A passagem do tempo afeta cada pessoa de uma forma diferente. Ainda que seja uma história de amor, Entre tempos, longa-metragem de Valerio Mieli que estreia nesta quinta-feira (22) nos cines Belas Artes e Ponteio, poderia ter qualquer outro pano de fundo. Pois o que interessa no filme, um dos destaques da recente Festa do Cinema Italiano, é como se dá a construção da memória – o mesmo acontecimento ganha diferentes leituras, de acordo com cada personagem.
Leia Mais
Marvel não vai mais produzir filmes do Homem-Aranha'Matrix 4' é confirmado e terá Keanu Reeves e Carrie-Anne MossDoze filmes brasileiros disputam indicação para o Oscar; veja listaFestcurtasBH chega à 21ª edição com 123 filmes e música no cardápioTrombonista Raul de Souza faz show de graça para festejar seus 85 anos'Narcos' gerou 'insulto' a 'país que sofreu', diz diretora colombianaA história em si é bastante simples, quase banal. A partir do primeiro encontro, ele e ela vão se modificando à medida que o tempo passa. Ele por vezes surge mais alegre, enquanto ela se perde em divagações tristonhas. Assim, um parece entrar no lugar do outro, tornando-se complementares.
Confira o trailer do filme:
O filme não apresenta “tempo espaço” definido. A ação tampouco importa. O espectador descobre que há mudança temporal ao se ater a detalhes: a roupa dela é diferente (no passado, sempre colorida; no presente, mais clara); o cabelo dele está mais curto; o cenário (todos idílicos, uma Itália que foge do senso comum, ora interiorana, ora praiana) se modifica. E há, ainda, os outros personagens com os quais o casal se relaciona em outros tempos: pais, avós, antigas paixões. Tais figuras, que por vezes aparecem apenas num lapso, afetarão o relacionamento.
O que realmente interessa no segundo longa de Valerio Mieli é a forma. Por meio de primorosa montagem não linear – e da fotografia preocupada com cada cena, nada é gratuito –, o diretor consegue extrair de uma colcha de retalhos (não são assim as nossas lembranças?) a narrativa coesa. Tudo é baseado em flashbacks e flashforwards, alguns bastante curtos. Passado e presente se misturam nas lembranças do casal, cada um sob a sua perspectiva.
A plasticidade – até nos momentos mais duros, das brigas, o diretor consegue extrair alguma beleza – é o grande chamariz. E também o jogo de espelhos, o ir e vir no tempo. Se no momento inicial ela parece confusa, quase enfadonha, à medida que a narrativa é construída cada cena ganha um significado.
Como na roda da vida, a história está sempre se repetindo. Mas nunca é a mesma. O diretor parece nos dizer, por meio dos personagens, que cada momento é único, por mais curto e banal que seja. Mesmo que as situações se repitam, elas nunca serão iguais, graças à lembrança que cada um tem dele.
.