Em mais uma noite ordinária, a cantora Luizianne (Samya De Lavor) desafina no palco cantando um brega romântico. A clientela de sempre é formada por um homem fantasiado de Mickey, outro com o corpo coberto de tinta prateada e mais um que tenta ser parecido com o Wolverine. Enquanto isso, a proprietária, Deusimar (Yuri Yamamoto), cuida do balcão do estabelecimento. Eis que entra um tipo diferente, logo interpelado sobre sua origem pelo funcionário Coelho (Rafael Martins), que veste uma fantasia cor-de-rosa do animal replicado por seu nome. “De longe”, responde o marinheiro Jarbas (Démick Lopes), cuja presença transformaria os dias no Inferninho, que dá nome ao filme dos diretores cearenses Pedro Diógenes e Guto Parente.
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Como o nome do longa sugere, a trama é totalmente ambientada em um desses estabelecimentos encontrados na boemia de qualquer cidade brasileira, entendidos pelo diretor como “um lugar de se libertar fantasias”. Por isso, parte do elenco aparece pitorescamente caracterizada, como o auxiliar Coelho.
Sobre a dona do bar, uma mulher transgênero, ser interpretada por um homem cisgênero, o diretor diz que Yamamoto “era a única pessoa capaz de interpretá-la, justamente por ter criado a personagem a partir de suas fantasias, desejos e imaginações”. Embora a diversidade LGBT esteja presente em outros personagens, Diógenes reforça que a ideia central é uma história sobre “amor livre”. “Partindo de todos esses elementos do inferninho, é uma história sobre amor sem barreiras, sem limites, que simplesmente surgisse ali no inferninho, que é onde as pessoas são quem são, sem precisar de máscaras e, ao mesmo tempo, livres pode botar as fantasias para fora”, argumenta.
A ideia de diversidade está presente também nos sentimentos que envolvem a trama. O amor entre Deusimar e Jarbas, que no começo a leva a sonhar apaixonada com viagens pelo mundo ao lado do marinheiro, encontra empecilhos e contornos dramáticos. Primeiro, por um conflito com a cantora Luizianne. Depois, por um grande empreendimento que ameaça a existência do bar. Além disso, a presença do novo amante atrai figuras perigosas que estão atrás dele.
‘ONÍRICO’
Ao melodrama, que alterna momentos cômicos e violentos, os diretores adicionaram traços de surrealismo.