Rio de Janeiro da década de 1950. Livre adaptação do romance A vida invisível de Eurídice Gusmão (2016), de Martha Batalha, o longa acompanha as irmãs Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Júlia Stockler).


Muito unidas, mas bem diferentes, elas acabam sendo separadas. Guida, a mais velha, foge de casa e retorna grávida, o que a faz ser expulsa pelo pai. Já Eurídice, que sonha em se tornar pianista, acaba ficando sozinha. A separação forçada determina a vida dessas duas mulheres. A narrativa vai de 1950 a 1958 – os momentos finais são em 2018.

Aïnouz dedicou a indicação “A todas as mulheres e às trabalhadoras e trabalhadores do audiovisual brasileiro”. O cineasta cearense de 53 anos diz esperar que “possamos fazer jus a essa indicação e representar o Brasil na lista final da premiação”. Fernanda Montenegro, que faz uma participação no filme, afirmou que a escolha “demonstra que a cultura cinematográfica brasileira, num momento como esse, nos credencia como artistas e cidadãos”.


Nas redes sociais, Kleber Mendonça Filho publicou uma foto entre Rodrigo Teixeira, produtor de A vida invisível, e Aïnouz. “É um grande cineasta brasileiro. Feliz por ele. E fica aqui um abraço pro Rodrigo e um beijo para Fernanda Montenegro!”, postou o diretor de Bacurau, que estreia nesta quinta (29) nos cinemas brasileiros.

 

“Estar nessa corrida junto com um filme tão especial como Bacurau, que também vem tendo grande reconhecimento por onde passa, só engrandece o valor dessa indicação”, afirmou Teixeira.


Esta é a segunda vez que Mendonça Filho perde a indicação. Em 2016, Aquarius, o favorito na época, foi preterido pelo melodrama Pequeno segredo, de David Schurmann (que integrou a comissão de seleção deste ano). A escolha foi apontada como uma represália, já que a equipe de Aquarius, quando da première do longa em Cannes, fez um protesto “contra o golpe em curso no Brasil” – o festival ocorreu às vésperas do impeachment da presidente Dilma Rousseff.


Sétimo longa-metragem de Aïnouz, A vida invisível será lançado em 19 de setembro em capitais do Nordeste para ficar de acordo com as regras de competição da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que aceita inscrições de títulos lançados até setembro em seus respectivos países. Nas demais regiões do país, o filme estreia em 31 de outubro. Nos EUA, o drama de época será distribuído pela Amazon Studios. O longa já foi vendido para mais de 30 países. No Brasil, a primeira exibição será nesta sexta (30), no Cine Ceará.


A indicação brasileira é apenas o início do caminho de A vida invisível rumo à 92ª edição do Oscar. Dezenas de países estão escolhendo seus respectivos representantes. Uma lista com nove semifinalistas será anunciada pela Academia até o fim deste ano. Os cinco finalistas serão revelados, assim como os indicados das demais categorias, em 13 de janeiro. A cerimônia de premiação será em 9 de fevereiro.

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