Longa italiano 'Entre tempos' conta a eterna história do amor

Diretor embaralha passado e presente de uma relação cujos personagens não têm nome. Filme estreia em BH nesta quinta (22)

por Mariana Peixoto 22/08/2019 08:00
Sara Petraglia/Divulgação
(foto: Sara Petraglia/Divulgação)

A passagem do tempo afeta cada pessoa de uma forma diferente. Ainda que seja uma história de amor, Entre tempos, longa-metragem de Valerio Mieli que estreia nesta quinta-feira (22) nos cines Belas Artes e Ponteio, poderia ter qualquer outro pano de fundo. Pois o que interessa no filme, um dos destaques da recente Festa do Cinema Italiano, é como se dá a construção da memória – o mesmo acontecimento ganha diferentes leituras, de acordo com cada personagem.

Segundo longa do cineasta italiano, Entre tempos levou o prêmio de público na mostra Gionarle degli autori do Festival de Veneza de 2018. Os protagonistas não têm nome. Ele (Luca Marinelli) é um rapaz melancólico, de poucas palavras, que só tem lembranças ruins da infância. Racional ao extremo, é o oposto dela (Linda Caridi). Solar, apaixonada, otimista, ela o conhece em uma festa numa ilha italiana. A atração é imediata. Dois extremos, os jovens bonitos e sonhadores apaixonam-se quase imediatamente. Só que o tempo, também rapidamente, vai afetar a relação.

A história em si é bastante simples, quase banal. A partir do primeiro encontro, ele e ela vão se modificando à medida que o tempo passa. Ele por vezes surge mais alegre, enquanto ela se perde em divagações tristonhas. Assim, um parece entrar no lugar do outro, tornando-se complementares.
 
Confira o trailer do filme:


 
O filme não apresenta “tempo espaço” definido. A ação tampouco importa. O espectador descobre que há mudança temporal ao se ater a detalhes: a roupa dela é diferente (no passado, sempre colorida; no presente, mais clara); o cabelo dele está mais curto; o cenário (todos idílicos, uma Itália que foge do senso comum, ora interiorana, ora praiana) se modifica. E há, ainda, os outros personagens com os quais o casal se relaciona em outros tempos: pais, avós, antigas paixões. Tais figuras, que por vezes aparecem apenas num lapso, afetarão o relacionamento.

O que realmente interessa no segundo longa de Valerio Mieli é a forma. Por meio de primorosa montagem não linear – e da fotografia preocupada com cada cena, nada é gratuito –, o diretor consegue extrair de uma colcha de retalhos (não são assim as nossas lembranças?) a narrativa coesa. Tudo é baseado em flashbacks e flashforwards, alguns bastante curtos. Passado e presente se misturam nas lembranças do casal, cada um sob a sua perspectiva.

A plasticidade – até nos momentos mais duros, das brigas, o diretor consegue extrair alguma beleza – é o grande chamariz. E também o jogo de espelhos, o ir e vir no tempo. Se no momento inicial ela parece confusa, quase enfadonha, à medida que a narrativa é construída cada cena ganha um significado.

Como na roda da vida, a história está sempre se repetindo. Mas nunca é a mesma. O diretor parece nos dizer, por meio dos personagens, que cada momento é único, por mais curto e banal que seja. Mesmo que as situações se repitam, elas nunca serão iguais, graças à lembrança que cada um tem dele.

MAIS SOBRE CINEMA