Uai Entretenimento

Mineira Yara de Novaes encara novos desafios na telinha e na telona

A atriz mineira está no elenco de Shippados, na Globoplay - Foto: Paulo Belote/tv globo/divulgacaoO palco sempre foi o lugar da atriz mineira Yara de Novaes. Recentemente, ela passou a se dedicar também a outras frentes, como séries e filmes. “O teatro sempre me demandou muito. Sou atriz, diretora e professora. Nunca tive muito empenho para outras coisas, ou não conseguia conciliar. Mas diminuí um pouco o ritmo, abri espaço para novas possibilidades”, revela.


Yara, de 52 anos, começou a atuar aos 15. Em quase quatro décadas de carreira, teve poucas experiências na TV e no cinema. Na telinha, o único trabalho foi uma ponta na minissérie Grande sertão: veredas, exibida pela Globo em 1985, protagonizada por Bruna Lombardi e Toni Ramos.
Agora, ela descobre um novo mercado: o streaming, que mescla televisão e internet. Yara está no elenco de Shippados, seriado da Globoplay estrelado por Tatá Werneck e Eduardo Sterblitch. Conta a história de jovens adultos tentando lidar com o amor neste mundo repleto de aplicativos e redes sociais.


Yara faz o papel de Dolores, a excêntrica e “sem noção” mãe de Rita (Tatá). Pôs na cabeça da filha que o pai abandonou a família por causa dos ataques de tosse dela, quando menina. “Dolores é uma ‘psico’, meio maluca e meio severa. Tem um pouco a ver com a minha personagem em Love, love, love. Os produtores da série me viram e acabaram me chamando.

O teste era para esse papel”, conta. A mineira se refere à peça sobre diferentes gerações de uma família que lhe rendeu, em 2018, o Prêmio Shell de melhor atriz.


Durante a audição para o casting de Shippados, ela contracenou com a amiga e conterrânea Fafá Rennó, o que lhe trouxe a sensação de segurança e liberdade. “Foi uma alegria ter a Fafá ali fazendo a réplica, acho que até me ajudou de certa forma”, acredita. Yara está feliz em fazer parte de Shippados, que deve ganhar segunda temporada. “Dei uma sorte muito grande de cair naquela turma maravilhosa. Seja a direção da Patrícia Pedrosa e o texto da Fernanda Young e do Alexandre Machado (criadores de Os normais), assim como atores vigorosos e jovens com enorme maturidade artística. É um grupo pequeno, mas muito amoroso. Todos muito inteligentes, com habilidade técnica impressionante.

E ainda tivemos a preparadora de elenco Tati Lenna, que é de Belo Horizonte”, destaca.

NETFLIX Outra novidade para Yara é participar de uma produção da Netflix, no papel de uma promotora. Ambientada na década de 1990, Irmandade – ainda sem previsão de estreia – conta a história de Cristina (Naruna Costa), advogada honesta e dedicada que descobre que o irmão (Seu Jorge) é líder de uma facção criminosa. Coagida pela polícia, torna-se informante e é obrigada a trabalhar contra ele. Nesse processo, passa a questionar seus próprios valores, a lei e a Justiça.


Em breve, Yara será vista no longa-metragem Depois a louca sou eu, da diretora Júlia Rezende (Meu passado me condena e De pernas pro ar 3), inspirado no livro de Tati Bernardi. O filme mostra como Dani (Débora Falabella), desde garota, lida com crises de ansiedade. Adulta, ela recorre a terapias e medicações para conviver tanto com Sílvia (papel de Yara), sua mãe superprotetora, quanto com todos que a cercam. “Curiosamente, nesses três projetos trabalhei com diretores muito jovens da mesma geração. Muito conscientes, eles gostam de lidar com o ator. É um trio que está sempre à frente de tudo e se preocupa com todos os detalhes, sobretudo a elaboração do personagem”, diz Yara, referindo-se a Patrícia Pedrosa (Shippados), Pedro Morelli (Irmandade) e Júlia Rezende (Depois a louca sou eu).

MINAS Mesmo pertencendo a gerações diferentes, Yara e Débora Falabella são grandes parceiras. Yara conheceu a amiga quando ela tinha 14 anos, em BH.

Em 1996, as duas trabalharam na peça A Família Addams (1996), dirigida por Carlos Gradim, interpretando mãe e filha. Convidada por Rafael Conde para a direção de atores no curta Françoise (2001), Yara acabou dirigindo Débora pela primeira vez.


“Muita gente comenta que somos parecidas fisicamente. Acho que é uma coisa de alma, de energia, o que acaba externando essa semelhança”, acredita Yara. Em 2004, a parceria começou a se estreitar. Débora dividiu com a Odeon Companhia Teatral, fundada por Yara e Gradim, a produção do espetáculo Noites brancas, inspirado no romance de Dostoiévski.


No ano seguinte, as duas se juntaram ao diretor e produtor Gabriel Paiva para criar o Grupo 3, que lançou as peças A serpente (2005), O amor e outros estranhos rumores (2008), O continente negro (2010), Contrações (2013) e Love, love, love (2018) – as duas últimas ainda em turnê. Em 23 de agosto, estreia, em São Paulo, Neste mundo louco, nesta noite brilhante, com texto da mineira Sílvia Gomez, sobrinha de Yara e mulher de Gabriel.

 


Sílvia, de 41 anos, coleciona prêmios importantes, além do reconhecimento da crítica e do público. “Será a primeira direção do Gabriel no Grupo dos 3. O texto, muito interessante, tem como ponto de partida a violência contra a mulher, estupro coletivo, essa loucura que estamos vivendo. Devemos ter em cena uma banda de garotas bolivianas”, adianta Yara.
A base da companhia é São Paulo, onde Yara mora desde 2003. Antes, ela viveu no Recife, para onde se mudou com o ex-marido, o jornalista Fernando Rocha, com quem tem dois filhos – Pedro, de 27, e Rafael, de 21.

A atriz diz que as circunstâncias familiares a fizeram sair de Minas, mas sempre teve o desejo de ir embora.


“BH é meu manancial, onde nasci e onde compreendi o que é fazer teatro, o que é ser artista. Saí com mais de 30 anos, mas todas as vezes em que me apresento na minha cidade, como atriz ou diretora, tenho as piores ansiedades. É o meu lugar de maior pertencimento, o mais ancestral. Por enquanto, não há planos de voltar a viver aí, mas sempre tenho projetos profissionais em BH, seja os meus ou dirigindo amigos”, diz.


Yara está realizada com o caminho que seguiu. “Ser atriz é algo muito estruturado e estruturante pra mim. Não consigo me ver sem isso. É a maneira de me colocar no mundo, de lidar com a realidade, de conseguir ser um indivíduo político, um indivíduo estético e filosófico. É muito mais do que um ofício. É uma escolha de vida. O teatro é, realmente, um lugar onde cabe o mundo inteiro: aceita todas as pessoas, todas as histórias, os diversos pontos de vista. É uma profissão de fé”, conclui.

.