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Histórias 'de quem não é notícia' embasam documentário de cineasta mineiro

"Um filme que busca restituir a intimidade das pessoas e atingir a essência existencial de cada um de seus personagens". Assim o diretor Marcos Pimentel define seu documentário 'A parte do mundo que me pertence', em cartaz no Cine Belas Artes 3. As aspirações e expectativas das pessoas ‘fisgadas’ pelo cineasta são mostradas no filme, que apresenta nove relatos. “São pequenas histórias da vida cotidiana de diferentes personagens, que têm rotinas simples, anônimos que geralmente não são notícias”, explica.

Mineiro, Pimentel ressalta que o desafio era mergulhar no universo individual. “Um íntimo e inspirado mosaico de sons e imagens, que revela que parte da grandeza do ser humano reside exatamente nas sutilezas de seus pequenos gestos. Na realidade, é um documentário sobre sonhos e desejos de pessoas comuns. Ele tem como matéria-prima os anseios de vidas cotidianas. Por exemplo, um garoto de periferia que adora pipas, uma adolescente que sonha se tornar bailarina, uma enfermeira que queria se casar...”.

Esse cotidiano foi filmado há cerca de cinco anos e a curiosidade agora é ver como estes personagens estão, se conseguiram realizar seus sonhos.
“Há também um trabalhador que quer melhorar sua casa, uma jovem que quer ser musicista, um lutador de jiu-jítsu que sonha ser cantor de rap, um aposentado que se realiza dançando em gafieiras, uma mulher que busca companhia, e uma idosa que espera ter saúde no tempo que ainda lhe resta de vida”, esclarece Pimentel.

Os trabalhos duraram cinco semanas. “Estou muito curioso para para ver como os personagens estão em outro momento de vida. Espero que tenham conseguido realizar seus sonhos. Escolhemos desejos que representassem a maior parte das pessoas, como subir na vida, emagrecer, ser amado, casar, melhorar a casa, algo nesse sentido. De alguma forma, todos querem dar voos mais altos”, acredita Pimentel. “É um filme que fala sobre o valor das pequenas coisas e mostra que as ações mais ordinárias podem revelar as profundas dimensões da realidade.”

Ele acredita que sonhar é combustível fundamental para a evolução pessoal. “Precisamos valorizar e respeitar o sonho de cada um.
A gente acaba não julgando o tamanho nem a relevância dos desejos. No caso, respeitamos muito e começamos a seguir esses personagens, que são pessoas da cidade”, ressalta Pimentel. “O filme visita diversas realidades que convivem em harmonia no espaço urbano e acaba por revelar como a cidade, palco da satisfação de desejos, atua na esfera íntima de seus habitantes mais comuns e corriqueiros.”

Uma das personagens de A parte do mundo que me pertence, Angélica Ferreira, de 44 anos, conta que o seu sonho era se casar. “Estava noiva naquela época e, naturalmente, pensava em me casar. Hoje, sete anos após a minha participação no filme, namoro outra pessoa e já estamos fazendo planos para nos casar, sonho que ainda mantenho e quero vê-lo realizado”, conta a enfermeira. “A minha participação teve filmagens em minha casa, no meu dia a dia, como ida à academia, na qual malhava na época, na minha ida ao médico, enfim, coisas do meu cotidiano.”

Ela conta que foi ao Cine Belas artes na noite de quinta-feira (16), quando se encontrou com o diretor e alguns personagens que participaram das filmagens também. “Foi muito bom. Conversamos muito, assistimos ao filme, lembramos das filmagens, foi bem legal.
Assim como eles, gostei de ter participado”, ressalta Angélica, natural de Belo Horizonte, onde foi filmado o documentário.

Novo filme

Um novo documentário vem sendo filmado por ele. “Saudade mostra como as pessoas expressam seus sentimentos de falta e distância, isso na língua portuguesa. Já filmamos em Portugal, Cabo Verde, Brasil e agora vamos para Angola e Moçambique. Tenho um personagem em cada lugar. Pessoas que estão longe do Brasil, morando ou moraram fora, que estejam ou criaram estratégias para deixar de sentir a falta ao deixar o país de origem.”

“Muitas pessoas que moram fora acabam criando o mundinho delas, escutando músicas brasileiras, comendo comidas típicas, coisas deste tipo... Alguns acabam até reproduzindo a casa onde morava no Brasil, ou seja, constroem um pequeno ‘brasilsinho’, fazendo questão de manter a tradição, a paisagem do país onde nasceu... São lugares fantasiosos que carregamos em nossa memória”, acredita o cineasta.

A PARTE DO MUNDO QUE ME PERTENCE

Documentário de Marcos Pimentel, 88 minutos. De segunda (20) a quarta-feira (22), 19h20. Cine Belas Artes, Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes, 3273-3229. R$ 18 (inteira, segunda e terça) e R$ 16 (inteira, quarta-feira).
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