É Floquinho, o cãozinho verde do Cebolinha, que está em evidência. Afinal, o filme Turma da Mônica – Laços, que estreou na semana passada, gira em torno do seu desaparecimento. Mas coube a um outro cachorro dar o start, ajudando a projetar aquela que se tornou a maior empresa de entretenimento do Brasil, a Mauricio de Sousa Produções (MSP). Há 60 anos, em julho de 1959, o desenhista esboçava os primeiros traços do Bidu, símbolo desse império presente em mais de 30 países, que teve sua história publicada primeiro na Folha da Tarde e depois na Folha da Manhã, onde Mauricio de Sousa iniciou sua trajetória.
A partir dali, o desenhista paulista, que já havia trabalhado como repórter policial, não pararia mais. Criou nada menos de 400 personagens para a Turma da Mônica. "O segredo de Mônica ser tão longeva é o fato de ela ter pai e mãe. Ou seja, até pouco tempo, sempre acompanhei bem de perto e fazia quase tudo sozinho. Criava o mais importante da história e minha mulher (Alice Takeda, diretora de arte) dava o acabamento", ressalta Mauricio.
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"A sociedade evolui, e a gente evolui junto. Mesmo tendo nos rendido aos games e ao YouTube (o canal da animação Mônica toy soma 12 bilhões de views, com acessos em vários países), você não vê nada de alta tecnologia ou aparelhos eletrônicos nas mãos de nossos personagens. Eles têm que brincar, manter a amizade e a vida social. Se ficarem presos no game ou celular, isso acaba. O mais bacana é que o leitor nem sente falta", analisa.
CIRCO
Vários eventos e atividades vão comemorar as seis décadas da empresa. O filme (o primeiro da Turma em live-action, com atores) é apenas um deles. "Foi uma feliz coincidência ter sido lançado agora", diz Mauricio. Neste fim de semana, estreou em São Paulo o espetáculo do Circo Turma da Mônica Brasilis, uma viagem às raízes e à diversidade do Brasil. O elenco reúne Fafy Siqueira, Paula Lima e Olodum. Em setembro, a superprodução chega ao Sesc Palladium, em BH. "Deve ter umas 200 pessoas envolvidas. Tudo é grandioso. Vamos falar sobre a riqueza cultural do Brasil, passando pelos índios, os negros", informa Mauricio.
Em 17 de julho, estreia a exposição Olá, Mauricio!, que ficará em cartaz até o fim do ano no prédio da Fiesp, em São Paulo. Em agosto, o 47º Festival de Cinema de Gramado homenageará o desenhista com o Troféu Cidade de Gramado. Em setembro, o livro 5... 4... 3... 2... 1... Mônica e Menino Maluquinho perdidos no espaço marca, pela segunda vez, a parceria de Mauricio de Sousa com o mineiro Ziraldo.
Mauricio é modesto com relação aos festejos. O que o orgulha, de verdade, e o emociona é ter conseguido alfabetizar milhões de brasileiros com seus gibis. "Sempre que dou uma palestra, pergunto à plateia: quem aqui aprendeu a ler com as revistas da Turma da Mônica? Prontamente, mais de 90% levantam as mãos. Isso é o que me toca.”
Mesmo com tantas realizações, ele não se considera um empreendedor. "Digo que sou criativo e inventivo. Não tenho curso de administração. Mas o básico, que é gastar conforme você ganha, a gente faz. Ao longo desses 60 anos, entra crise, sai crise, plano econômico, e nós sempre tivemos uma caminhada estável, acompanhando os tempos, as possibilidades", conclui.
De Magali para Magali
De Magali para Magali
Ao chegar ao hotel em BH para prestigiar a premiére de Turma da Mônica – Laços, Mauricio de Sousa foi surpreendido por “uma arrumação lindinha", como ele definiu. Na cama do quarto, a boneca de pano da Magali, envolta em corações, trazia o seguinte recado: "Baba querido. Bem-vindo à cidade de sua filha mais legal. Te amooooo!"
Magali Spada e Sousa, de 57 anos, tem nove irmãos. Mauricio tem 11 netos e quatro bisnetos. Ela mora na capital mineira há mais de 20 anos. Veio quando o marido foi transferido, nunca mais quis sair. "Meu pai brinca que moro aqui porque tem a melhor comida do Brasil (risos). Já passei quase metade da vida em Minas", celebra. Léo, um dos três filhos dela, e o neto João são mineiros.
Magali ficou tão emocionada com Laços... que mal conseguiu dormir. "Deitei às 4h, acordei às 6h e às 10h já estava almoçando (risos). Foi muita adrenalina. Quero ver de novo, reparar nos detalhes com calma. Bateu uma saudade quando vi o filme: lembrei-me da infância, daquela coisa de brincar na rua. Há muito tempo não me sentia tão feliz", revela.
JEITINHO
Magali Spada se encantou com Laura Roseo, de 11 anos, a Magali do cinema. “Ela tem o meu jeitinho quando era criança. Minha filha ficou impressionada de ver como Laura lembra as fotos de quando eu era pequena. Ela é uma graça", diz.
Um dos pontos positivos do longa foi a escolha do elenco e como cada ator se encaixou perfeitamente em seu personagem, acredita a filha de Mauricio de Sousa. "Foi uma coisa abençoada. Todo mundo tem a sua concepção de como é a Mônica ou a Magali, e eles incorporaram direitinho", salienta.
As semelhanças entre a Magali real a da ficção não param por aí. Ambas são magras e comilonas. "Tenho sorte de comer tanto e não engordar", diz Magali Spada. "Como demais, o tempo todo, mas sou um graveto. Não entendo o que acontece", revela Laura Roseo, que adora frutas. Uma delas, aliás, virou predileta meio "forçadamente". "Já gostava, mas em todo lugar a que vou me oferecem melancia. Na escola, no supermercado. Então, a melancia se tornou a minha preferida", brinca a garota.
DESAFIO
DESAFIO
Uma cena envolvendo comida representou um desafio para Laura. Ela está na casa do vilão, prestes a ajudar os amigos a salvar Floquinho, quando se depara com a geladeira aberta. "Fico hipnotizada por uma melancia. Tinha que demonstrar apenas com o olhar todos os sentimentos que a cena pedia. Foi um pouco difícil, mas o Daniel (Rezende, diretor) me orientou e acabou tudo bem", conta a menina, que já é reconhecida nas ruas.
Laura mora com os pais e dois irmãos em Bragança Paulista, a 80 quilômetros de São Paulo. Jamais havia atuado, até que a mãe, Juliana, a inscreveu na seleção para Laços. "Como nunca fiz nada do gênero, a gente não teve muita esperança, mas quando surgiu o convite para o primeiro teste, nem acreditei. Foram oito, com mais de sete mil crianças de todo o Brasil. Meus pais sempre me aconselharam a manter os pés no chão, mas também a dar o meu melhor e me divertir. Deu certo", comemora.
Laura, que rodou o filme nas férias de julho de 2018, teve contato pela primeira vez com HQs da Turma da Mônica quando começou a ser alfabetizada. "Sempre li e fui fã da Magali. Imagina a emoção de fazer parte de tudo isso. Já quis ser bióloga, jogadora de futebol e pediatra, mas agora tenho certeza de que quero ser atriz", diz a simpática garota, que está fazendo curso de teatro. "Não foi trabalho, mas diversão. Conheci o Mauricio, a Magali e até chorei. Ganhei grandes amigos. Estou torcendo para ter a continuação (do filme) e surgirem outras oportunidades”, conclui.