Filme sobre ascensão de Bolsonaro e da extrema-direita vai receber auxílio da Ancine

'Nem tudo se desfaz' foi autorizado a captar R$ 530 mil em recursos, através da Lei do Audiovisual

Lavra Filmes/Divulgação
(foto: Lavra Filmes/Divulgação)

Assinado pelo diretor pernambucano Josias Teófilo, o filme que mostra a ascensão do conservadorismo e a raiz do governo Bolsonaro, intitulado Nem tudo se desfaz: como 20 centavos iniciaram uma revolução conservadora, foi autorizado pela Agência Nacional do Cinema a captar R$ 530 mil em recursos, através da Lei do Audiovisual.

A decisão foi tomada em meio a diversos entraves entre o presidente e o órgão. Após declarar que "não poderia admitir que, com dinheiro público, se façam filmes como o da Bruna Surfistinha", Bolsonaro tomou como estratégia retirar da agência a gestão de seu mecanismo de fomento direto, o Fundo Setorial do Audiovisual, ou FSA, que poderá usar R$ 724 milhões em obras neste ano, e dá-lo para a Secretaria Especial da Cultura, subordinada ao Ministério da Cidadania.

Essa mudança teria de ser feita por medida provisória ou projeto de lei. Se confirmada pelo Congresso, ela pode aumentar, na avaliação de produtores culturais, a ingerência do Poder Executivo na destinação de recursos para obras audiovisuais. O esforço de ingerência também passaria pela transferência dos diretores da agência reguladora para Brasília. Atualmente, eles despacham do Rio de Janeiro. A maior crítica do governo é que a Ancine teria sido aparelhada por gestões passadas alinhadas à esquerda.

O pôster de Nem tudo se desfaz já vem sendo divulgado pelos filhos e apoiadores do presidente em suas redes sociais desde o dia 15 deste mês, porém o valor autorizado foi divulgado apenas há quatro dias, a partir da coluna de Mônica Bérgamo, na Folha de S. Paulo.

"Fui autorizado a captar, mas não captei ainda e nem sei se conseguirei captar", disse o diretor do filme. Josias Teófilo afirmou também que o longa passa por fase de pós-produção, depois de sete meses de captação de imagens e entrevistas, e que o roteiro de montagem ainda vem sendo definido. O longa tem previsão de lançamento para novembro deste ano.

Josias contou, ainda, que o filme nasceu da necessidade de relacionar a eleição de Bolsonaro para a presidência do Brasil com o movimento popular de 2013, conhecido como Jornadas de Junho. As manifestações, que se iniciaram em São Paulo, contra o aumento de R$ 0,20 na tarifa das passagens de ônibus, se transformaram em protestos pelas mais diversas demandas além do transporte público, como saúde, educação e os gastos com as obras da Copa do Mundo, que se realizaria no ano seguinte no país.

"Eu acho que é o grande plot twist da história recente do Brasil, em que uma manifestação de esquerda, convocada com pautas estatistas, foi assimilada pela população e levou a uma mudança de 180° na vida política do Brasil", revelou Josias.

Sobre o tema, o diretor também fez esclarecimentos em sua página no Facebook:



Um diretor de temática conservadora

Josias também é diretor de O jardim das aflições (2017), polêmico filme sobre o filósofo Olavo de Carvalho, atualmente considerado guru do governo Bolsonaro.

Baseado em livro homônimo, lançado em 1995 por Olavo de Carvalho, o longa foi filmado em 2015, na cidade de Richmond, capital do estado da Virgínia, nos Estados Unidos, onde o intelctual reside.

O filme foi alvo de críticas e protestos, sendo rejeitado por diversos festivais de cinema pelo Brasil. Em Pernambuco, O jardim das aflições foi selecionado pelo Cine PE para a sua primeira exibição no país.

A seleção do longa, para integrar a programação de um dos mais tradicionais festivais de cinema do estado, gerou revolta dos cineastas que também tiveram seus filmes escolhidos para participar do evento. Diretores realizaram boicote e retiraram suas produções da mostra cinematográfica. Apesar dos protestos, O jardim das aflições foi o grande vencedor do festival, recebendo os prêmios de Melhor Longa-Metragem, escolhido pelo júri oficial do festival, além de Melhor Filme pelo júri popular, através de votação online.

Diferentemente de Nem tudo se desfaz, O jardim das aflições não contou com auxílio da Lei do Audiovisual e foi realizado por meio de financiamento coletivo.

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