Três gerações de uma família se encontram bem longe de casa. Em Sintra, na Portugal de hoje, mas com seu clima de outrora, Frankie convoca os que lhe são próximos. Ela está morrendo. Quer colocar um ponto final em histórias pendentes. Ao longo de um dia, 10 personagens vão participar desse acerto de contas. A morte, ainda que onipresente, é quase um detalhe.
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“É um filme sobre doença, sobre alguém cuja vida está terminando, mas o tratamento é muito distante disto. Frankie não é melodramático. A câmera de Ira captou pequenos momentos e os fez grandes. E este, para mim, é o poder do cinema”, afirmou a atriz aos jornalistas em Cannes.
Sachs se mudou com a família para Lisboa, onde permaneceu durante cinco meses para a realização do longa. “Estive em Sintra aos 14 anos, em uma viagem de família. Ali, fiz um diário. Sintra é muito receptiva e acabou se tornando um lugar próximo”, disse o diretor, que trabalhou com um bom número de profissionais portugueses. O diretor de fotografia foi Rui Poças, que esteve em longas brasileiros recentes, como Ferrugem (2018), de Aly Muritiba, As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, e Deserto (ambos de 2017), de Guilherme Weber.
EMOÇÕES “O Rui me falou que esse foi o filme mais difícil que ele já fez. Buscamos filmar sem cortar, para enfatizar as emoções, num estilo mais teatral. A ideia é que o público olhe ator e personagem, vendo o relacionamento entre ambos”, disse Sachs.
Para parte da crítica, Frankie tem a tessitura de um filme do francês Éric Rohmer (1920-2010), ainda que lhe falte algo. “É um filme feito com artesanato perfeito.
O Hollywood Reporter destacou que “a principal força do roteiro de Sachs e de Mauricio Zacharias é a decisão de abster-se de grandes discursos e deixar que as intenções de Frankie, bem como seu estado de espírito, sejam, em sua maioria, concluídas com poucos comentários.”
Já o The Guardian não poupou a produção. “Trata-se de uma produção multinacional inexpressiva, sem sentido, de ação variável, situada na pitoresca cidade portuguesa de Sintra – que é bastante bonita, mas sem um toque especial. Frankie parece nada mais do que um daqueles filmes de Woody Allen em um ambiente turístico de luxo, apenas com ainda menos possibilidade – na verdade, nenhuma – de qualquer risada. E também não há possibilidade de nada muito sério.”
Documentário brasileiro em seção temática LGBT
Seios expostos, bandeira LGBT em uma das mãos e um megafone na outra, a ativista transexual Indianara protagoniza, em Cannes, um documentário sobre sua luta pela causa no Brasil.
Apresentado na seção de cinema independente ACID, Indianara acompanha a trajetória da carismática ativista carioca em sua militância e também em sua vida pessoal, ao lado do marido.
Os diretores do filme, a francesa Aude Chevalier-Beaumel e o brasileiro Marcelo Barbosa, descobriram-na em uma manifestação, quando ela citou os quase 200 transsexuais mortos em um ano. Aquela imagem os impactou.
Os cineastas admitem que, no início, Indianara, de 48 anos, não estava convencida a participar do projeto, mas eles o viam como uma “emergência”. “Ela estava cansada, física e mentalmente. Ela já não se via na luta por muito mais tempo”, afirmou Barbosa. A perseverança dos cineastas finalmente fez a ativista aceitar, especialmente porque ela sabia que sua vida poderia se tornar um “exemplo para as próximas gerações”.
As filmagens foram feitas ao longo de dois anos, entre as manifestações contra o ex-presidente Michel Temer, em 2016, e as eleições presidenciais de 2018, que levaram Jair Bolsonaro ao poder. Durante esse período, filmaram os violentos protestos contra Temer, reuniões de militantes e, sobretudo, a Casa Nem, uma residência ocupada no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, que acolhia principalmente membros LGTB em situação de vulnerabilidade e da qual Indianara foi uma das criadoras.
A luta de Indianara para defender as minorias é refletida em seu corpo. Um “museu-corpo”, diz Chevalier-Beaumel.
AMEAÇA Em 14 de março de 2018, tudo mudou. A vereadora negra Marielle Franco, que lutava pelos direitos dos negros, das mulheres e da comunidade LGBT, foi morta a tiros no Centro do Rio de Janeiro. Foi um duro golpe para o país e também para Indianara. “Ela também se sentiu ameaçada, pensando que seria a próxima”, diz Chevalier-Beaumel.
A ativista instalou em sua casa um sistema de câmeras de segurança. “Mas ela não deixa de andar na rua, não deixa de ir às manifestações, não deixa de sair à noite”, esclarece a diretora. “Não quer que isso mude sua rotina”.
O documentário também mostra o cotidiano da militante transexual com seu parceiro, Maurício, um ex-militar conservador e muito católico. Apesar das diferenças abismais que os separam, eles se amam, dizem os cineastas. Esta relação particular pode representar uma “mensagem de esperança”, de que existe um “diálogo possível” em uma sociedade totalmente dividida após o triunfo de Bolsonaro.
O filme concorre à Queer Palm, que premia o melhor filme com tema LGBT.
Para os diretores, a ativista virou a página desses fatos, que, segundo eles, também aconteceram numa tentativa de proteger pessoas com problemas.
Hollywood seduz Cannes
Brad Pitt, Leonardo DiCaprio, Quentin Tarantino e Margot Robbie protagonizaram o grande acontecimento de ontem em Cannes, na estreia de Era uma vez em Hollywood, que disputa a Palma de Ouro. Com 2h45 minutos, filmado em 35mm, o longa é ambientado em Los Angeles em 1969 e conta a história de Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), astro de westerns da TV, de seu dublê nas cenas de ação Cliff Booth (Brad Pitt), e de sua vizinha, a atriz Sharon Tate.
Tarantino lançou ontem o trailer do filme, mas pediu à plateia de Cannes que não divulgue spoilers. “Eu amo o cinema. Você ama o cinema. É a jornada de descobrir uma história pela primeira vez. O elenco e a equipe trabalharam duro para criar algo original e peço apenas que todos evitem revelar qualquer coisa que impediria futuros espectadores de viver a mesma experiência com o filme.”
A primeira reação da maioria dos críticos logo após a sessão foi um grande aplauso ao longa, comparado por muitos a Pulp fiction. “Brilhante”, disse Peter Bradshaw, do diário britânico The Guardian..