Assinado pelo diretor pernambucano Josias Teófilo, o filme que mostra a ascensão do conservadorismo e a raiz do governo Bolsonaro, intitulado Nem tudo se desfaz: como 20 centavos iniciaram uma revolução conservadora, foi autorizado pela Agência Nacional do Cinema a captar R$ 530 mil em recursos, através da Lei do Audiovisual.
A decisão foi tomada em meio a diversos entraves entre o presidente e o órgão. Após declarar que "não poderia admitir que, com dinheiro público, se façam filmes como o da Bruna Surfistinha", Bolsonaro tomou como estratégia retirar da agência a gestão de seu mecanismo de fomento direto, o Fundo Setorial do Audiovisual, ou FSA, que poderá usar R$ 724 milhões em obras neste ano, e dá-lo para a Secretaria Especial da Cultura, subordinada ao Ministério da Cidadania.
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O pôster de Nem tudo se desfaz já vem sendo divulgado pelos filhos e apoiadores do presidente em suas redes sociais desde o dia 15 deste mês, porém o valor autorizado foi divulgado apenas há quatro dias, a partir da coluna de Mônica Bérgamo, na Folha de S. Paulo.
"Fui autorizado a captar, mas não captei ainda e nem sei se conseguirei captar", disse o diretor do filme. Josias Teófilo afirmou também que o longa passa por fase de pós-produção, depois de sete meses de captação de imagens e entrevistas, e que o roteiro de montagem ainda vem sendo definido. O longa tem previsão de lançamento para novembro deste ano.
Josias contou, ainda, que o filme nasceu da necessidade de relacionar a eleição de Bolsonaro para a presidência do Brasil com o movimento popular de 2013, conhecido como Jornadas de Junho. As manifestações, que se iniciaram em São Paulo, contra o aumento de R$ 0,20 na tarifa das passagens de ônibus, se transformaram em protestos pelas mais diversas demandas além do transporte público, como saúde, educação e os gastos com as obras da Copa do Mundo, que se realizaria no ano seguinte no país.
"Eu acho que é o grande plot twist da história recente do Brasil, em que uma manifestação de esquerda, convocada com pautas estatistas, foi assimilada pela população e levou a uma mudança de 180° na vida política do Brasil", revelou Josias.
Sobre o tema, o diretor também fez esclarecimentos em sua página no Facebook:
Um diretor de temática conservadora
Josias também é diretor de O jardim das aflições (2017), polêmico filme sobre o filósofo Olavo de Carvalho, atualmente considerado guru do governo Bolsonaro.
Baseado em livro homônimo, lançado em 1995 por Olavo de Carvalho, o longa foi filmado em 2015, na cidade de Richmond, capital do estado da Virgínia, nos Estados Unidos, onde o intelctual reside.
O filme foi alvo de críticas e protestos, sendo rejeitado por diversos festivais de cinema pelo Brasil. Em Pernambuco, O jardim das aflições foi selecionado pelo Cine PE para a sua primeira exibição no país.
A seleção do longa, para integrar a programação de um dos mais tradicionais festivais de cinema do estado, gerou revolta dos cineastas que também tiveram seus filmes escolhidos para participar do evento. Diretores realizaram boicote e retiraram suas produções da mostra cinematográfica. Apesar dos protestos, O jardim das aflições foi o grande vencedor do festival, recebendo os prêmios de Melhor Longa-Metragem, escolhido pelo júri oficial do festival, além de Melhor Filme pelo júri popular, através de votação online.
Diferentemente de Nem tudo se desfaz, O jardim das aflições não contou com auxílio da Lei do Audiovisual e foi realizado por meio de financiamento coletivo.